Voto em Buenos Aires é teste para Cristina Kirchner
A panfletagem fracassou. "Está difícil, ninguém aceita receber propaganda política", disse o estudante Juan Gómez, militante voluntário.
É num clima de despolitização e enfado --refletido em toda a cidade e na campanha dos candidatos-- que os portenhos vão às urnas hoje para escolher o chefe do governo de Buenos Aires.
O atual prefeito, Mauricio Macri, é o favorito. Empresário milionário e ex-presidente do Boca Juniors, ele despontou nos últimos dois anos como um dos principais opositores do kirchnerismo.
Conservador, Macri lutava até dois meses atrás para se candidatar às eleições presidenciais de outubro.
Desistiu de enfrentar Cristina Kirchner diante da alta popularidade da presidente --favorita para ser reeleita--, e pela falta de capilaridade política de seu partido, o PRO, sem relevo nacional.
Apesar do favoritismo de Macri, todas as pesquisas indicam que a disputa em Buenos Aires será decidida no segundo turno, no dia 31.
Seu principal rival é Daniel Filmus, senador kirchnerista do Partido Justicialista, escolhido por Cristina Kirchner.
Em terceiro nas pesquisas aparece Fernando "Pino" Solanas, deputado federal e diretor de cinema que no Brasil poderia ser identificado com um candidato do Psol.
Uma das causas do desânimo da população portenha é que a eleição de hoje é um "déjà-vu" de quatro anos atrás, quanto Macri e Filmus também se enfrentaram.
"A população não tem interesse pela política há muito tempo. Há uma decepção enorme", afirma o analista Sérgio Berensztein, diretor do instituto Poliarquia.
O reflexo foi uma campanha política curta, sem emoção e distante da população.
Para o kirchnerismo, será o primeiro grande teste nas urnas. O processo eleitoral na Argentina começou em março, com eleições em províncias pequenas que, juntas, não reúnem 10% dos 28 milhões de eleitores do país.
Buenos Aires concentra quase 10% dos votantes, com 2,4 milhões de eleitores.
E a ampla maioria vota historicamente contra o peronismo --movimento político de onde nasceu o kirchnerismo.
"O peronismo ganha onde há menos educação e espírito crítico, aspectos marcantes da população de Buenos Aires", diz o cientista político Ricardo Sidicaro.
"Nem quando Perón estava no auge do poder ele conseguiu vencer em Buenos Aires". O desafio do kirchnerismo será reverter o histórico dos portenhos de votar contra a tendência nacional.
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