Trânsito em Cuiabá faz 171 vítimas em 6 meses
Cento e setenta e uma pessoas morreram em acidentes de trânsito em Cuiabá e Várzea Grande nos primeiros 6 meses deste ano, conforme os registros do Instituto de Medicina Legal (IML). A violência das ruas também foi responsável por 3.471 atendimentos no Hospital e Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (HPSMC) no mesmo período. Dados da instituição mostram ainda que 60% dos leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) são ocupados pelos acidentados. Para a Polícia, grande parte das ocorrências acontece devido à imprudência e falta de atenção dos condutores.
O comandante do Batalhão de Trânsito de Cuiabá, coronel Wilson Batista, explica que um dos problemas mais frequentes é o excesso de velocidade. Existem campanhas e informação, mas os motoristas tomam atitudes perigosas, assumindo o risco.
Equipamentos eletrônicos como semáforos inteligentes, que fotografam a invasão da faixa de pedestre quando o sinal fica vermelho, bem como o não respeito às sinalizações, podem ajudar a fiscalização, porém não são implantados.
A Polícia também não tem equipamentos que comprovem o excesso de velocidade na pista e não há radares distribuídos pela cidade, facilitando a vida do infrator.
Outro ponto citado pelo coronel é a imprudência das pessoas com relação ao uso do celular quando estão no volante e a não utilização do cinto de segurança, que pode salvar vida em caso de colisão.
No primeiro semestre deste ano, a Polícia Militar aplicou 23.329 notificações em Cuiabá, sendo que em todo o ano passado foram 18,9 mil.
O crescimento, na opinião do comandante, tem relação com o aumento da fiscalização e também do número de carros na cidade. Ele explica que o trânsito está cada vez mais denso e nos horários de pico estão concentrados os acidentes sem vítimas, que chegaram a 3.364 de janeiro a junho de 2011.
A imperícia dos motoristas é tida como um dos motivos de acidentes. Batista fala que a legislação precisa rever a quantidade de aulas práticas obrigatórias. Segundo ele, os monitores preparam os aprendizes para os testes, que possuem obstáculos fixos.
Candidatos a condutores sabem fazer exatamente o que o avaliador vai observar e não estão preparados para situações adversas que encontrarão em um trânsito, cheio de carências e extremamente dinâmico, o que o torna imprevisível.
O delegado Vaite Eugênio de Oliveira explica que nos finais de semana a embriaguez é destaque entre os acidentes, que acontecem geralmente nos períodos de pouco trânsito, que permite velocidades maiores.
Quem atropelar e matar alguém no trânsito, lembra o delegado, pode responder pelo crime de homicídio culposo, que tem pena entre 2 e 4 anos, além de ser penalizado na esfera civil. Em alguns casos, pode ser condenado a pagar pensão vitalícia à família da vítima.
Enquanto foram registrados 3.364 acidentes sem vítimas na cidade, nas estradas da Baixada Cuiabana, o número foi de 67. O comandante analisa que existe uma diferença entre o motorista que pega a estrada e o que fica na área urbana. Normalmente, eles são mais atentos e prepararam-se para fazer o percurso. As características do trajeto também são diferentes e o riscos são maiores, o que aumenta a atenção do condutor.
Saúde - O secretário adjunto de Saúde de Cuiabá, Euze Carvalho, afirma que os acidentes são muito onerosos para o Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com um levantamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), entre 2004 e 2010, foi gasto R$ 1 bilhão em consequência da violência no trânsito. A estimativa envolve socorro, danos a veículos, atendimento hospitalar e previdência social.
Euze Carvalho explica que o número de atendimento de acidentados, principalmente motociclistas, aumentou muito e a maior parte das cirurgias de urgência e emergência são com vítimas de acidentes. A cirurgia é o primeiro passo, já que a pessoa ainda vai passar por cirurgias complementares, ou eletivas, além de fisioterapia e demais cuidados médicos por meses.
Além do gasto com procedimentos, existe um gasto relacionado com questões trabalhistas. Geralmente, os pacientes atuam no mercado e precisam ficar afastados e, em casos extremos, serem aposentados devido às sequelas.
Carvalho ressalta que o Município precisa construir mais leitos, porém há necessidade de mais conscientização dos motoristas e fiscalização. Assim, o número de acidentados e de pessoas que ficam à espera de cirurgia ortopédica vão diminuir.
Família - A agente administrativa Luciana Vicentin, 36, é tia de Marcos Paulo de Oliveira, 20, que morreu após colidir com um poste na avenida Miguel Sutil esta semana. Ele estava pilotando uma moto de 250 cilindradas, que tinha comprado há 6 meses. Ela conta que o sobrinho morreu devido à imprudência, somada com a fatalidade.
Marcos estava em um racha (competição de velocidade) com um amigo. Um carro parou no meio da pista e o "concorrente" dele precisou desviar e bateu no guidão da moto, fazendo ele perder o controle. O acidente aconteceu na terça-feira (5) e desde então, a avó da vítima e a tia, que foi avalista na compra, estão em estado de choque.
Luciana conta que Marcos foi criado pela avó e sempre foi um bom menino. Trabalhava, estudava e não tinha nenhum vício. O único defeito dele era a paixão pela velocidade, que o levou à morte.
Na infância, sempre mostrou que gostava de motos, o que sempre trouxe preocupação para a família. Quando a moto chegou na casa, a mãe de Luciana, que tem 65 anos, passou a ter insônia. Ela só dormia quando o rapaz chegava.
No dia do acidente, os amigos foram até a casa dele para chamá-lo para sair e algumas horas depois, ligaram para informar a tragédia. A avó e a tia de Marcos estão sob efeito de remédios. Elas não se conformam com a situação. Luciana diz que a família tem consciência da imprudência do rapaz e pede que a população tenha cuidado, porque o ente querido morre e o sofrimento fica.
Ela alerta principalmente os jovens que acreditam que nada acontece com eles. "A coragem desmedida acaba aumentando o índice de acidentes na faixa etária".
Outro lado - O procurador do Município, Fernando Biral, informou que o edital para instalação dos radares está concluído, mas o prefeito, Francisco Galindo, está em discussão com o Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit) para saber qual melhor tipo de equipamento para ser instalado em Cuiabá. O órgão federal também vai instalar o equipamento nas rodovias federais do Estado.
Comentários