Em carta, Fruet critica "constrangedor silêncio" no PSDB
Fruet se desfiliou nesta quarta-feira, depois de afirmar que "o PSDB fechou todas as portas" para ele. Na carta, ele revela sua insatisfação com o presidente do PSDB paranaense e governador do Estado, Beto Richa.
Lúcio Távora - 16.jan.07/Folhapress |
Ex-deputado Gustavo Fruet, que anunciou na quarta-feira sua desfiliação ao PSDB para disputar a Prefeitura de Curitiba |
Segundo Fruet, a promessa de que ele seria presidente do diretório municipal e concorreria à Prefeitura de Curitiba não se cumpriu. O agora ex-tucano deve migrar para o PDT, segundo informou o "Painel" da Folha nesta quarta-feira.
Leia a íntegra da carta:
"Comunico a Vossa Excelência e ao PSDB o meu desligamento do partido. A decisão, tomada com tristeza após meses de conversações internas infrutíferas e muita reflexão, foi movida por sentimento de profunda incompreensão com o silêncio e a falta de clareza da direção do partido na capital, especialmente quanto à participação na sucessão municipal de Curitiba nas eleições de 2012.
É de conhecimento público a disposição já manifestada há anos por mim de disputar a eleição municipal e ter a honra de ser prefeito da minha cidade, inclusive em 2004, quando o apoiei para a Prefeitura da capital, onde nasci e construí minha carreira política --como vereador, deputado federal por três mandatos e, por fim, como candidato a senador, obtendo com muito orgulho dos curitibanos sempre as melhores votações. A enorme honra de ser prefeito de Curitiba se potencializaria diante da lembrança de meu pai, Maurício Fruet, que também deveu aos curitibanos sucessivas eleições parlamentares.
Na sequência das eleições de 2010, que o levaram ao governo estadual, entendi ter chegado a hora certa para disputar a eleição municipal. Fui estimulado a trabalhar pela construção dessa ideia principalmente ao participar, ao seu lado, da chapa majoritária, como candidato a senador. As urnas não me deram a vitória, mas colocaram-me outra vez na posição legítima de buscar a prefeitura: lutando contra forças políticas poderosas, fui prestigiado pelo voto de 646 mil curitibanos, assegurando o primeiro lugar na capital.
É bom lembrar que aceitei a candidatura ao Senado convocado no prazo final da convenção partidária, mesmo depois de ter essa postulação recusada pelo PSDB, convite que só foi feito quando outra candidatura, de outro partido, não vingou --e abrindo mão da candidatura à reeleição de deputado federal. Tudo em nome da unidade e de um projeto que, vitorioso no plano estadual --dando ao PSDB do Paraná um papel de relevo no cenário do país--, teria como consequência natural o desdobramento na esfera municipal, com vistas ao seu fortalecimento ainda maior.
Não exigi cargos nem estrutura. Pedi e recebi seu compromisso e de lideranças partidárias para assumir o comando do partido na capital, como um reinício após 12 anos no Congresso Nacional --e como instrumento para debater o futuro da cidade e o projeto do PSDB para Curitiba. Entretanto, estabeleceu-se um constrangedor silêncio sobre o tema e multiplicaram-se evidências --públicas e em particular-- de que o partido, por decisão sua, preferia outro caminho, fora do PSDB, que abdicou de debater um projeto para a cidade e de uma candidatura própria. Não a candidatura de uma legenda secundária, de um partido satélite, mas de um partido importante na política nacional --o PSDB, pelo qual sempre trabalhei muito. É o natural e salutar contraponto na democracia. Afinal, para que oposição?
Tenho sido convocado por grandes correntes de opinião popular, independentemente de preferências partidárias, a ser instrumento do crescente desejo de mudança e da consolidação do projeto inovador de Curitiba. A omissão, a passividade e o conformismo são tão ou mais graves na política do que eventual crítica por vontade pessoal. Tal vontade só admite críticas e carece de legitimidade quando impulsionada por interesses escusos. A vontade que me move foi construída sobre a certeza de que posso contribuir --e em especial sobre o apoio de centenas de milhares de curitibanos que ao longo dos anos vêm me confiando seus votos.
Para auxiliar e influenciar na vida pública é preciso atitude, ousadia. Assumir riscos! E, por isso, esgotadas as possibilidades de manter-me no PSDB, vou às ruas para debater e construir projetos e planos. Vou ao encontro do futuro! Estarei também atendendo à voz das ruas que, inegavelmente, clama pela renovação na administração da cidade. Fechou-se um ciclo na política estadual. E esta tendência irá refletir-se nas eleições municipais. São claros os motivos pelos quais cresce esse desejo de mudança. Há evidência de que é necessário um novo ciclo na gestão da capital, superado um modelo de desenvolvimento urbano adotado para Curitiba já há quase meio século. Uma cidade inovadora, criativa, pioneira. Na vanguarda!
Sei que o povo de Curitiba entenderá meu gesto. Saio do PSDB sem mágoas. Deixo no partido amigos que me honraram com apoio, prestígio e ensinamentos. Cito o ex-ministro Euclides Scalco; os líderes João Almeida, Alberto Goldman e José Aníbal; os presidentes Tasso Jereissati e Sérgio Guerra; os governadores José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin; o presidente do Instituto Teotônio Vilela Luiz Paulo Vellozo Lucas; os conterrâneos Álvaro Dias, Luiz Carlos Hauly, Alfredo Kaefer e Flávio Arns; a equipe do PSDB na Câmara dos Deputados; lideranças e militantes de todo o país sempre presentes nos momentos mais desafiadores da política nacional, em especial, na eleição para a Presidência da Câmara em 2007 e nas CPIs. Registro homenagem aos fundadores do ideal da social-democracia que, pelas mãos do Presidente Fernando Henrique Cardoso e de D. Ruth Cardoso, garantiram a estabilidade política e econômica do país e lhe abriram as portas para o desenvolvimento sustentado, que caminha para a consolidação.
Saio com a consciência tranquila de quem serviu com dignidade e fidelidade à consciência, ao país e ao PSDB. Como diz Fernando Pessoa: "Cumpri contra o destino o meu dever. Inutilmente? Não, porque o cumpri."
Infelizmente, não há cultura e tradição partidária que tornem a política --sem ingenuidade, uma atividade brutalizada e com muita dissimulação-- um espaço de convergência e previsibilidade. Por isso que a cada eleição prevalece o pragmatismo e interesses locais. Por vezes, escusos e nem sempre transparentes! A estes não me submeto, ainda que seja levado pelas circunstâncias a trilhar um novo caminho, que sei que não será fácil. Agradeço a todos que ajudaram nesta trajetória. Sigo um novo caminho. Vamos em frente! Nada de parar!"
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