Desfibrilação mais suave é eficaz, diz estudo internacional
Além de tornar os aparelhos mais leves e baratos, isso reduziria a dor que os pacientes sentem quando passam pelo procedimento.
"Alguns pacientes comparam a dor ao coice de um cavalo no peito", disse à Folha o físico Flavio Fenton, da Universidade Cornell (EUA), um dos envolvidos no trabalho.
A nova técnica, testada em cães, usa cinco pulsos de energia leve em sequência --uma redução de energia de 84% em relação ao padrão.
Os desfibriladores, usados desde a década de 1950, funcionam pela aplicação de cerca de mil volts de energia elétrica para o exterior do peito em emergências médicas, como uma parada cardíaca.
Em conjunto com cardiologistas e fisiologistas, Fenton e o físico Stefan Luther, do Instituto Max Planck de Dinâmica e Auto-Organização, descobriram que os vasos sanguíneos do coração geravam padrões espaciais de correntes elétricas e poderiam ser usados para criar "eletrodos virtuais" que ampliam a tensão aplicada a ele.
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BOMBEANDO
O coração bombeia o sangue por meio de ondas de propagação de contrações musculares geradas por impulsos elétricos que viajam dos átrios para os ventrículos.
Os pesquisadores basearam o trabalho em estudos que mostram que a natureza heterogênea do tecido cardíaco --que consiste em músculo, vasos sanguíneos e tecido adiposo-- pode afetar a força e direção da corrente quando um campo elétrico é aplicado no órgão.
Os pesquisadores induziram arritmias em partes isoladas dos átrios e ventrículos dos cães e usaram corantes ópticos para traçar as ondas elétricas que elas geraram.
Eles, então, obtiveram imagens do tecido arterial e quantificaram como sua estrutura mudou o fluxo de corrente. Ao ajustar a intensidade do campo elétrico aplicado, puderam afetar o número de ondas emitidas em lugares distintos, ajudando a deter as arritmias.
"O conceito do estudo foi desenvolver um sistema de estímulo em diversos lados do coração", disse Luther.
"Diferentemente do choque único, o sistema é estimulado pulso a pulso, aumentando a sincronização, até retomar o ritmo normal", explicou Luther.
Fenton disse que a voltagem que a técnica requer deve ser igual ou abaixo do que os pesquisadores acreditam que é o limiar de dor de choques elétricos, mas acha que pode ser possível otimizar ainda mais os eletrodos virtuais para reduzir a tensão.
Os pesquisadores informaram que experimentos preliminares mostraram resultados positivos e que estão realizando estudos mais extensos para um dia testar a técnica em humanos. "Mas ainda precisamos demonstrar que é 100% seguro", afirmou Fenton.
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