Irlanda convoca embaixador do Vaticano sobre relatório de pedofilia
O vice-premiê e ministro do Exterior irlandês, Eamon Gilmore, disse ter pedido que o Vaticano explique formalmente o que ele chamou de "intervenção inapropriada" nas leis da Irlanda.
Gilmore deu a declaração a jornalistas depois de uma reunião com o núncio apostólico da Irlanda, arcebispo Giuseppe Leanza, para discutir as conclusões do quarto relatório a respeito do acobertamento de casos de pedofilia pelo clero irlandês, divulgado nesta quarta-feira.
O relatório aponta que o Vaticano apoiou a diocese do condado irlandês de Cork, ao ignorar as próprias orientações da Igreja da Irlanda a respeito de proteção à criança, e que muitos casos de abuso infantil não foram denunciados à polícia.
CARTA
Uma carta divulgada pela rede de TV irlandesa RTE aponta que um departamento interno do Vaticano, a Congregação para o Clero, aconselhou os bispos irlandeses.
A carta mostrou que as autoridades do Vaticano rejeitaram, em 1997, a ideia de iniciar um processo de "denúncias obrigatórias" a partir de queixas de abusos contra menores.
Datada de janeiro de 1997, a carta é assinada pelo arcebispo Luciano Storero, já morto, que era representante-chefe do então papa João Paulo 2º para a Irlanda.
O documento foi escrito um ano depois que um comitê de bispos irlandeses elaborou novas políticas que sugeriam que fossem "obrigatórias" as denúncias à polícia caso houvesse suspeitas de abusos.
O documento, redigido pela Congregação para o Clero, diz que o órgão do Vaticano havia estudado as novas políticas irlandesas, mas enfatizava que essas políticas "necessitam estar em conformidade com as normas canônicas em vigor".
"A [política de] "denúncias obrigatórias" dá margem a ressalvas sérias de natureza moral e canônica", escreveu Storero.
Na época da divulgação da carta, a emissora irlandesa afirmou ter recebido o documento de um bispo.
O Vaticano alegou que o documento dizia respeito a uma abordagem específica e já ultrapassada da Congregação para o Clero.
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