Ciclo de Formação registra casos de superação na aprendizagem em MT
Débora Pereira da Silva estuda desde a primeira fase do primeiro ciclo (pré-escola) na Escola Estadual Nadir de Oliveira, em Várzea Grande. Atualmente, com 09 anos de idade ela frequenta as aulas da primeira fase do segundo ciclo. Apesar de já ter concluído o primeiro ciclo, ela ainda tem dificuldades para ler e escrever.
Para superar os problemas de aprendizagem e conseguir acompanhar a turma, Débora participa desde o início deste ano todas as terças-feiras pela manhã, das aulas da professora articuladora, Marilene Paranhos. A figura do professor articulador integra o trabalho pedagógico do ciclo de formação humana adotado em todas as escolas da rede estadual de educação de Mato Grosso, desde 2005.
“Trabalho com a Débora desde quando ela entrou na Escola, e infelizmente por faltar muito as aulas ela sempre teve dificuldade de acompanhar o ritmo da turma. Passamos pelas três fases do primeiro ciclo e já estamos no segundo e ainda não conseguimos produzir sua alfabetização. Porém, com o trabalho de articulação esse quadro está mudando”, contou a professora regente da primeira fase do segundo ciclo, Marilza Silva.
Marilene Paranhos que é a responsável pelo trabalho de articulação com os alunos do segundo ciclo na escola, relata que a estudante integra um total de 30 alunos da unidade, que recebe acompanhamento individual. “Começamos a trabalhar o reconhecimento das letras e a formação das sílabas por meio de jogos e atividades lúdicas para despertar o interesse dela pelas palavras; também trabalhamos com a escrita e hoje ela já consegue formar palavras”, disse.
Para a estudante, a participação nas aulas tem contribuído também para superar a timidez e facilitar a aprendizagem. “Na sala de superação a professora nos ajuda” de forma individualizada. “Fica mais fácil para aprender”, conta a garota. Segundo Marilza Silva, a aluna já está tendo facilidades inclusive no relacionamento com os outros alunos de sua sala. “Agora que já está conseguindo acompanhar a turma, ela está mais aberta à socialização”, disse.
EXEMPLO E TRABALHO
O exemplo positivo de Débora da Silva é um, dentre vários relatos encontrados nas escolas do Estado referente ao trabalho de alfabetização proposto pelo ciclo de formação humana. “Temos 380 alunos cursando as nove fases dos três ciclos. E nossa professora articuladora trabalha com os alunos do último ano do segundo ciclo e com os que estão no terceiro ciclo”, contou a diretora da Escola Estadual Rui Barbosa, da cidade de Nova Mutum (239 km de Cuiabá), Geni Godiemski.
Ela conta que a aulas de articulação acontecem no contra turno das atividades regulares. Os alunos que estão com dificuldades para acompanhar suas respectivas turmas são encaminhados pelos professores regentes para as aulas de articulação. “As maiores dificuldades nessa fase do ciclo são de interpretação e produção de textos, além da matemática básica”, disse.
BENEFÍCIOS
As professoras da Escola Nadir de Oliveira, Marilene Paranhos, Marilza Silva e Maria Auxiliadora Coelho que atua como multi-meios na escola, auxiliando o trabalho da articuladoras no que tange a leitura, são unânimes em afirmar que o ciclo contribuiu para uma melhor formação dos estudantes.
A diretora da escola Rui Barbosa corrobora as palavras das três educadoras ao afirmar que para o desenvolvimento dessa modalidade pedagógica, os profissionais têm que trabalhar de maneira integrada. “Os professores regentes, os articuladores bem como a direção e coordenação da escola tem que atuar em conjunto no acompanhamento da aprendizagem dos alunos”, afirmou.
Marilza Silva reforça que devido ao fato das turmas serem formadas por alunos da mesma faixa etária, o aprendizado se dá com mais facilidade. “Até mesmo pelo lado psicológico fica mais fácil para os estudantes porque antes (na escola seriada) tínhamos alunos com 16 anos de idade estudando com crianças de 11 e 12. Naturalmente esses adolescentes com defasagem de aprendizado tinham problemas de relacionamento e desinteresse pelos estudos por estarem atrasados”, disse.
Para a coordenadora do Ensino Fundamental, ligada a Superintendência de Educação Básica da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Criseida Zambotto de Lima, o fato de não reter os alunos é um avanço alcançado via ciclo. “Os alunos que possuem problemas de aprendizagem precisam de acompanhamento individual para superarem suas dificuldades. Com as aulas de articulação eles podem acompanhar o restante da turma que possui sua mesma faixa etária, sem a necessidade de reprovação, que promove desestimulo”, afirmou.
De acordo com Criseida, as salas de superação, educação continuada, precisam voltar para a realidade da nossa rede educacional do Estado e informou que a Seduc tem se empenhado para sanar a demanda.
As professoras da Nadir de Oliveira explicam que somente os professores articuladores não conseguem cumprir com o objetivo formativo do ciclo, porque existem muitos alunos com defasagem de fase. “Por exemplo, aqui na escola tem muitos estudantes com 13, 14 anos que estão nas últimas fases do ciclo e próximos de irem para o ensino médio, mas que ainda possuem dificuldades para ler e escrever. Eles deveriam estudar nas salas de superação, porque não podemos voltá-los para as primeiras fases do ciclo”, explicou.
A diretora da escola Rui Barbosa também relata que há necessidade de mais formação continuada para os professores, para que eles entendam a importância do trabalho interdisciplinar no ciclo. “Ainda existe alguns professores que possuem a mentalidade da escola em série que privilegiava mais o conteúdo do que a formação do aluno. Com os ciclos o conteúdo tem que ser integrado e voltado para a realidade dos estudantes” disse.
Para o aperfeiçoamento dos professores, a Seduc possui 15 Centros de Formação e Atualização dos Professores (CEFAPRO) que tem como meta ofertar formação continuada aos profissionais da Educação do Estado.
Comentários