Nilton de Brito teria facilitado contrato de RS 26 milhões para o irmão; ele é indicação de Pagot
Irmão de chefe do DNIT em MT é beneficiado com obras
O jornal Folha de S.Paulo, em sua edição de hoje (19), traz uma reportagem que revela que o irmão do superintende do DNIT em Mato Grosso, Nilton de Brito, tem contratos da ordem de R$ 26 milhões com o órgão. A empreiteira é a Engeponte Construções.
Confira a íntegra da reportagem do jornalista Rubens Valente, da Folha:
A empreiteira do irmão do superintendente do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em Mato Grosso fechou contratos de R$ 26 milhões com o órgão, nos últimos dois anos, para obras em rodovias federais que cortam o Estado.
Homem de confiança do diretor-geral do DNIT, Luiz Antonio Pagot, Nilton de Brito foi nomeado para a superintendência em 2010. Já havia ocupado outros cargos no órgão em Brasília.
Em entrevista ontem à Folha, o dono da Engeponte Construções, Milton de Brito, negou favorecimento e disse que pediu ao irmão que deixe a superintendência do DNIT. "Eu falei para ele: "Pede demissão já. Vem trabalhar comigo"", afirmou.
O empresário Milton de Brito ainda informou ser sócio do irmão em outra empresa, a Construtora Tocantins, responsável por erguer cerca de 850 moradias pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida.
Minutos depois, Milton se corrigiu, dizendo que Nilton, ao entrar no DNIT em 2008, repassou as cotas da Tocantins para a sua mulher.
Contratos
Em 2009, o DNIT contratou a Engeponte por R$ 10 milhões para a construção de quatro pontes na rodovia BR-158. Nilton era coordenador-geral de desenvolvimento de projetos da direção-geral do órgão, em Brasília.
Por esse contrato, a empresa recebeu R$ 9 milhões entre 2010 e 2011.
No ano passado, quando Nilton já ocupava a superintendência do Dnit em Mato Grosso, a Engeponte montou consórcio com a Constil e assinou novo contrato de R$ 41 milhões com o órgão federal para a pavimentação de 48 quilômetros da rodovia BR-242, no Norte de MT.
Pelas regras do consórcio, a Engeponte ficará com 40% do valor do contrato, ou cerca de R$ 16 milhões.
Os dois contratos foram assinados após licitação. À Folha o dono da Engeponte reconheceu que a empresa, que existe desde 2002, não manteve nenhum contrato com o Dnit antes de 2009.
Relacionamento
Quando Pagot atuou no Governo de Mato Grosso, na gestão do padrinho político e atual senador Blairo Maggi (PR-MT), Nilton de Brito foi seu braço direito e ocupou o cargo de superintendente de Obras da Secretaria de Infraestrutura.
Na semana passada, uma situação semelhante à dos irmãos Brito resultou na destituição do diretor-geral interino no órgão, José Henrique Coelho Sadok de Sá.
A Construtora Araújo, que pertence à mulher dele, fechou contratos de R$ 18 milhões para obras de rodovias em Roraima.
Outro lado
O superintendente do DNIT em Mato Grosso, Nilton de Brito, disse que "não pode impedir" seu irmão de trabalhar como empreiteiro.
"Ele é engenheiro, tem empresa há muito tempo, já trabalhava com o Dnit, não posso impedi-lo de trabalhar. Eu não tenho vínculo com ele, sou funcionário público."
Brito disse não ter avisado o ministro Paulo Sérgio Passos do fato: "Não vi necessidade". Brito diz que sua mulher declara à Receita a empresa Tocantins, que atua no Minha Casa, Minha Vida.
"Essa empresa nós herdamos de nosso pai. Eu, por força de que sou um servidor, não botei em meu nome, botei em nome de minha esposa. Essa empresa não tem nenhum contrato público, é empresa de incorporação."
O dono da Engeponte, Milton de Brito, diz que o cargo do irmão só o "atrapalha".
"A verdade é a seguinte: eu sempre trabalhei nisso [obras]. Meu irmão pega e aceita cargo. Por mim ele não aceitaria cargo nenhum. Por mim eu queria mais que ele fosse para o olho da rua, porque ele só me atrapalha." Diz que os contratos são pequenos: "Se fosse me locupletar com isso eu deveria ter uns R$ 100 milhões de contrato".
O diretor-geral do DNIT Luiz Antonio Pagot, que nomeou Brito, por duas vezes desligou o telefone quando a Folha tentava lhe fazer perguntas: "Vai ter um momento de falar. Não agora".
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