Foi o pior atentado na Europa Ocidental desde as explosões de 2005 nos transportes públicos de Londres.
A bomba que explodiu na metade da tarde (final da manhã no Brasil) deixou sete mortos e espalhou vidro, reboco e metal retorcido pelas ruas.
Logo depois, um homem fez disparos num acampamento juvenil do partido governista na ilha de Utoeya, a noroeste de Oslo. A polícia disse que pelo menos dez pessoas morreram ao tentar fugir dos tiros na pequena ilha arborizada, que foi desocupada, e onde a polícia encontrou explosivos por detonar.
"Vi os jovens correndo, se atirando na água", relatou Kristine Melby, que vive em frente à ilha, à TV Al Jazeera. "Ouvimos pessoas gritando."
O atirador, um cidadão norueguês de 32 anos, foi preso. Segundo uma emissora de TV norueguesa o homem tem ligações com a extrema direita. O duplo atentado tem algumas características da Al Qaeda, mas analistas sugerem também que militantes de ultradireita podem ser os responsáveis.
"Tenho uma mensagem a quem nos atacou e aos que estão por trás disso", afirmou o premiê, Jens Stoltenberg, numa entrevista coletiva transmitida pela TV. "Nenhuma bomba irá nos silenciar, ninguém vai nos silenciar a tiros."
A explosão que sacudiu o centro de Oslo por volta de 15h30 (10h30 em Brasília) estilhaçou vidros na sede do governo e causou danos também nos ministérios das Finanças e do Petróleo. "As pessoas corriam em pânico", disse a transeunte Kjersti Vedun.
Enquanto a polícia aconselhava as pessoas a deixarem o centro da cidade, aparentemente temendo novos ataques, Stoltenberg dizia ao canal 2 da TV local que a situação era "muito séria". Ele afirmou que a polícia o orientou a não revelar o local de onde estava falando.
"Trata-se de um ataque terrorista. É o fato mais violento a atingir a Noruega desde a Segunda Guerra Mundial", disse o deputado Geir Bekkevold, do Partido Popular Cristão (oposição).
Uma testemunha da Reuters viu soldados assumindo posições em Oslo logo depois da explosão.
No ataque na ilha, o atirador - descrito por um policial como sendo alto e loiro - teria, segundo a imprensa local, se aproveitado da confusão causada pelo atentado a bomba. A ilha atacada recebia um acampamento da juventude do Partido Trabalhista, de Stoltenberg.
"Houve muitos disparos (...). Nós nos escondemos sob uma cama. Foi muito aterrorizante", disse uma jovem no local à TV britânica Sky.
AUTORIA DUVIDOSA
Jakub Godzimirski, pesquisador do instituto de ciências políticas Nupi, disse suspeitar mais de um grupo de ultradireita do que de fundamentalistas islâmicos como autores dos atentados. Grupos direitistas têm crescido na Noruega, aproveitando o debate em torno da imigração.
"Seria muito estranho que militantes islâmicos tivessem um ângulo político local. O ataque contra a reunião da juventude trabalhista sugere outra coisa. Se militantes islâmicos quisessem atacar, teriam colocado uma bomba em um shopping center próximo, e não (atacado a tiros) uma ilha remota."
Sveining Sponheim, subchefe da polícia de Oslo, disse a jornalistas que o atirador de Utoeya se disfarçou de policial, com uma farda azul, mas que nunca foi de fato agente da polícia.
Ele disse que a polícia acredita que o homem pode ter tido envolvimento tanto na explosão da bomba quanto nos disparos.
A Noruega, país integrante da Otan, já havia sofrido ameaças de militantes islâmicos devido ao seu envolvimento nos conflitos do Afeganistão e da Líbia.
O atentado ocorre pouco mais de um ano depois de três homens serem presos sob suspeita de terem ligação com a Al Qaeda e planejarem ataques a alvos na Noruega. Países vizinhos também têm sofrido alertas de segurança - em dezembro, um homem morreu em Estocolmo, capital da Suécia, ao tentar explodir uma bomba; em 2005, a Dinamarca recebeu repetidas ameaças por causa da caricaturas publicadas num jornal local que ironizavam o profeta Maomé.
Em Oslo, o prédio de uma editora que recentemente lançou uma tradução de um livro dinamarquês sobre a polêmica dos cartuns também foi afetado, mas aparentemente não era o alvo principal.
O bairro atacado em Oslo é o coração do poder na Noruega. Mas a segurança ali não costuma ser rigorosa, já que o país não está habituado à violência, e é mais conhecido por conceder o Prêmio Nobel da Paz e por mediar conflitos, inclusive no Oriente Médio e no Sri Lanka.
Um jornalista da Reuters relatou que as ruas estavam bastante tranquilas na hora do atentado - por estar no auge do verão, e principalmente numa sexta-feira, muitos moradores de Oslo estão de férias ou saíram da cidade para o fim de semana.
(Reportagem adicional de Gwladys Fouche, Victoria Klesty, Henrik Stoelen e Ole Petter Skonnord em Oslo, William Maclean em Londres e Patrick Lannin em Estocolmo)
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