Economistas apostam que EUA chegarão a acordo
"Se essa crise estivesse acontecendo em 2000, a simples incerteza já provocaria uma desvalorização do real. Agora estamos num momento diferente", observa o ex-presidente do Banco Central Carlos Geraldo Langoni.
Ele lembra que as reservas internacionais, de US$ 344 bilhões, são um colchão que funciona exatamente para controlar os efeitos de eventuais turbulências no exterior.
Ainda assim, segundo Langoni, "o Brasil não é uma ilha e está vulnerável".
Para o economista, há o risco de o fraco crescimento das economias americana e europeia provocar uma desvalorização das matérias-primas. Como o Brasil é exportador desses produtos, isso resultaria em uma entrada menor de dólares no país, o que levaria o valor do dólar. No entanto, ele acha pouco provável uma forte desvalorização do real.
"Ninguém esperava que chegássemos a esse ponto", avalia o diretor-executivo da agência de classificação de risco Fitch no Brasil, Rafael Guedes. Para ele, o acordo nos EUA será fechado. Do contrário, haverá um custo político muito grande para os dois principais partidos do país.
Guedes observa que o dia D para os Estados Unidos, na verdade, é 4 de agosto, quando vencerão títulos no valor total de US$ 30 bilhões. Ele afirma que é difícil antecipar o que pode acontecer, pois tudo dependerá da forma como os EUA vão enfrentar o problema.
Mesmo assim, Guedes lembra que o Brasil é uma economia bastante fechada, o que funciona como proteção em momentos de crise no exterior. E, mesmo que haja queda dos preços das matérias-primas, em função de um menor crescimento mundial, o Brasil poderá ser compensado com a vinda de recursos de investidores estrangeiros -- que buscarão os mercados mais rentáveis de economias ainda em expansão.
Ao contrário de Langoni, ele vê possibilidade de valorização do real diante da crise dos EUA: "Um dos riscos para o Brasil é uma enxurrada de dólares, porque [o país] será uma das alternativas procuradas pelos investidores", avalia. "Se recebermos 0,5% do total, ainda assim, será muito para o país".
O ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas também acredita na valorização da moeda brasileira se o impasse nos EUA tiver um desfecho negativo.
Na sua opinião, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vai manter juros baixos por mais tempo na tentativa de compensar a falta de estímulo fiscal à economia. Além disso, Thadeu acredita que o Fed vai voltar a injetar liquidez na economia recomprando títulos da dívida americana.
"Parte desse dinheiro continuará vindo para o Brasil, onde rentabilidade dos investimentos é maior. O real continuará fortalecido", afirma.
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