Quem mergulhou no mundo das drogas tenta trilhar um caminho longe do vício. É um processo lento de recuperação que requer muito apoio da família.
A droga chegou aos poucos na vida de Sílvio Bressan. Causou dependência, e como um furacão, destruiu carreira, família e afastou os amigos. Em pouco tempo, ele viu o mundo de fantasias desabar. Foram dez anos usando maconha, cocaína e crack. "Ela acabou destruindo tudo, não só a minha vida, mas aqueles que estavam a minha volta também", comenta.
Há oito meses, Silvio decidiu buscar um novo caminho. Encontrou em uma clínica de recuperação a chance de mudar. Ele trabalha atualmente como monitor e ajuda outros dependentes a largar o vício.
Os internos ficam em contato direto com a natureza, cuidam do pomar, cultivam hortaliças e fabricam os pães que são distribuídos a outras duas unidades do centro de recuperação. O trabalho é coordenado por Rosuel Pinto de Lima, ex-dependente de drogas e álcool. "Nós fazemos desde a laborterapia, tem as palestras que passamos para eles, tudo sobre comportamentos adequados e inadequados. Nós temos metas, cada semana eles cumprem uma meta", afirma.
Antes de chegar ao centro, Lima passou por situações que ele mesmo caracteriza como o "inferno". "Como muitos desses internos que se encontram hoje, fui um mendigo de rua, um usuário de drogas, alcoólatra. Mas um dia eu tive uma oportunidade de conhecer esse lugar", conta Rosuel.
Aceitar a reabilitação é como aceitar uma segunda chance. O dependente fica no centro por vontade própria. É o desejo de mudar que pode fazer a diferença na busca pela recuperação plena. Nesse processo a família tem papel muito importante.
"A base de tudo é a família. Quando a gente recolhe um homem ou uma mulher para o tratamento, primeiro a gente faz o contato com a família e ela também é obrigada a participar das reuniões", diz o coordenador Samir Zayeth.
Apesar de ajudar na ressocialização, nem sempre o centro de recuperação é o melhor caminho. Cada caso é um caso. Em Campo Grande, uma das referências no tratamento é o Centro de Apoio Psicossocial de Álcool e Drogas. O usuário não precisa de encaminhamento, e ao chegar é atendido por uma equipe multidisciplinar.
"Aqui ele vai encontrar atividades que favoreçam a ele. A questão da medicação é importante, tem pacientes que necessitam ser medicados, por isso a importância de um acompanhamento com psiquiatra. E a questão da família é muito importante porque ela precisa saber como vai fazer para ajudar esse usuário. Nem sempre a internação é que vai resolver a questão", observa a gerente do Caps-AD, Maria Beatriz Almeidinha Maia.
Acolher o usuário, entender que existe uma situação de risco e tentar ajudar - o problema é quando a família se mantém omissa. Para o doutor em psicologia clínica e da saúde, José Ricardo Nunes da Cunha, o consumo de drogas está relacionado ao processo de interação familiar. "A maioria dos pais consegue conversar com os filhos dos outros, mas não consegue conversar com os seus filhos. Os filhos não conseguem conversar com os seus pais, conseguem conversar com outros pais. Vai existindo nessa dinâmica um aumento das resistências, das dificuldades emocionais, afetivas", aponta o especialista.
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