Na pele de Jô Suado, Márvio Lúcio, mais conhecido como Carioca, vive seu auge no Pânico na TV e ainda encarna Amaury Dumbo e Amin Raben. Com dom para imitação, ele conta que começou a ganhar dinheiro com isso desde criança.
O Dia - O que explica o sucesso de Jô Suado e os seus quase dez minutos semanais no ar?
Carioca - Eles estão esticando legal o quadro, né? O que acho bacana é fazer o humor não clássico. O brasileiro gosta de muita ação, da sátira, da charge. As pessoas gostam de ver o Jô em outra situação, na sacanagem do Pânico.
O Dia - Como descobriu o talento para interpretar o Jô?
Carioca - Eu comecei a imitar por causa da minha mulher. Uma vez, enquanto assistíamos ao programa dele, ela me pediu água. Eu levantei e respondi como ele, com o mesmo timbre. Ali eu achei o personagem. Nunca tinha imitado e nem imaginava imitar o Jô.
O Dia - Depois de descobrir o timbre, como se preparou para levá-lo para a TV?
Carioca - Desde que descobri que dava para fazer o Jô até o quadro ir ao ar foram seis meses. Comecei a brincar no programa na rádio e, no começo do ano, na reunião, o Alan Rapp (diretor do programa) perguntou: "e aí, qual a coisa nova para esse ano?". Disse que queria fazer o Jô. Depois, entrou o maquiador, fez a caracterização da barba na mão, fio a fio, veio toda a produção e a nossa liberdade para o improviso.
O Dia - Quais os principais trejeitos do Jô que você notou e quis levar para o personagem?
Carioca - Eu não sei os trejeitos, não. É automático. Acho que baixa o espírito do cara na hora. Eu me sinto ele quando gravo. Tento raciocinar como ele. Isso é para não viajar e ficar muito dentro do personagem. Mas me atento ao olhar, à fala e ao gestual. Se conseguir marcar bem isso, consigo convencer.
O Dia - Qual é a maior dificuldade em interpretar o quadro?
Carioca - O quadro se chama Jô Suado de tão suado que saio depois da gravação dentro daquela roupa. Acabo exausto porque tenho que ficar agachado e dá muita dor nas costas. Tenho que projetar o corpo para frente, ficar com os joelhos flexionados e encurtar o pescoço. É uma manobra. Parece a posição do nadador antes de mergulhar. Isso é porque tenho 1,82m e o Jô é muito baixinho.
O Dia - O que achou de o Jô não dar a bênção ao Jô Suado?
Carioca - Ele não deu muita bola. Mas disse que gosta do Edu (Eduardo Sterblitch, o Cesar Polvilho). Mas não deu a bênção, né?
O Dia - Acha que vai rolar?
Carioca - Eu gostaria. Seria muito divertido. As pessoas iriam curtir. Imagino as pessoas rindo da gente conversando, falando igual. O encontro seria o auge. Entraria para a história. Várias situações foram históricas para mim, como quando encontrei o Lulu Santos e o Cauby Peixoto. Eu jamais vou esquecer. Mas essa seria histórica para o Pânico e para a TV.
O Dia - O Jô Suado é o hit do momento. Mas qual personagem você mais gostou de interpretar?
Carioca - Eu não tenho apego ao personagem. E não acho que deva ter. Se eu tivesse, não conseguiria fazer o Jô, por exemplo. Para fazer uma coisa nova, é preciso arriscar e tem que ter desapego. Mas, pensando, o Amaury Dumbo é o que mais gosto e o que mais me diverte.
O Dia - Como você descobriu o talento para imitação?
Carioca - Desde pequeno, com uns cinco anos. Descobri que isso dava dinheiro e já passava o chapéu para ganhar uma grana e poder lanchar na cantina da escola. Meu pai ficava p... Todo aniversário de velho era uma beleza. Pegava as primas da minha avó e já passava a peruca. Minha irmã me fantasiava, colocava peruca, maquiava, botava brinco e os velhos amavam. Sempre gostei dessa coisa de me travestir. Acho que se eu fosse gay, seria travesti.
O Dia - Muito se fala que o Pânico passa dos limites e invade a vida das pessoas. Você concorda?
Carioca - Tem muita gente falando sobre o limite do humor. Mas, como aprendi com meu guru, o limite do humor vai até aonde o bolso do patrocinador permitir. O resto não tem que ter limite. Está cheio de cara pançudo dizendo que faz e acontece e agora fica cagando regra. Quero só ver se ele não vai até o limite do patrocinador dele.
O Dia - Mas o Pânico costuma invadir até a vida pessoal de vocês. Não se incomoda?
Carioca - Acho engraçado. Quando é para o programa, é válido. Não sou de dar muita entrevista, de marcar fotos e de dar pinta. Não gosto de falar do pessoal, acho babaca. Mas, no meu trabalho, eu acho maneiro e tenho que mandar bem. Além disso, conto a história do jeito que eu quiser.
O Dia - Em uma dessas invasões, sua mulher confessou que você tem hemorróidas. Se incomodou com isso?
Carioca - É tudo brincadeira. Quem sabe se eu tenho hemorróidas ou não sou eu. Eu conto a história que eu quiser. Ainda vamos desvendar isso ao longo do programa.
O Dia - Mas você tem hemorróidas ou não, afinal?
Carioca - Quem não tem isso, irmão? É a lei da força da gravidade. É a lei da natureza. Não podemos brigar com isso. Tem gente que esconde ruga. Eu sou muito jovem ainda e não preciso fazer um botox no meu traseiro por enquanto.
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