A pesquisa, publicada na edição desta semana da revista científica Applied Physiology, Nutrition and Metabolism, analisou 6 mil americanos obesos durante 16 anos, comparando o risco de mortalidade deles com o de pessoas dentro do peso.
Segundo a autora Jennifer Kuk, professora assistente da Faculdade de Cinesiologia (área que estuda o movimento) e Ciências da Saúde de York, a descoberta desafia a ideia de que todos os obesos precisam emagrecer.
Na visão da pesquisadora e equipe, tentar perder peso – e falhar – pode ser ainda mais prejudicial do que ficar em um patamar elevado e manter um estilo de vida saudável, com exercícios físicos e dieta balanceada, que inclua frutas e verduras.
O levantamento revelou também que pessoas obesas que não tinham (ou tinham leves) prejuízos físicos, psicológicos e fisiológicos apresentavam um maior peso corporal ao chegar à idade adulta, eram mais felizes com isso e tentaram emagrecer com menor frequência durante a vida. Além disso, eram mais propensas a ser fisicamente ativas e manter uma alimentação equilibrada.
Nova classificação
Para identificar quem deve perder peso, o trabalho usou uma ferramenta recém-desenvolvida na Universidade de Alberta, também no Canadá, chamada de Sistema de Classificação de Obesidade de Edmonton. O método teria se mostrado mais preciso que o tradicional índice de massa corporal (IMC).
A técnica é inspirada em testes que classificam a extensão e a gravidade de outras doenças, como câncer, transtornos mentais e problemas cardíacos. Ela apresenta cinco estágios de obesidade, com base nas duas medições mais usadas: o IMC e a relação cintura-quadril.
O novo sistema considera, ainda, medidas clínicas que refletem as condições médicas do paciente, muitas vezes causadas ou agravadas pela obesidade (como diabetes, hipertensão e problemas cardíacos).
Repercussão
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Ricardo Cohen, afirma que "a pesquisa comprova o que já se sabia, ao mostrar que a simples perda de peso não aumenta a sobrevida em pacientes cardiovasculares".
Segundo ele, além de implicações cardíacas, o excesso de gordura pode provocar problemas articulares e de refluxo, por exemplo. "O percentual de obesos saudáveis é de 3% a 4% dessa população", aponta.
A endocrinologista Claudia Cozer, coordenadora do Núcleo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Hospital Sírio-Libanês e diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), destaca que nem todo paciente obeso carrega consigo doenças futuras, como hipertensão, colesterol alto, diabetes, infarto, derrame e trombose.
Na opinião da médica, também não se deve “neurotizar” o emagrecimento, que depende do resultado de exames, do histórico familiar e do IMC do paciente. "Se o indivíduo for obeso mórbido, com IMC acima de 40, pode ter comprometimentos ortopédicos e de movimentos. Tarefas simples como subir escadas, amarrar o sapato e se abaixar se tornam difíceis", diz.
Mas, caso os testes laboratoriais estejam normais, a comida seja variada, com poucas calorias, e a pessoa não beba nem fume, o excesso de peso pode não ser uma preocupação tão grande quanto a de obesos com histórico familiar e outros fatores de risco, ressalta Claudia.
Ela concorda com a parte da pesquisa que sustenta que o efeito sanfona é mais prejudicial do que se manter acima do peso. “É melhor você ficar gordinho e quieto, se os exames estiverem bons, do que nesse ioiô, que muda a composição corporal”, afirma. Isso porque, ao emagrecer, a pessoa perde músculos e gordura e, ao engordar novamente, acrescenta apenas gordura ao organismo. “E aí fica cada vez mais difícil perder esse acúmulo”, explica.
De acordo com o endocrinologista Alfredo Halpern, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas e ex-presidente da Abeso, se o indivíduo não tiver problemas metabólicos, cardiovasculares e outros comprometimentos, como apneia do sono, pode ser saudável mesmo acima do peso. Mas é importante sempre passar por uma avaliação médica.
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