Livro brasileiro narra, com humor, história da economia
No Brasil, temos um deserto de livros sobre assuntos atuais. Raros são os volumes analisando com profundidade recentes reviravoltas políticas ou econômicas.
O que existe, às pencas, são traduções mal-ajambradas de livros gringos, sem preocupação com contextualização ou falsos cognatos.
E é aí que entra "Crash --Uma breve história da economia, da Grécia Antiga ao Século XXI", de Alexandre Versignassi, da editora Leya.
O livro de Versignassi conta a história da economia mundial até o famigerado crash de 2008, em bom português, traçando paralelos com a realidade brasileira e com uma boa dose de humor.
É um alívio ler um livro sobre economia bem escrito, não uma tradução canhestra.
Trata-se de uma história da econômica mundial, contada de forma bastante informal e fazendo paralelos com acontecimentos atuais.
O livro começa com a clássica descrição da bolha das tulipas na Holanda no século XVII para explicar a bolha de 2008. Mas aí encadeia comparações que aproximam o tema do leitor brasileiro, do tipo: as ações da Vale subiram 200 % em 3 anos, o mesmo que a tulipa mais valiosa da Holanda no século XVII.
É engenhoso como o autor trafega entre história mundial e realidade econômica brasileira e global, comparando tulipas e ações de Petrobras e Vale , em que muita gente investiu com o dinheiro do fundo de garantia, e daí extrapolar para a Enron, um dos casos mais espetaculares de fraude e falência.
HUMOR E COLOQUIALISMO
Em todo o texto, o autor tem tiradas divertidas, tais como "dinheiro é um mecanismo engenhoso: permite que uma manicure compre seis pãezinhos sem ter que fazer as unhas do padeiro".
Mas ele às vezes exagera no coloquialismo: "vai minerar uma montanha de cobre para ver o que é bom".
Nos trechos sobre inflação e tabelamento, Versignassi descreve a história da hiperinflação, desde a Roma antiga até a república de Weimar e os dias de hoje.
Mas, ao contrário de livros gringos, ele aproveita para se deter no caso brasileiro, em que a taxa de inflação foi de pelo menos dois dígitos em todos os anos entre 1953 e 1995, e explica como a conta movimento funcionava para alimentar a inflação.
Um pouco depois compara o tabelamento do Sarney em 1986 com o do imperador romano Diocleciano, 300 anos depois de Cristo.
Ao final do livro, quando chega aos "assuntos atuais", ele consegue explicar o crash de 2008 de forma didática. Um assunto complexo como securitização de recebíveis, no cerne da crise, é destrinchado habilmente.
Para tornar mais clara para o leitor a euforia dos americanos, que aproveitavam a aparente alta inesgotável do mercado imobiliário para usar suas casas como caixa eletrônico, até os Simpsons entram na parada. "Homer refinanciou a casa dele para bancar uma festa (12º episódio da 20ª temporada)."
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