Júlio atropelou etapas e contrariou o prefeito no projeto sobre concessão
Sem ouvir secretários, nem mesmo a assessoria jurídica, Júlio Pinheiro, enquanto prefeito, tentemplacar o projeto do saneamento, mas o tiro saiu pela culatra e a decisão ficou mesmo com Chico Galindo, que apresentou outra mensagem
Júlio Pinheiro, que se tornou presidente da Câmara Municipal de Cuiabá e, depois, prefeito por duas semanas, sem nunca ter sido eleito, fez de tudo para entrar para a história como a pessoa que iniciou o processo de concessão dos serviços de saneamento. Em silêncio, esperou a posse no Palácio Alencastro e o prefeito Chico Galindo sair de férias por 15 dias e viajar para o exterior. Antes de se afastar, Galindo o pediu para não haver articulação sobre a proposta de criar uma agência de regulação e permitir ao município fazer a concessão.
Ele até tinha marcado audiência pública para 12 de julho. Depois dessa audiência, a Câmara entraria em recesso e voltaria em 2 de agosto, quando Galindo já estaria de volta das férias e pronto para protocolar o projeto no Legislativo. Eis que Júlio, no segundo dia na cadeira de prefeito, telefona para Galindo, que estava em Coimbra (Portugal), anunciando que iria apresentar à Câmara a proposta de concessão porque queria entrar para a história como prefeito que possibilitou transferir a gestão da água para a iniciativa privada. Assegurou ao colega petebista que já tinha convencido a maioria dos vereadores. Chegou a dizer que 15 votos favoráveis já estavam garantidos e que, portanto, não haveria risco do projeto ser rejeitado.
Manobras
Galindo, por sua vez, ponderou. Disse que Júlio deveria esperá-lo porque haveria calendário de audiências para ser cumprido. O prefeito em exercício naquele momento foi enfático, pediu voto de confiança e deixou claro que não iria recuar. Sem ouvir os secretários, nem mesmo a Procuradoria-Geral do Município, Júlio encaminhou o projeto à Câmara. Ele nem se lembrava de que Galindo já tinha marcado audiência. Descobriu-se, depois, que seria realizada no mesmo dia da votação do projeto na Câmara. Foi aí que Júlio chamou a imprensa e vereadores para um café da manhã, o que provocou mais polêmica porque, enquanto uns estavam com o prefeito em exercício discutindo a proposta, o mesmo projeto entrava na pauta para ser apreciado em plenário e foi aprovado. Assessores de Júlio chegaram a comemorar a manobra, como se tudo estivesse em ordem.
Houve revolta geral. Alguns vereadores, como Toninho de Souza (PDT), disseram que aprovaram o projeto por engano. O petista Lúdio Cabral recorreu à Justiça, que mandou anular a sessão. Galindo entrou em desespero. Para não se indispor com Júlio, preferiu elogiá-lo. Marcou novas audiências públicas e passou a levar porrete de todo lado. Conseguiu realizar 18 encontros, com segmentos católicos e evangélicos, como OAB, com Clube de Dirigentes Lojistas, com sindicato de taxistas, com líderes comunitários e sindicato de trabalhadores de outras áreas. Júlio Pinheiro, que fez manobras e tentou assumir a paternidade do projeto, não compareceu, sequer, a uma audiência. Na prática, jogou a bomba para o prefeito depois de ter agido de forma afoita e acabou fisgado, assim como acontece com um peixe desespero por um pedaço de isca. Galindo reformulou o projeto, o encaminhou à Câmara e, mesmo sob críticas, conseguiu aprovação da mensagem.
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