Após confrontos, Egito reinstaura lei de emergência do regime Mubarak
O Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito, que comanda o país, anunciou neste sábado que vai aplicar todos os artigos da lei de emergência, vigente durante o regime do ditador deposto Hosni Mubarak, para evitar confrontos como os que ocorreram diante da Embaixada de Israel no Cairo.
Ao menos três pessoas morreram e outras 1.049 ficaram feridas durante os confrontos entre manifestantes e as forças de segurança na noite de sexta-feira, nos arredores da embaixada de Israel, segundo novo balanço da agência estatal egípcia.
A Mena, que cita um responsável do Ministério da Saúde, não diz a causa das mortes. Fontes de segurança disseram à agência Efe que duas das pessoas morreram de ataques cardíacos. Já a agência de notícias France Presse diz que três pessoas morreram vítimas dos confrontos e uma quarta morreu de ataque cardíaco.
Depois de uma reunião de urgência entre a cúpula militar e o premiê Essam Sharaf, o ministro de Informação, Osama Hekal, afirmou que as forças de segurança adotarão, a partir de agora, todas as medidas contra os atos de violência, incluindo o direito à autodefesa.
Em um comunicado divulgado pela agência estatal Mena, o ministro destacou que a Lei de Emergência será mantida por tempo indeterminado.
A lei, vigente desde 1981, fora suspendida para atender uma das principais demandas dos manifestantes de oposição da Revolução de 25 de Janeiro, que derrubou Mubarak.
O governo provisório prometera revogar de vez a lei antes das eleições parlamentares, cuja data ainda não foi determinada.
Esta lei foi imposta depois do assassinato do presidente egípcio Anuar al Sadat, em 6 de outubro de 1981, durante uma parada militar pelo aniversário da guerra árabe-israelense de 1973.
Mubarak manteve a lei como ferramenta para suspender as liberdades de imprensa e associação, ampliar os poderes dos órgãos de segurança e anular os direitos civis e políticos --com na desculpa da guerra contra o terrorismo.
Entre outros artigos, a lei permite o julgamento de todos os detidos ou implicados por instigar ou participar em atos violentos em um Tribunal de Estado de Emergência.
O ministro condenou ainda os distrúbios como um ato "inaceitável, que prejudicou a imagem e os interesses egícpios diante da comunidade internacional" e reafirmou o compromisso do país de manter os acordos internacionais --incluindo a proteção de todas as missões estrangeiras em território egípcio.
"Egito foi cenário de um dia crítico que causou dor e preocupação a todos os egípcios, já que a conduta de alguns ameaçou a revolução egípcia", disse o ministro. Egito se encontra em uma "situação excepcional que requer utilizar firmes ações legais".
CONFRONTOS
Os enfrentamentos, que se prolongaram durante toda a noite, deixaram ainda mais de mil feridos, entre eles 300 policiais, e agravaram a tensão entre Israel e Egito pela morte de cinco policiais egípcios em uma ação israelense em agosto.
O incidente começou quando cerca de mil manifestantes concentraram-se diante do edifício que abriga a missão diplomática israelense e o atacaram a marteladas e com um grande tubo metálico, sem a intervenção da polícia, que estava nas proximidades. A polícia interveio apenas quando os manifestantes conseguiram derrubar o muro.
O muro, de uma altura aproximada de 2,5 metros que rodeia o edifício da embaixada, foi construído nos últimos dias depois de várias manifestações em frente à sede diplomática israelense na capital egípcia.
Horas depois, a Embaixada de Israel no Cairo foi invadida pelos manifestantes, que jogaram milhares de páginas de documentos pela janela. Os egípcios também arrancaram a bandeira de Israel e a substituíram pela bandeira egípcia. Essa foi a segunda vez que a bandeira de Israel foi arrancada da embaixada.
Segundo a Al Jazeera, os manifestantes vinham de um protesto para pedir reformas aos militares --que governam o país desde a queda de Hosni Mubarak-- na praça Tahir.
A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão que se reuniu na rua em frente ao edifício.
FUGA
Diante da invasão, o embaixador israelense no Egito, sua família e o pessoal diplomático, foram obrigados a abandonar a embaixada. Um avião os levou de volta a Israel nas primeiras horas deste sábado.
O grupo de oito pessoas, liderado pelo embaixador Yitzhak Levanon, foi levado a Israel em um avião militar da Força Aérea israelense.
Além disso, outros seis israelenses presos na embaixada no Cairo foram transferidos posteriormente de avião depois de serem retirados do edifício por um comando especial egípcio.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, falou com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre o incidente e ambos decidiram seguir em contato até que a situação tenha se resolvido, informou a imprensa local.
Além disso, o titular da Defesa israelense, Ehud Barak, informou em comunicado que dialogou com seu colega americano, Leon Panetta, a quem pediu que fizesse todo o possível para proteger a Embaixada israelense no Cairo.
PERMANÊNCIA
Segundo a Efe, centenas de manifestantes continuam reunidos em frente à embaixada. Muitos estavam em cima do que restou do muro que cerca a embaixada, após ser derrubado na véspera.
Cerca de 20 militares, apoiados por quatro carros de combate, estão na entrada do imóvel, sob o som dos lemas anti-Israel cantados pelos manifestantes.
Não foi registrado, contudo, nenhum incidente neste sábado. A rua onde fica a embaixada voltou a ser aberta ao público, mesmo com sinais ainda evidentes dos confrontos da noite anterior.
Um dos manifestantes, Ahmad Saber, disse que voltou ao local porque não aceita a presença israelense no Egito.
"Queremos acabar com a relação entre ambos os países, a saída do embaixador foi um primeiro passo, mas não pararemos até que se cortem as relações totalmente", disse Saber, que acusa as forças de segurança de terem iniciado os confrontos.
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