O Sindicato dos Médicos da Paraíba (Simed) divulgou nesta sexta-feira (16) imagens que diz comprovar o uso de furadeira doméstica em cirurgia ortopédica realizada no Hospital de Emergência e Trauma Humberto Lucena, em João Pessoa. No começo do mês, um médico denunciou o uso do instrumento em um procedimento no crânio.
Em contato com a reportagem na noite desta sexta-feira, a Secretaria de Saúde disse que vai apurar o caso, mas que não há indicação nenhuma que garante que o procedimento tenha sido realizado no Hospital de Trauma, nem de quando.
O presidente do Simed, Tarcísio Campos, afirmou que o uso desse tipo de furadeira é proibido por uma portaria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas, mesmo assim, o equipamento ainda é utilizado em procedimentos cirúrgicos do hospital.
No começo do mês, um médico denunciou o uso de furadeira para cirurgia de crânio no mesmo hospital. Na época, os gestores do Trauma disseram que o equipamento médico específico, o craniótomo, não funcionava há um ano. O governo afirmou apenas que o Trauma tinha dois equipamentos do tipo. Nesta tarde, o Conselho Regional de Medicina informou que já conduz uma sindicância sobre o caso e que a nova denúncia não vai exigir outra investigação.
Cirurgia no pé
Segundo Tarcísio Campos, o vídeo foi registrado no fim de semana, durante uma cirurgia de fratura exposta no pé direito de um paciente. O presidente do Simed justificou o uso da máquina explicando que, caso os médicos não a utilizem, podem “piorar o prognóstico do paciente".
Tarcísio disse que neste caso filmado, o paciente apresentava uma fratura exposta e precisava da implantação de um pino que prendesse o osso. “Se fosse usado equipamento adequado, com broca que gira em dois sentidos, o procedimento seria mais simples. Com esta furadeira, o médico precisa ficar ampliando o furo indo e voltando”, explicou.
O presidente do Simed explicou que a furadeira comum só pode ser esterilizada com álcool e possui apenas um tipo de rotação, o que, segundo ele, pode causar riscos nas cirurgias.
Ele explica que a furadeira específica é blindada, pode ser esterilizada com outros produtos e ainda possui dois tipos de rotação (horário e anti-horário).
O uso de furadeiras comuns em cirurgias no hospital público foi denunciado pela primeira vez no início de setembro, após uma reclamação do médico Ronald Farias. Ele foi à Câmara Municipal e afirmou que no Hospital de Emergência e Trauma a máquina era utilizada em procedimentos no crânio - isso porque o aparelho específico para este tipo de procedimento, o craniótomo, estaria quebrado.
Na época a Cruz Vermelha, responsável por gerenciar o hospital, revelou que esse aparelho médico específico não funcionava há mais de um ano. O secretário de Saúde da Paraíba, Waldson de Souza, no entanto, negou o uso de furadeiras no hospital e informou que o hospital conta com dois craniótomos.
A Anvisa considera a furadeira doméstica como um dispositivo "impróprio". A norma também alerta para os riscos de sua utilização em cirurgias: "a furadeira pode contaminar o campo cirúrgico com o óleo usado na lubrificação; apresenta riscos de descargas elétricas; não tem controle de rotação; e não pode ser esterilizada", consta no documento.
CRM
O diretor de fiscalização do Conselho Regional de Medicina da Paraíba, Eurípedes Mendonça, explicou que já foi instaurada uma sindicância que vai investigar o uso de furadeiras convencionais em cirurgias do Trauma. O médico disse ainda que não deve ser aberta uma nova investigação. “Como o fato é o mesmo, cirurgias com furadeiras, é possível que a documentação seja anexada a outra sindicância”, disse.
Resposta
A Secretaria de Saúde do Estado disse vai apurar este novo caso de uso de furadeira em cirurgia no Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, mas que o material entregue pelo sindicato não tem indicação nenhuma que garanta que o procedimento tenha acontecido mesmo no hospital em questão nem de data da cirurgia. A Saúde ainda lamentou que o sindicato tenha "exposto seus profissionais" entregando o vídeo à imprensa e espera que o Conselho Regional de Medicina na Paraíba apurem este procedimento.
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