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Sexta - 23 de Setembro de 2011 às 10:45

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Moradoras da periferia de diferentes bairros da Capital descobriram uma nova maneira de ganhar dinheiro. Elas fazem programas sexuais atendendo clientes por telefone, ou por indicações de cafetinas. Uma não conhece a outra, mas as histórias são quase idênticas. Elas admitem que conhecem o risco que correm.  Uma delas foi currada durante uma festa regada a muita bebida e drogas. Outras contam que além das sevícias sexuais, ainda foram torturadas.

Uma garota linda, mas ao mesmo tempo problemática. Aos 16 anos a estudante M, que maquiada parece ter mais de 20, já usa droga, fuma cigarros, bebe uísque e outras bebidas fortes. Ela está entre um grupo de adolescentes com idades entre 13 a 17 anos que transita entre shoppings, galerias, boates, bares, restaurantes e residências, festas particulares, hotéis de luxo, Pantanal, Cáceres e outras cidades turísticas de Mato Grosso.  São garotas que moram na periferia e que passaram a frequentar lugares que elas classificam como “points” em busca de clientes para programas amorosos. Elas aceitaram falar depois que uma garota de 15 anos foi currada por três rapazes durante um programa acertado pelo telefone. Todas já sofreram algum tipo de violência durante uma “aventura amorosa”, mas paga.
 
 A menina já é uma “garota de programa” e que atende todos os tipos de clientes por telefone, mas que também é usada por uma cafetina que ela só conhece pelo apelido de “Mainha”, como todas as outras garotas entrevistadas ela conta que sabe dos riscos que corre por se envolver diariamente com pessoas de todas as classes sociais e desconhecidas, que ao contrário delas que vão em busca de dinheiro, eles vão em busca de prazer, muitas vezes recheado de violência e masoquismo.
 
 Cuiabá, 10 horas. A menina P., de 16 anos, que não usa droga, mas bebe e fuma entra em um dos shoppings da Capital e vai direto a uma mesa de um café. Senta, tira um celular da bolsa e começa a ligar. Quase uma hora depois chega um homem de mais ou menos 30 anos. Os dois conversam um pouco enquanto tomam um café com leite e um salgadinho. Logo, os dois deixam o local um na frente do outro, como se não estivessem juntos.
 
Ele entra em uma camionete Hilux e abre a porta da passageira.  Ela antes de entrar no mesmo carro olha para os lados como se estivesse certificando que não estava sendo seguida ou observada. Destino: um dos motéis da saída de Cuiabá para Chapada dos Guimarães.
 
Era o primeiro programa da garota P., que além de frequentar shoppings também frequenta a área central da Capital e bares desde os 14 anos. Ela voltaria outras duas vezes para o mesmo shopping, e nas duas ocasiões repetia as mesmas cenas de sentar-se à mesa para esperar o cliente.
 
“Faço no máximo três programas por dia. Cobro cem reais por uma hora. Quando o cliente quer ficar mais tempo no motel, paga mais cem reais por cada hora. Muitas vezes, quando demora muito e o dinheiro compensa, eu só faço dois, ou apenas um programa por dia”, conta.
 
“Paquita” de 17 anos, não usa droga, fuma, mas não bebe. Ela foi localizada pela reportagem no bairro Dom Aquino por indicação de uma cafetina com “QG”, no bairro Ribeirão do Lipa.  A menina é uma das que atende clientes de todos os lugares, inclusive fora da Capital.
 
A menina magra, alta e de uma beleza que chama a atenção vira mulher quando está pronta, principalmente quando está maquiada. Ela chega às 17 horas à recepção de um hotel e pede para falar com um hóspede - nome preservado -, que chega logo em seguida. Como o pessoal do hotel sabe que “Paquita” ainda não tem 18 anos, embora já faça programa desde os 15, o casal tem que deixar o local.
 
Destino: Pantanal.  Na viagem feita em uma camionete dirigida por um homem de quase 50 anos para antes do Trevo do Lagarto para o embarque de mais um casal. Era um amigo do dono da camionete e de mais uma garota de programa, só que essa de mais de 18 anos, mas também muito bonita.
 
A garota “Paquita” conta que cobra em média cem reais por programa de uma hora, fora o cachê da cafetina pago pelo cliente diretamente a ela. Agora quando é para viajar, ela cobra de quinhentos reais para cima, dependendo dois dias que vão ficar fora.
 
“Para o Pantanal, ida e volta no mesmo dia eu cobro quinhentos reais livre de tudo. Agora se for para passar mais de um dia, ai o cliente paga mais quinhentos reais por cada dia. Já ganhei mil e quinhentos paus para passar um final de semana no Pantanal”, confessa “Paquita” com naturalidade.
 
Questionada se algum dia um cliente apelou para a violência, a menina C, de 16 anos explica o que acontece na maioria dos casos em que ela faz um programa. C diz que existem dois tipos de violência, a suportável e a insuportável.
 
A menina diz que quando ela sai para fazer um programa sabe que vai ter que fazer tudo. Isso, segundo ela, é normal. Diz também que existem clientes que são masoquistas, e outros que exageram na violência.
 
“A gente aceita ou não. Algumas cobram mais caro, para enfrentar uma dor. Agora, quando o cliente vem com violência, principalmente a física, ai é diferente e não faz parte do programa. Eu ainda não acionei a Polícia porque sou menor, mas já pedi ajuda para os seguranças de um hotel para deixar o local porque o cliente começou a me enforcar e eu senti que iria morrer se ele continuasse. Isso não é sexo, é violência”, afirma a menina falando como se fosse uma veterana prostituta.
 
A garota M, de 17 anos, não usa droga, mas fuma e bebe,  conta que começou a fazer programas em shopping  atendendo ligações de clientes marcando encontro, mas agora só sai de casa quando a cafetina chama. Seus clientes são selecionados, a maioria casados, com idades superiores a 50 anos de alto padrão financeiro.
 
“Em shopping é bom, mas a gente fica manjada. Fui para lá muitas vezes, mas descobri que é mais seguro a gente atender as cafetinas, de preferência apenas uma. Elas fazem os contatos e a gente faz o resto, com uma vantagem, a gente já vem sabendo com quem vai sair, e isso nos dá segurança”, revela.
 
O perigo de um programa sexual, segundo M, é atender clientes em festas, mesmo sendo em residências particulares. Sempre rola muita bebida e em alguns casos drogas. A gente faz tudo, mas eu particularmente, só faço de um de cada vez. Se for com mais de um eu saio fora, seja em qualquer lugar, alerta.
 
A mesma garota de programa prossegue: “Foi por isso que a menina foi currada por três homens. Os caras enfiaram droga e bebida nela, e quando ela acordou estava toda ferida, pois foi obrigada a fazer sexo com três de uma só vez”, alerta.
 
Simples e linda, a menina F, de 16 anos,  que não bebe, não usa droga, mas fuma um cigarro atrás do outro,  garante que sua preferência é atender casais em residências. “Já fui para o Pantanal. Já fui para Cáceres. Já fui para motéis e hotéis, mas gosto mesmo é de atender clientes em casa de família. A gente ganha mais e é tratada como uma princesa. Claro que alguns casais gostam de sadismo, mas nada de muita violência”, garante.
 
A jovem K, a única com 18 anos completados um dia antes de dar entrevista, que faz programa desde os 15 anos, mas que nunca bebeu, nunca fumou ou muito menos usou droga, conta tudo, mas aproveita para fazer um apelo e um alerta.
 
Ela revela que conhece mulheres hoje com mais de 30 anos, que também começaram com 15 anos, e que existem meninas com 12 e 13 anos que já estão “aprendendo” a fazer programa, justamente porque seus pais ou trabalham fora, não trabalham, são alcoólatras e usuários de drogas, mas não ligam para o que elas fazem ou para o que elas não fazem, e porque elas não estudam e não tem uma direção na vida.
 
“Existem meninas da periferia que estão expostas por falta de amparo. Eu tive sorte porque eu procurei a sorte e agora até voltei a estudar. Mas muitas meninas não pensam assim e não tem a mesma sorte. Não tive pais, mas achei uma pessoa que mesmo me usando sexualmente me dava muitos conselhos. A maioria nem tem pai ou mãe. Quando tem são analfabetos, nunca trabalharam, vivem da caridade dos outros, são alcoólatras ou usuários de drogas. Por isso dinheiro que as filhas trazem para dentro de casa é uma fortuna. Existem meninas lindas na periferia que precisam de assistência”, desabafa.
 
A agora adulta, mas que ainda vai continuar segundo ela fazendo programa até concluir, pelo menos o ensino médio para arrumar um emprego digno, faz um apelo: “Agora eu sei que faltam boas escolas com tempo integral e muitas atividades educacionais, físicas, esportivas e uma boa alimentação. Falta também, fiscalização nos lugares onde essas meninas frequentam. Todos sabem onde elas estão, mas ninguém faz nada porque a vida de pobre não interessa a ninguém. Por favor, façam alguma coisa. Ninguém quer ser prostituta a vida inteira”.

 






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