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Educação
Segunda - 03 de Outubro de 2011 às 07:26
Por: Fernanda Brescia

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Victor Aquino/Arquivo pessoal
Victor Oliveira cursa o 3º ano do Ensino Médio no IEMG, em BH
Victor Oliveira cursa o 3º ano do Ensino Médio no IEMG, em BH

Estudantes que cursam o 3º ano do Ensino Médio em escolas estaduais de Minas Gerais afetadas pela greve dos servidores do setor estão apreensivos com a proximidade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e dos vestibulares. A paralisação, que durou 112 dias, terminou na última terça-feira (27) e comprometeu 72 dias do ano letivo, segundo a Secretaria de Estado de Educação.

Victor Oliveira, de 17 anos, cursa o último ano do Ensino Médio no Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG) e diz que mudou de opção de curso no vestibular por causa da defasagem gerada pela greve. “Ia tentar medicina em Goiânia, mas estou super inseguro. Meu ano é o ano que vem”, disse ao G1. O IEMG, localizado na Região Central de Belo Horizonte, é a maior escola do estado, segundo a Secretaria de Educação. A instituição comporta, atualmente, 5.728 alunos, distribuídos em 141 turmas de Ensino Fundamental e Médio.

No estado, 2.141 escolas oferecem os três anos do Ensino Médio. Destas, 350 foram afetadas pela greve, segundo a secretaria. O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG) informou que, até o último dia da greve, 50% dos servidores estaduais estavam paralisados, mas não soube dizer quantas escolas foram afetadas pelo movimento.

Dias a mais
Sábados, férias e primeiros meses de 2012 vão ser usados para a reposição de aulas para alunos de escolas estaduais. Para Victor, a reposição não vai ser suficiente para restabelecer o conteúdo perdido. “É tampar o buraco, né. Rola uma insegurança enorme. Daqui a três semanas é o Enem. A gente fica com os dois pés atrás”, desabafou.

Além da ansiedade com os vestibulares e o Enem, pais e estudantes também não estão satisfeitos com o calendário de reposição das aulas. De acordo com um dos diretores do sindicato que representa os servidores da educação, Paulo Henrique Fonseca, o calendário está sendo discutido pela comissão formada por representantes dos servidores, do governo e dos deputados. “Nosso interesse também é a melhor qualidade de ensino possível”, disse.

Rola uma insegurança enorme. Daqui a três semanas é o Enem. A gente fica com os dois pés atrás"
Victor Aquino, estudante do IEMG

A estudante Izabela Rodrigues, de 17 anos, estuda na Escola Estadual Maestro Villa Lobos, no bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul da capital. Para ela, a reposição aos sábados cria dificuldades para alguns estudantes que não tem recursos para se deslocar até a instituição. “Eu tenho que pegar dois ônibus e fica fora de mão para mim. É complicado”, disse. Poucos vão à aula no sábado. A maior parte [dos alunos] pensa assim: não escolhi ter greve, então não vou vir aqui no sábado. Sempre fica faltando. Todos os anos que tive greve foi assim. Professores dão um jeito de empurrar e o estado não quer gastar dinheiro com a gente”, completou. “Não culpo os professores. Acho que tinha realmente que ter a greve. No Brasil, não tem outro jeito de mostrar que quer mudanças. Infelizmente, prejudica a gente. Ninguém queria ficar nesta correria agora”, confessou.

Professores
No dia 8 de agosto, dois meses após o início da paralisação dos servidores, a Secretaria de Estado de Educação publicou uma resolução autorizando a contratação de professores designados para substituir os professores grevistas dos alunos que cursam o 3º ano do Ensino Médio. Um total de 2.404 professores foram contratados para atender aos alunos do 3º ano do Ensino Médio e, segundo o governo, tentar diminuir a defasagem dos estudantes no Enem e nos vestibulares. Ainda de acordo com a Secretaria de Estado de Educação, os substitutos permanecem na escola até o fim do ano letivo, que inclui a reposição de aulas, e podem cumprir funções em outras atividades.

Gêmeas Izabela e Izadora Rodrigues  (Foto: Izabela Rodrigues/Arquivo Pessoal)
Gêmeas Izabela e Izadora Rodrigues tentam
recuperar e aprofundar conteúdo em cursinho
de BH (Foto: Izabela Rodrigues/Arquivo Pessoal)

Para algumas turmas do Colégio Estadual Central, localizado na Região Central de BH, a medida não gerou tanto efeito, segundo a aluna Izadora Rodrigues, que é irmã gêmea de Izabela. Izadora, que cursa o último ano do Ensino Médio e quer tentar Relações Públicas no vestibular, disse ao G1 que ficou cerca de dois meses sem aulas durante o movimento dos servidores estaduais. Ao saber da contratação dos substitutos, a aluna diz que voltou a ir às aulas, mas a presença dos colegas era ínfima e o dia letivo não era contado. “Na segunda-feira, a turma tinha 11 alunos. Não faz sentido minha sala assistir aula, sendo que este dia não vai valer”, diz.

A aluna também criticou a falta de capacitação dos novos professores. “No cursinho, assisto a aulas ótimas. Chego na escola e os professores substitutos não são nem metade dos nossos que saíram. É muito complicado”, disse. A estudante contou que se matriculou em um curso pré-vestibular para ter acesso ao conteúdo das provas. “Tem matéria que estou vendo no cursinho que ainda nem vi no 3º ano. [No cursinho] a gente está vendo a revisão das aulas. Mas e os alunos que não estão fazendo cursinho e que vão ter que correr na escola pra ver este conteúdo?”, refletiu. Izadora disse ainda que, apesar de estudar bastante para o vestibular e para o Enem, não está certa da aprovação. “Sempre estudei em escola pública e acho que a gente leva desvantagem. Confiante mesmo não estou não, mas estou estudando, buscando tirar notas boas. Se não passar neste ano, tem o ano que vem, ainda”, disse.
 

Sempre estudei em escola pública e acho que a gente leva desvantagem. Confiante mesmo não estou não, mas estou estudando, buscando tirar notas boas. Se não passar neste ano, tem o ano que vem, ainda”
Izadora Rodrigues, estudante

Izabela Rodrigues também relatou ter ficado decepcionada com os professores substitutos e com o sistema de reposição das aulas. “Os substitutos são muito fracos. [Eles] pegaram o negócio no meio e agora tem que correr por causa da greve”, disse. A aluna, que vai tentar Engenharia de Automação no vestibular, disse que sentiu falta de parte dos professores antigos. Durante a greve, a estudante disse que optou por estudar em casa e decidiu se matricular em um cursinho para tirar as dúvidas e aprofundar no conteúdo cobrado pelos vestibulares. “Pegava minhas coisa para relembrar a matéria, para não sair da memória”, disse. “Para ser sincera, acho que ensino na escola pública não é uma coisa que vai favorecer muito na hora de tentar vestibular, principalmente federal, que é o que eu quero. É muito fraco mesmo, sem generalizar porque tem professores muito bons, mas tem professores muito ruins também”, relatou.

Já para a aluna Ana Carolina Barbosa, de 17 anos, a contratação de professores substitutos ajudou, sim, a não perder o foco para o vestibular. “A melhor coisa foi ter contratado substitutos. Isso tinha que ter sido feito antes. Como a gente estava reclamando, os alunos protestando, o governo foi e contratou”, falou. “Mas agora, tem professor substituto parado no meu colégio sem fazer nada. É imposto nosso, né”, falou. A adolescente, que ainda está em dúvida se tenta Biomedicina ou Ciências Biológicas no vestibular, estuda no IEMG. Assim que soube da greve, a estudante não perdeu tempo e se matriculou em um pré-vestibular. “Achei que ia ficar prejudicada e decidi entrar em um cursinho para pegar o ritmo dos alunos de escola particular porque estadual é menos bem preparado”, disse.

Ao invés de procurar um cursinho, a estudante Lívia Maria Ferreira, de 17 anos, contratou um professor particular. “Acho que cursinho é atraso de vida. Na aula particular, a atenção é só pra você”, disse. Segundo ela, a mãe apoiou a decisão. “Na escola, eles passam duas ou três matérias de uma vez só. Estão correndo com a matéria mesmo. Ainda bem que já estou na aula particular”, completou.

Projetos
Outra medida do governo adotada para tentar diminuir os efeitos da greve para os estudantes foi a produção de videoaulas veiculadas nas manhãs de sábado na rede estatal de televisão. Vídeos de dois minutos com conteúdo do vestibular também começaram a ser exibidos entre os programas da emissora. “Nem ouvi falar nestes vídeos. Por isso, procurei o cursinho. Para não ficar tão descontrolada, fazer a prova sem saber nada”, falou Ana Carolina Barbosa.

Uma parceria entre o Instituto Henfil e as secretarias de Educação e Ciência e Tecnologia assinada em 9 de setembro começou a promover teleaulas presenciais com conteúdo preparatório para o Enem nos 79 centros vocacionais tecnológicos. Para participar, os estudantes devem se cadastrar pessoalmente nos centros. De acordo com a secretaria, a parceria foi divulgada na época da criação do projeto.

A estudante Ana Carolina Barbosa também não sabia sobre o projeto e disse que ele é ineficaz para o caso de estudantes que não podem se deslocar até os centros. “Não é todo mundo que tem recurso pra isto. Não adiantou nada. Quase todo mundo da minha sala trabalha. Que hora que vai ter tempo pra ir ver isso?”, disse.

O estudante Victor Aquino também não tomou conhecimento sobre os programas e disse que acha o método de ensino ineficaz, já que não poderia tirar dúvidas sobre o conteúdo, por exemplo. “Não é a mesma coisa, né”, disse. “Colocaram os alunos neste fogo entre professores e governo. Os mais prejudicados fomos nós”, desabafou.

Para amenizar o atraso, professores aumentaram o ritmo de aulas e conteúdo nos colégios estaduais. “A gente está tendo prova em cima de prova, trabalho em cima de trabalho. A gente tem que preocupar com o vestibular e em passar de ano”, falou Victor.

Ana Carolina Barbosa, que estuda no mesmo colégio de Victor, também reclamou do novo ritmo. “O colégio está matando. Estão ‘tacando’ matéria na gente para dar as notas logo. Muita gente está reclamando por causa disso. Não está dando pra estudar. A gente estressa, né. Ainda mais fazendo prova com uma matéria que ninguém nunca viu”, disse.

Alunos que tiverem dificuldades para ingressar em faculdades e universidades por falta de término do ano letivo devem procurar a Secretaria de Estado de Educação ou as superintendências de ensino para a emissão de uma declaração de conclusão do Ensino Básico, que inclui o Fundamental e o Médio.

A secretaria informou que o documento não fica pronto na hora, mas não soube dizer o prazo. Para saber os documentos que devem ser apresentados para a requisição da declaração de conclusão, a secretaria pede que os interessados procurem a própria secretaria ou as superintendências para se informar. Ainda segundo a secretaria, cada caso é diferente e deve ser analisado individualmente.





Fonte: Do G1 MG

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