Na ONU, Brasil eleva tom em relação à repressão na Síria
Enquanto Dilma Rousseff evitava o assunto em sua visita à Turquia, a diplomacia brasileira elevou na ONU o tom das críticas à Síria pela repressão violenta aos protestos contra o regime.
Em sua intervenção no debate dedicado à Síria ontem no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, o Brasil disse estar "seriamente preocupado".
"A reação violenta do governo a protestos pacíficos é inaceitável", disse a embaixadora brasileira, Maria Nazareth Farani Azevedo.
Na terça-feira, o Brasil havia optado pela abstenção no Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, na votação de uma resolução de condenação à Síria. A proposta acabou barrada pelos vetos de Rússia e China.
A posição intermediária do Brasil em relação à Síria foi a principal dissonância na chamada "parceria estratégica" com a Turquia, ressaltada por Dilma em sua primeira como presidente visita a um país muçulmano.
O contato da presidente com a imprensa brasileira se resumiu a um vago pronunciamento pós o encontro com o presidente turco, Abdullah Gull, em que ela exaltou a Primavera Árabe.
Sem mencionar nominalmente a Síria, Dilma reiterou a rejeição a medidas punitivas, num contraste com o anúncio da Turquia nesta semana de que aplicará sanções contra o país vizinho.
"O isolamento, a punição e o uso da força serão verdadeiramente os últimos recursos", disse Dilma.
O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, negou que haja divergências entre os dois países. "Há uma diferença de abordagem", desconversou.
As diferenças são óbvias. Enquanto o Brasil mantém uma política de "morde e assopra" --como definiu à Folha um diplomata que pediu para não ser identificado -o governo turco afia os dentes.
Além de condenar duramente o regime do ditador Bashar Assad e anunciar sanções, a Turquia iniciou exercícios militares na fronteira com a Síria.
A ONU elevou nesta semana para 2.900 o número de civis que estima terem sido mortos na repressão síria. Já o vice-chanceler do país afirmou em Genebra que entre as vítimas há 1.100 membros das forças de segurança.
Faissal Mekded disse que seu país está sendo vítima de "uma campanha sem precedentes de mentiras".
Nomeado para chefiar a comissão de inquérito da ONU sobre a crise no país, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro disse à Folha, de Genebra, que procurou as autoridades sírias várias vezes para coordenar uma visita ao país, mas não teve resposta.
Com ou sem visita, Pinheiro está certo de que a comissão será capaz de elaborar um "retrato fiel" da situação.
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