Filho de agricultores, ex-caminhoneiro criou vinícola com filhos
Darcy Miolo, 70, plantou trigo, milho e uva na juventude e foi caminhoneiro. Em 1990, produziu o primeiro vinho Miolo. Hoje, a empresa é líder nacional no mercado de vinhos finos (excluindo importações), com faturamento de R$ 124 milhões em 2010. Elabora 12 milhões de litros de vinhos finos por ano e tem a maior área de vinhedos próprios no país.
Leia abaixo seu depoimento à Folha:
Eu sou o mais velho de três irmãos. Meu avô, Giuseppe, que veio da Itália, tinha um terreno na serra gaúcha e a gente trabalhava na roça. Semeava trigo, milho, essas coisas, e vivia com um pouquinho de uva comum.
Quando adulto, saí da roça. Fui até caminhoneiro, mas voltei à origem. Sempre plantamos uva. Embora eu tenha viajado um tempo com o caminhão, a gente sempre continuou com uva aqui.
Foi na época de 70, por ali, que começou a demanda por uvas finas. Então a gente plantou parreirais de uvas viníferas. E começamos.
Trabalhei com uva durante muitos anos e, no final dos anos 80, teve uma crise nas vinícolas. Não conseguia mais vender a uva toda.
E foi aí que a gente pensou em montar uma vinícola e começar a trabalhar com pequena quantidade.
Em 1989 mandei um filho, o Adriano (o mais velho), estudar enologia na Argentina. O Fábio (outro filho) estava fazendo enologia aqui. Eu pensei: preciso formar os enólogos para fazer o meu vinho, não é? E mandei os dois estudarem enologia já pensando em abrir a vinícola.
A gente sempre gostou de vinho, mas vinho vinífero a gente aprendeu a gostar depois, trabalhando.
No início era complicado, a gente estava acostumado com as uvas comuns. Na roça, tomava café da manhã com um copinho de vinho. No final da tarde, a gente procurava uma sombra e fazia um lanche com salame, queijo e um copo de vinho.
Fizemos a vinícola e a Miolo começou devagarzinho. Não foi fácil no início... Fazer o nome da vinícola, principalmente, porque ninguém conhecia. É que a gente venceu pela qualidade e pelo trabalho. Muito trabalho.
O primeiro vinho foi feito em 1990. A gente terceirizava tudo, até o engarrafamento, porque não tínhamos equipamento. Quando começou mesmo a venda, foi em 1994, 1995... Foi aí que a Miolo começou a crescer.
E aí depois ela despencou. Mas uns anos para a frente a gente começou a construir. Deu dois anos agora que a gente parou de construir.
Compramos uma área no Vale do São Francisco em 2000. Começamos a levar uva para lá e a testar para ver se a gente conseguia fazer o espumante moscatel.
Não tinha nada lá naquela época, uma ou outra empresa além de nós. O projeto deu certo e começamos a construir lá então.
Depois adquirimos área em Bagé e em Candiota, e começamos a plantar mais uva vinífera. Foi indo, foi indo e eu comprei a Almadén.
Muitas vezes a gente pensa no que aconteceu e não parece verdade. A gente sempre ocupado, sempre trabalhando, não pensa no que está se passando, não é?
Hoje, sim, a gente pensa. É claro que é um patrimônio enorme. A gente tem muitas coisas e tem que trabalhar bastante para segurar tudo isso agora (risos).
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