Após operar tumor, mulher completa sua primeira meia-maratona
"Eu comecei a correr há cinco anos. Comecei, na verdade, porque eu estava bem gordinha e depressiva. Só ficava enfurnada dentro de casa, não queria sair, nada. Com uns três meses de corrida, já comecei a melhorar.
A disposição que dá é bom! Eu levantava cedo, às 5h30, e às 6h já estava correndo. Voltava, tomava banho e ia trabalhar. Estava com 80 kg e emagreci 15 kg em mais ou menos um ano. Falei: "Nossa, nunca mais vou parar".
Descobri que tinha câncer em abril de 2010. Eu fazia um tratamento dentário e uma tomografia mostrou uma mancha no osso. Era um tumor na mandíbula.
TRATAMENTO
Quando minha médica me mandou para o Erasto [Gaertner, hospital oncológico de Curitiba], chorei um monte.
Pensei: "Agora eu vou morrer". Porque eu olhava o Erasto achando que todo mundo que estava ali não tinha mais volta. Foi bom que vi que não é desse jeito. Os médicos me explicaram que ia ser preciso fazer uma reconstrução da mandíbula.
O doutor Laurindo Sassi (cirurgião bucomaxilofacial) foi muito amoroso. Ele falou: "Olha, a gente vai fazer a cirurgia, mas continue correndo até lá". Porque ele sabe que faz bem, né?
Continuei correndo todos os dias. Eram 18 km, daqui até a rodoviária. Dava uma hora e quarenta minutos.
Demorou quase um ano até a cirurgia, porque o hospital sobrevive de doações; então, eles não tinham condições de fazer uma cirurgia grande. Era uma equipe de uns 20 médicos para realizar uma cirurgia de 12 horas.
Ela foi marcada para o dia 4 de abril deste ano. Tiraram minha mandíbula e o ossinho da fíbula, da perna esquerda. Usaram esse osso para reconstruir a mandíbula. Depois, o médico me falou: "Nilza, procure um outro esporte, porque eu acho que a corrida vai ser difícil para você". Mas eu não queria; eu gosto de correr. Pus um desafio para mim, de voltar a correr. Porque não era uma coisa impossível. O que te comanda é o teu psicológico.
Se teu psicológico está bem, você vai embora.
Fiquei 26 dias com sonda, quatro dias sem falar, com o rosto todo inchado. O médico falou que, em três meses, eu poderia voltar a caminhar. Eu pensei: "Não. Vou caminhar com dois meses". Nem contei para ele.
Eu caminhava normal. Quer dizer, fica diferente. O pé não é mais igual, nunca mais vai ficar. Só que eu não coloco isso na minha cabeça. Eu nem penso nisso.
No começo, minha perna estava dura, inchada, não podia nem sequer virar o pé. Mas eu ia, porque sabia que ia me fazer bem. Caminhava mancandinho, mas ia.
Depois que comecei a caminhar, tudo começou a melhorar. A perna desinchou, o rosto melhorou. Com três meses de cirurgia, fiz uma corrida de 5 km; não parei nem um minutinho. Fiz em 33 minutos. Depois, levei a medalha para o médico. Ele nem acreditou.
Tive que fazer fisioterapia, para o rosto e para a perna. Sempre que o tempo estava bom, eu ia correndo. Pegava minha mochilinha e ia.
Mas não podia contar para as meninas [fisioterapeutas], porque elas não gostavam; diziam que precisava fortalecer a perna antes. Mas a perna já estava boa! Dá 16 km: oito para ir e oito para voltar.
RESULTADOS
Já fiz oito corridas desde a cirurgia. Seis de 5 km, uma de 11,6 km e a subida da serra da Graciosa (no litoral paranaense), de 20 km.
Esse foi meu maior desafio. Quando fui correr, pensava: "Nossa, será que vou conseguir subir?". Eu queria dar uma treinada, mas como é que ia treinar uma subidona daquela?
Falei: "Vai ser no grito, mesmo, na hora"! E foi gostoso chegar lá. Fiz em duas horas e trinta e sete minutos. Hoje, estou curada. Agora, só faltam os implantes de dente, mas isso não é nada. Ano que vem, pretendo fazer mais uma maratona. Este ano não dá, porque não dá para forçar muito, mas em 2012 eu prometo que faço. Para mim, foi uma superação poder voltar a correr depois de tudo. O importante é que estou com saúde."
Comentários