Radialista morreu após ter uma compressa esquecida no abdome, no Hospital Municipal de Matupá
Família aciona CRM e MPE por suposto erro de médicos
Os médicos Jairo Ceron Bertinetti e Hiury Dutra de Souza foram denunciados ao Conselho Regional de Medicina (CRM). A denúncia foi feita pela família do radialista Jovelino de Teixeira, que morreu aos 34 anos, após ser submetido a uma cirurgia para a retirada do apêndice, no Hospital Municipal de Matupá (695 km ao Norte de Cuiabá).
A família da vítima informou ao MidiaNews que também irá acionar judicialmente o Hospital Municipal de Matupá e a Prefeitura Municipal, como co-responsáveis pela morte do radialista.
Um inquérito policial foi instaurado pela Policia Civil de Colíder (650 km ao Norte da Capital), para apurar as responsabilidades no caso. A família revelou que já comunicou à seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na cidade e que também irá acionar o Ministério Público.
Jovelino de Teixeira foi internado no dia 26 de julho com fortes dores abdominais. Após realização de uma ultrassonografia, o radialista foi encaminhado para a cirurgia de retirada do apêndice, no dia 28 de julho.
O procedimento foi realizado pelo médico Jairo Ceron, com inscrição de número 1813 no CRM. O sistema de consulta do Conselho identifica o profissional como médico obstetra e ginecologista, e não cirurgião.
Ceron foi auxiliado na operação pelo médico Hiury Dutra, com inscrição de número 6250. O sistema não identifica a especialidade do profissional.
No dia 30 de julho, o paciente teve o quadro de saúde agravado e a família solicitou transferência para o Hospital Regional de Colíder (HRC). Assim que deu entrada na unidade de saúde, Jovelino foi encaminhado para uma cirurgia de urgência.
Os médicos que atenderam ao radialista em Colíder fizeram uma limpeza e lavagem no local da cirurgia realizada em Matupá. Foi constatado que haviam fezes espalhadas em todo o abdome do jovem.
Os profissionais também fizeram uma cirurgia reparatória e constataram que o apêndice de Jovelino não havia sido retirado na operação feita em Matupá. Para piorar a situação, consta, em prontuários do HRC, que uma compressa (pedaço de gaze) foi encontrado dentro do abdome do paciente.
Jovelino foi conduzido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde ficou internado por 47 dias e morreu em 26 de setembro.
Descaso e omissão
O irmão de Jovelino, o jornalista Jair de Teixeira, residente em Colíder, disse ao MidiaNews que, desde o início da internação de seu irmão, foi percebido descaso por parte do Hospital de Matupá.
"Meu irmão foi internado e, mesmo com poucos exames, já indicaram a cirurgia, que foi feita por dois médicos que não têm habilitação para tal. O pior de tudo é que nem comunicaram à família. Meu irmão estava internado em estado grave, tínhamos que ter sido comunicado sobre o estado de saúde dele", disse.
Jair Teixeira disse, ainda, que a Secretaria de Saúde de Matupá está sendo omissa no caso, minimizando o ocorrido e mantendo os médicos no trabalho, sem nem sequer ter instaurado um processo administrativo para apurar as responsabilidades dos profissionais na morte de Jovelino.
"Eu falei com a secretária de Saúde, e ela minimizou o assunto. Ela já foi comunicada sobre a morte de meu irmão e sobre como tudo ocorreu e, mesmo assim, não abriu uma sindicância para apurar. Os médicos atuam normalmente, colocando outras vidas em risco", disse.
O jornalista afirmou que a família irá entrar com uma ação indenizatória contra o Município. "Não podemos deixar esse caso cair no esquecimento. Meu irmão lutou muito e tinha acabado de abrir a empresa dele, era um cidadão que contribuía para o crescimento da cidade e morreu dessa forma. Ele deixou uma filha com 14 anos, que mora em Sinop. O futuro dela tem que ser garantido, já que, agora, sem o auxilio do pai, as coisas não serão fáceis. O Município não pode se omitir e fingir que nada ocorreu. Todos podem ficar cientes que não vamos nos calar, até que seja feita a Justiça", enfatizou Jair.
Outro lado
MidiaNews entrou em contato com o CRM em Cuiabá, que se limitou a informar que, quando existe uma denúncia contra médicos, uma sindicância é aberta para apuração de responsabilidades.
Sobre o caso em específico de Jovelino, a assessoria disse que não pode se pronunciar, uma vez que as investigações correm em sigilo.
Já no Hospital Municipal de Matupá, a informação é que os médicos continuam trabalhando normalmente.
A administração informou que não foi comunicada oficialmente sobre a ocorrência, e disse também que a responsabilidade de apuração sobre o "possível erro médico" é da Secretaria de Saúde Municipal.
Ao MidiaNews, a secretária de Saúde de Matupá, Ana Campos, minimizou a ocorrência, e negou saber da existência de um inquérito policial que apura o caso.
Ela disse à reportagem que não sabe de nenhuma irregularidade no atendimento prestado à Jovelino. E acrescentou ainda que os dois médicos envolvidos o caso continuam "trabalhando normalmente".
"Eu não estou sabendo de nenhum inquérito, fiquei sabendo disso agora. Mas, posso dizer que, se houve erro, não tenho competência para dizer nada sobre o assunto. Eu não sou médica, sou administradora. Não fui avisada de nenhum erro médico nesse caso. Pelo que me falaram, esse paciente tinha alguma enfermidade, que ocasionou a morte", disse a secretária.
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