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Internacional
Sábado - 29 de Outubro de 2011 às 13:36

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Marina Lang/Folhapress
Capa da revista THC, vendida desde 2007 nas bancas de Buenos Aires
Capa da revista THC, vendida desde 2007 nas bancas de Buenos Aires

Embora o mercado editorial argentino seja pródigo em títulos, não é segredo que a presidente recém-reeleita Cristina Kirchner vive às turras com jornais como "Clarín" e "La Nación".

Mas nesse ambiente em que a liberdade de imprensa não vive um mar de rosas com a Casa Rosada, as bancas de Buenos Aires vendem uma publicação cujo nome alude ao tetrahidrocanabinol -ou THC, na sigla em inglês-, o composto alucinógeno presente na maconha.

A revista "THC", vendida em bancas desde 2007, há cerca de dois anos passou a ser distribuída também no Uruguai. Em edições bimestrais, a revista dá informações sobre uma cultura que, por seu próprio status de ilegalidade, ganha foros de questão política e comportamental.

"Existe mobilização em todos os países da América Latina, seja na forma de lojas de cultivo ou evento cultural underground. Há bibliotecas "canábicas" no México, ou mesmo outras publicações", afirma Alejandro Sierra, diretor-executivo da "THC".

Os portenhos ainda contam com pelo menos mais duas revistas que contemplam o assunto: a modernosa "Haze" e a revista "Mano", de cultura hip-hop.

"Calculo que em quatro anos tenhamos aqui na Argentina cinco periódicos, e as publicações continuam surgindo na América Latina. No dia em que tivermos quatro ou cinco revistas assim em cada país sobre a temática, trabalhando juntas e apontando para o mesmo lado, vai faltar muito pouco para uma mudança", prevê Alejandro.

A revista "THC" se divide entre notícias, artigos de opinião e uma metódica seção dedicada ao cultivo da planta Cannabis sativa em todas as suas formas.

Celebridades da música e da televisão argentina são estampadas na capa, revelando seus hábitos de consumo do "faso" (gíria popular argentina para maconha) em entrevistas ousadas -o vocalista da banda Babasónicos, Adrián Dárgelos, aparece na capa da edição de setembro afirmando que a maconha "deveria ser plantada por aposentados e distribuída nas quitandas".

No Brasil, os defensores da legalização da maconha alegam que a criminalização do usuário sustenta a manutenção da corrupção policial e da criminalidade nas favelas. Já na Argentina, é costume encarar a questão por outro viés: o da legalização do cultivo como arma de enfraquecimento do tráfico.

"O cultivo doméstico na Argentina está explodindo", diz Sierra. "Um dado que temos que é fantástico é o fato de que, na capital (Buenos Aires), existem 4.800 bancas de jornal que vendem a revista e, desses jornaleiros, estima-se que cerca de 30% começaram a plantar maconha depois que ela saiu. É gente que comprava o prensado paraguaio regularmente e enxergou na "THC" outra opção."

A revista foi lançada com circulação de 8.000 exemplares, e, ao fim de 2010, esse número já havia sido mais que quadruplicado, chegando a 35 mil revistas por bimestre -cerca de 2.000 delas são vendidas no Brasil.

Antes de chegar às bancas, o número zero da revista foi enviado para um público específico: todos os deputados e senadores argentinos receberam em seus gabinetes uma prévia, para que tivessem a chance de conhecê-la em primeira mão. A iniciativa deu certo, e a legalidade da revista nunca chegou a ser contestada.

No Brasil, Alejandro enxerga um cenário um pouco diferente: "estive no Brasil há pouco tempo e o que me surpreendeu é que todo mundo tem a palavra apologia na ponta da língua. Os policiais, as pessoas no bar, na praia, todo mundo. E o crime de apologia é uma barbárie, um grande problema contra a difusão da informação. O que sentimos que falta é justamente a informação clara e real, alguém que possa dizer "isso é ruim, assim é melhor"". 






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