O G1 apurou que até mesmo os funcionários da unidade estão recolhendo dinheiro entre si para manter a alimentação dos jovens. A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sedujh) informou que é responsável apenas pela alimentação dos menores que cumprem sentença judicial no socioeducativo.
O G1 esteve no local e encontrou na frente da delegacia diversas mães dos adolescentes aguardando o horário para entregar a marmita aos filhos. Uma delas é a doméstica Flávia da Silva Gama. Ela contou ao G1 que seu filho, de 16 anos, está há sete dias no local e que desde então leva comida ao filho. Ela reclamou que não é qualquer recipiente que entra na unidade. “Não tem condições da gente pagar marmita todos os dias como eles querem, E se a gente não tem dinheiro?”, questionou.
A doméstica disse também que em alguns casos ela tem que pedir ajuda a outras pessoas para conseguir levar comida ao filho. “A gente pede ajuda para a patroa, para parentes e até amigos para não deixar ele passar fome. Nós apelamos para o primeiro que aparecer na frente. Se a gente deixar nossos filhos dentro de casa sozinho para ir trabalhar, durante sete dias, logo o Conselho Tutelar e polícia aparecem para levar o filho da gente. Agora, deixar preso em uma cela cheia e com fome, pode”, desabafou.
Mães aguardam liberação para levar comida aos
filhos (Foto: Deivison Almeida / G1)
A reportagem visitou os quartos de custódia para conversar com os adolescentes. Um deles, de 16 anos, contou que além de ser comum o mau-cheiro nas celas, os leitos não são suficientes a todos. “Estou há seis dias sem comer nesse lugar. Estou dormindo no chão porque está cheio. Além do que aqui dentro [da cela] está cheio de insetos, estou com medo de pegar alguma doença. A cela está fedendo e nem banho estamos podendo tomar”, relatou.
De acordo com a administração do local, o correto é que cada cela abrigue apenas quatro adolescentes. Além disso, o tempo limite de permanência dos jovens na DEA, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), não deve passar de cinco dias. A administração da delegacia informou ainda que notificou há um mês os problemas ocorridos à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), pasta responsável pelo sistema prisional do estado.
Outro lado
O G1 procurou a Sejudh que informou que a pasta é responsável pela alimentação dos adolescentes a partir do momento que eles são encaminhados ao sistema socioeducativo. Já a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) disse que é responsável apenas pela alimentação dos policiais e funcionários da DEA e não tem nenhuma obrigação em fornecer alimentação aos jovens.
Já a Polícia Civil também foi procurada e disse, via assessoria de imprensa, que a alimentação dos menores é de responsabilidade do sistema prisional. Mesmo assim, o órgão prometeu que a alimentação será regularizada a partir deste final de semana.
Em relação à superlotação, a Polícia Civil disse ainda que o problema acontece por conta da demora das sentenças judiciais que são as que decidem pela permanência ou não dos menores no Centro Socioeducativo de Cuiabá.
Comentários