O deputado distrital Chico Vigilante (PT) divulgou na tarde desta terça-feira (8) um vídeo em que o ex-funcionário da empresa União Química e Farmacêutica Daniel Tavares nega que tenha pagado propina ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, quando ele ocupava uma diretoria na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Um dia antes, na segunda (7), a deputada distrital Celina Leão (PSD) distribuiu cópias de um extrato de transferência de R$ 5 mil da conta de Tavares para a de Agnelo em 2008. Em nota, Agnelo disse que o depósito era referente à devolução de um empréstimo feito a Tavares.
Celina afirmou que gravou, junto com a deputada Eliana Pedrosa (PSD), um depoimento em que Tavares confessa ter pago R$ 50 mil a Agnelo pela liberação de um medicamento em 2008. Os R$ 5 mil depositados na conta do governador era parte do valor supostamente acertado para a liberação.
Em nota divulgada nesta segunda-feira, a União Química confirma que Tavares trabalhou na empresa, mas negou irregularidades. Segundo a nota, "é totalmente improcedente qualquer denúncia feita por essa pessoa [Tavares]".
No vídeo divulgado por Vigilante, Tavares reafirma a versão do empréstimo dada por Agnelo. “Isso foi uma quantia que ele tinha me emprestado numa fase em que eu estava com muita dificuldade e assim que eu tive condições financeiras, ressarci o dinheiro. Foi uma transferência bancária. Não tem nada a ver com outra coisa. É simplesmente um dinheiro que ele me emprestou e que tinha que pagar para ele”, diz na gravação.
A gravação divulgada por Chico Vigilante foi feita após publicação de reportagem do G1 às 19h17 desta segunda-feira. As imagens mostram Tavares falando com o texto do G1 na tela de um computador. Vigilante não revelou a origem do material.
Na gravação divulgada na tarde desta terça, Tavares diz que passa por dificuldades financeiras porque está há mais de um ano sem trabalho registrado, e diz ter sido procurado para dar um depoimento contra o governador. Ele não cita nomes e nega que tenha falado mal de Agnelo.
“Várias pessoas de Brasília, de fora de Brasília, me ofereceram para falar contra o governador Agnelo. Eu não fiz isso, eu não fiz isso. Tenho umapreço muito grande pelo governador, foi uma pessoa que me ajudou no passado. Eu o conheço desde 1998, quando fomos militantes pelo PCdoB. Desde 1998 tenho uma amizade muito boa por ele.”
Tavares negou que tenha denunciado Agnelo às revistas Época e Veja. O G1 procurou as assessorias das publicações e aguarda resposta.
Depois da divulgação do material, o governador do DF divulgou nota. O texto diz que "é com grande sentimento de repúdio que estamos diante da comprovação dos mecanismos criminosos que o submundo da política se utiliza no Distrito Federal”.
"Depoimento comprado"
Nesta tarde, na tribuna da Câmara do Distrito Federal, as deputadas Celina Leão e Eliana Pedrosa (DEM) negaram ter dado dinheiro a Tavares para que ele incriminasse Agnelo.
A negação foi em resposta a uma entrevista dada mais cedo por Tavares à TV Record, em que ele afirmou que foi procurado pelas deputadas para dar um depoimento dizendo que pagou propina a Agnelo.
As deputadas se defenderam no plenário da Câmara. Celina negou qualquer negociação financeira em relação ao depoimento. Eliana disse que Tavares chegou a pedir dinheiro após fazer a denúncia, o pedido teria sido negado.
"Ele pediu dinheiro ou um emprego com boa remuneração porque precisava sair de Brasília por estar sendo ameaçado de morte", disse Eliana.
Segundo ela, o assunto surgiu no momento em que Tavares iria assinar seu depoimento. Diante da negativa da deputada, ele teria saído dizendo que iria buscar documentos e não voltou mais, de acordo com ela.
Em seu discurso, Celina Leão desafiou Tavares a fazer uma acareação e a abrir seu sigilo telefônico. "Eu o desafio. Coloco à disposição da PF minha conta bancária, meu sigilo telefônico. O Daniel coloca o dele?", questionou.
A deputada diz ainda ter trocado mensagens de celular que mostrariam que Tavares pretendia depor nesta segunda-feira na Comissão de Direitos Humanos e Ética da Casa. Tavares faltou ao depoimento. "Ele só pode ter sido procurado por alguém depois, para mudar de ideia. Se ele foi pressionado, o sigilo telefônico vai mostrar", disse.
Após o discurso, Celina disse que entregaria a gravação do depoimento dele às deputadas para a Polícia Federal. A deputada disponibilizou uma transcrição do depoimento gravado por Tavares. O documento diz que ele teria revelado conhecer Agnelo em um jantar do PCdoB em 2005, que ele facilitava a emissão de documentos da União Química e que repassava a Agnelo recursos transferidos a ele pelo presidente da empresa.
A transcrição do depoimento de Tavares traz a descrição de diversos pagamentos de suposta propina. Um caso relatado é o da venda de "6 ou 7" carros, cujo dinheiro da venda teria sido entregue a Agnelo. Também há o relato da entrega de R$ 70 mil ao governador.
O deputado Chico Vigilante disse que o depoimento tomado pelas deputadas é “irregular”. “Como se diz que a comissão ouviu o Daniel se não fomos chamados nenhuma vez para participar? Essa audiência é no mínimo irregular. Se não foi feita com a participação de todos, não é correto, transparente e não tem validade”, afirmou.
Nesta terça, Agnelo disse ser vítima de uma “armação criminosa”. “O que está acontecendo é uma armação, estou sendo denunciado por uma organização criminosa que governou Brasília, continua montando dossiês, pagando testemunhas. É isso que está acontecendo aqui. Não tem absolutamente nada a não ser armação criminosa. E isso, eu tenho certeza, de que na Justiça e na realidade, nós vamos desmascarar", afirmou.
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