Frustração leva americanos comuns a se candidatarem à Presidência
Em um momento em que pesquisas de opinião mostram mais e mais americanos frustrados com os rumos do país e com os políticos tradicionais, cidadãos comuns estão se inscrevendo para disputar a Presidência dos Estados Unidos.
Até a noite desta quinta-feira, 283 pessoas haviam apresentado sua candidatura para a eleição presidencial de 6 de novembro de 2012, segundo a Comissão Eleitoral Federal (FEC, na sigla em inglês).
Ao lado do presidente Barack Obama, que busca a reeleição, e de políticos tradicionais, como o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, líder das pesquisas de intenção de voto do Partido Republicano até agora, a lista traz os nomes de dezenas de desconhecidos, a maioria independentes ou filiados a partidos menores.
O número alto de candidatos não é novidade, e a tendência se repete a cada eleição. A maioria não irá adiante na disputa e nunca terá seu nome inscrito na cédula de votação, uma etapa bem mais difícil do que a apresentação da candidatura, com regras diferentes em cada Estado.
No entanto, analistas afirmam que a atual crise econômica, a alta taxa de desemprego e a desilusão com os dois partidos principais - Democrata e Republicano - foram os fatores que motivaram muitos dos atuais candidatos a tentar a sorte na corrida pela Casa Branca.
"Essas pessoas estão de alguma maneira frustradas com os políticos tradicionais, ou não teriam decidido concorrer elas próprias à Presidência", disse à BBC Brasil Richard Kimball, presidente do projeto Vote Smart, que reúne e distribui informações sobre candidatos políticos nos Estados Unidos.
"Mas também há um grande número de pessoas que resolvem se candidatar apenas por brincadeira", afirma.
PERFIL
Uma leitura mais atenta da relação de candidatos revela, entre muita gente que aparentemente entrou na disputa apenas por diversão, vários exemplos de frustração com os grandes partidos e com a crise econômica.
"Nós não podemos mais ficar parados e acreditar que um homem ou nosso governo vai fazer algo para trazer as coisas de volta ao normal", escreve o candidato independente Andre Barnett na página de sua campanha.
Ex-militar, Barnett se define como "um verdadeiro patriota" e diz ter decidido se candidatar após perceber que as divisões políticas não vão ajudar o país. Ele promete "não ficar parado e assistir a esse grande país continuar a ser liderado pela burocracia corporativa".
Os perfis de alguns candidatos também mostram influência do movimento Ocupe Wall Street, que começou há dois meses nas ruas de Nova York e se espalhou pelo país em protestos contra as desigualdades, o desemprego e as grandes corporações.
"Nós precisamos de uma nova política para os outros 99% da América que não ganha salário de executivo-chefe ou assina cheques gordos para os políticos", diz Jill Stein, candidata pelo Partido Verde.
A frase é uma referência a um dos slogans do Ocupe Wall Street, que se define como "os 99%", em referência ao fato de não pertencer à parcela de 1% dos americanos que controlam a maior parte das riquezas do país.
PARTIDOS
Além dos independentes, e dos candidatos tradicionais ligados aos democratas ou aos republicanos, a lista traz representantes de diversos partidos menores, como o Verde, o Libertário, ou o Reformista, entre outros.
As dificuldades que candidatos filiados a esses partidos ou os independentes enfrentam para aparecer na cédula da eleição geral é motivo de discussão no país.
"Os Estados Unidos são o único país que se diz livre e, ao mesmo tempo, faz o possível para intimidar outros partidos políticos (além do Democrata e do Republicano)", disse à BBC Brasil o especialista em lei eleitoral Richard Winger, editor da publicação mensal Ballot Access News, que trata do acesso à cédula nas eleições americanas.
Em um levantamento de todas as eleições presidenciais realizadas nos Estados Unidos desde 1856, Winger diz que nunca houve ano em que a cédula tivesse mais de cinco nomes além do republicano e do democrata.
Para a votação do ano que vem, Winger diz ter esperanças de ver "três ou quatro" candidatos fortes fora dos dois partidos principais.
Ele cita Ron Paul, que, segundo rumores, poderia concorrer como independente caso não ganhe a indicação do Partido Republicano. Menciona também os esforços do grupo "Americans Elect", que propõe um "processo alternativo de nomeação" de um terceiro candidato pela internet e já tem mais de 2 milhões de assinaturas, segundo seu site.
Winger aposta no impacto que o nível de frustração atual dos americanos terá na eleição de 2012.
"Sempre que a economia vai mal, cresce o interesse por novos partidos e candidatos", afirma.
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