Ex-craque brinca e diz que calor cuiabano é um duro adversário e cobra obras da Copa 2014
Para Romário, Cuiabá seria "castigo" para a Argentina
O deputado federal Romário de Souza Farias (PSB-RJ) ainda não esqueceu a maneira calorenta - e também calorosa, vale registrar - como Cuiabá o recebeu, no dia 15 de agosto passado, quando, na condição de membro da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados, esteve na capital mato-grossense, em vistoria das obras visando à Copa do Mundo de 2014.
Para o ex-jogador de futebol - campeão mundial em 1994 e eleito o melhor jogador do mundo no mesmo ano -, o forte calor, que é uma marca registrada da cidade, seria, quando nada, uma forma de "punir" alguns dos principais adversários do Brasil.
Em entrevista publicada na última edição da revista masculina Playboy, Romário disse que, se coubesse a ele a responsabilidade de definir a cidade-sede onde ficaria o time da Argentina, essa cidade será Cuiabá.
A resposta do deputado foi em tom irônico, num misto de provocação, o que levou um assessor a alertá-lo de que isso poderia lhe causar problema, já que a observação poderia ser entendida como uma discriminação.
Com a habilidade peculiar para jogadas de efeito, o ex-craque se corrigiu: "Mas só pelo calor. Infelizmente, os cuiabanos não vão gostar muito do que eu disse. Das cidades que eu fui, é o lugar mais quente em que já estive. Mas, a cidade é maneira, o pessoal lá me trata muito bem", emendou, em entrevista à jornalista Adriana Negreiros.
Com efeito, quando esteve na cidade, em agosto, Romário visitou (ou tentou visitar) o canteiro de obras da Arena Pantanal, o estádio de Cuiabá para a Copa do Mundo, no bairro Verdão.
Como MidiaNews revelou na época, o forte calor, numa abafada tarde de segunda-feira, passava de 40 graus, e o deputado desistiu de entrar no canteiro, pois sentiu indisposição.
A inusitada situação fez o ex-craque da Seleção Brasileira reclamar de tontura e desistir de participar da inspeção técnica. "É mais fácil fazer mil gols do que enfrentar esse calor de Cuiabá. Sou carioca e acostumado com o calor, mas aqui é complicado", brincou, ao falar aos jornalistas.
Problemas
Na entrevista à revista, Romário previu que a Copa do Mundo do Brasil vai ter sérios problemas, em todos os sentidos. "Problemas de estádios, transportes, mobilidade urbana, saúde. Além disso, os brasileiros das classes C, D e E, que são as pessoas que vivem o futebol, vão para o estádio e ajudam seus clubes, não vão ver os jogos. Hoje se fala que os ingressos vão custar de 120 a 150 reais. Imagina daqui a três anos! Nada contra, mas quem vai pagar 150 reais para ver Japão x Nigéria?", observou.
Para o deputado, o legado da Copa não pode ser só de estádios bonitos e bons aeroportos. "Temos de ter um legado relacionado à saúde e à educação. Se os turistas que vêm para a Copa tiverem de ir para um hospital público... Você já viu os hospitais que temos? São uma vergonha!", disse.
Estádios
Depois de visitar os 12 canteiros de obras de arenas (em construção e/ou em reforma), Romário disse ter chegado à conclusão de que oito ou nove estádios vão ficar 100%. Mas, não citou nomes.
"Vai ter uma maquiagem para receber o pessoal. Por exemplo, agora já estão querendo dar feriado no dia dos jogos. Por quê? Para maquiar os problemas! Feriado em dia de jogo é maquiagem para os problemas de mobilidade urbana, dos aeroportos, da chegada das pessoas nas sedes dos jogos", completou.
Entraves
Durante oito meses, Romário e outros parlamentares integrantes do Fórum Legislativo das Cidades-Sede da Copa do Mundo de 2014 visitaram as 12 capitais. E a avaliação final do ex-jogador é que os atrasos na construção das arenas são entraves menores, se comparados aos problemas que os torcedores enfrentarão em 2014 nos aeroportos e nas obras de mobilidade urbana.
Em seu blog, o deputado carioca cita que, nos dois últimos casos, a maioria das obras ainda não foi iniciada.
Nesse período de inspeção, os parlamentares puderam conhecer, in loco, como todas as sedes têm se preparado para o Mundial (Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Natal, Salvador, Cuiabá, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Manaus e Brasília).
Em cada cidade, os governos locais apresentaram os projetos, custo e cronograma de execução das obras. Para Romário, no entanto, as apresentações não passaram de ficção.
“Depois da quarta visita, me acostumei a entender que iríamos ver um filme bem diferente da realidade”, declarou. O ex-jogador acredita que os governos “mascaravam” os problemas quando a comitiva estava nas cidades.
Antes crítico ferrenho dos atrasos na construção dos estádios, Romário hoje considera este como o menor dos problemas dos organizadores, mas alerta, sem apontar quais, que somente nove das 12 arenas estarão prontas a tempo para o campeonato.
“Não existe, por parte dos governos, nenhuma preocupação com o legado de educação, de saúde, das pessoas com deficiência e de mobilidade urbana. Isso é uma realidade muito triste”, lamentou.
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