Um misto de terras férteis, luminosidade e chuvas regulares têm atraído agricultores a investir na região Araguaia, situada na porção Nordesde do estado. Para a chamada "última fronteira agrícola", projeta-se um crescimento considerável na produção de grãos nos próximos anos a partir da incorporação de terras degradadas. Atualmente, o Araguaia possui 6 milhões de hectares em áreas de pastagem. É a maior de Mato Grosso, de acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Porém, apesar do otimismo, o agricultor sabe que vai precisar de no mínimo três anos para recuperar o investimento na conversão do solo e prepará-lo para receber os grãos. Isso implicaria, na maior parte das vezes, em um retorno considerado de médio prazo. Hoje, as 22 cidades da região têm a base econômica apoiada na pecuária e o cenário começa a mudar e o gado acaba cedendo espaço à agricultura.
De acordo com o Imea, dos 6 milhões de hectares de pastagens, um total de 3,1 milhões possui mais condições de ser usado na agricultura. São áreas planas, já abertas e de solo degradado, que podem ser adaptados para o plantio de grãos.
"A região ainda tem um potencial adormecido. É uma grande área com pastagens degradadas e que se a logística e as obras de infraestrutura acontecessem será o grande celeiro do estado", citou Carlos Fávaro, diretor-administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja).
Agricultor investirá na conversão de pasto.
(Foto: Leandro J. Nascimento / G1)
O produtor Hamilton Dauzáquio apostou na região. Ele é sócio de um grupo que atua no segmento agrícola e que transformará 50 mil hectares degradados em lavouras nos próximos anos. Inicialmente, 13,5 mil hectares já começaram a sofrer readequação nos municípios de Vila Rica e Santa Terezinha, distantes 1.276 e 1.329 quilômetros de Cuiabá, respectivamente.
"Estamos transformando as áreas velhas de pasto degradadas há 30 ou 35 anos, corrigindo-as com a lavoura. A última fronteira agrícola é a grande oportunidade", declarou, em entrevista ao G1. Para colocar em prática o planejamento, o grupo deve investir até R$ 1,3 mil por hectare para transformar o pasto em lavoura. Ou, em três anos, 150 sacas de soja por cada hectare.
Os irmãos Édio e Eloi Brunetta detêm 24 mil hectares distribuídos entre Porto Alegre do Norte, Canabrava do Norte e Confresa. Somente de soja serão 15 mil hectares e de milho outros 9 mil hectares. "Essa região do Araguaia é uma das poucas do Brasil e do mundo que têm áreas abertas consolidadas, pois estão degradadas e precisam ser recuperadas", frisou Edio.
A proximidade com os estados do Maranhão e Tocantins também favorece a retirada da produção agrícola. "A região é estratégica", resumiu Hamilton Dauzáquio.
Empecilhos
Mas quem resolveu plantar ainda enfrenta dificuldades para obter financiamentos junto aos bancos devido à ausência da Licença Ambiental Única (LAU) das propriedades. A chamada LAU é concedida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e autoriza a exploração florestal, desmatamento, atividades agrícolas e pecuária.
"A interpretação de vários bancos é que as áreas que estão abertas só podem ser exploradas desde que se tenha a LAU, mas enquanto não ser votado o novo Código Florestal, ou mesmo pela quantidade de projetos dentro da SEMA, é muito demorada [a emissão]", avaliou Édio Brunetta.
Uma das alternativas seria, segundo o produtor, que os bancos aceitassem o Cadastro Ambiental Rural (CAR) que, na prática, consiste no primeiro passo para o licenciamento ambiental das propriedades. Ele permite, por exemplo, o diagnóstico da situação dos imóveis. "Os produtores rurais estão se compromentendo a regularizar. O agricultor não quer degradar, mas ser parceiro a partir da recuperação das áreas degradadas", enfatizou Brunetta.
A conclusão das obras de pavimentação da BR-158 no estado também é esperada. Dos quase 800 quilômetros de extensão em Mato Grosso, 266 ainda faltam ser asfaltados. A rodovia funcionaria como uma artéria para o escoamento da produção para outros estados. A estrada federal começa em Altamira (PA) e passa por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, terminando em Santana do Livramento (RS), na fronteira com o Uruguai.
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