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Internacional
Sábado - 26 de Novembro de 2011 às 03:27

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Quase nove meses após sofrer uma redução drástica de turistas devido à violência que tomou conta das ruas do Egito em fevereiro deste ano, durante os protestos pela queda do regime de Hosni Mubarak, o famoso mercado de Khan Khalili, no Cairo, volta a padecer da debandada de visitantes, em meio à nova onda de manifestações.

Para quem chega a Khan Khalili, o movimento nas ruas dá a impressão de que os negócios vão bem. Mas, entre os clientes, não há quase nenhum turista estrangeiro, justamente os que mais gastam no comércio local.

Enquanto conversa com a reportagem da BBC Brasil, Mahmoud Abdel al Nabi fuma, tranquilamente, uma narguile no mais famoso café de Khan Khalili, local que ele frequenta todos os dias.

"Com pouco movimento há meses, o que mais gosto de fazer é vir aqui para fumar e tomar um café", disse ele.

Desde o levante popular que derrubou o ex-presidente Mubarak, os negócios do setor turístico caíram drasticamente.

Segundo Al Nabi, um dos líderes da Associação de Comércio do local, o último verão, entre junho e setembro, não foi o suficiente para reerguer o combalido comércio local.

"As lojas continuam abarrotadas de mercadorias. Alguns turistas vieram, mas não foi o bastante. Alguns estabelecimentos até fecharam as portas", enfatizou ele.

Quando a nova onde de protestos teve início, em 19 de novembro, Khan Khalili sofreu um novo golpe: a fuga dos poucos turistas que ainda frequentavam o local.

"Muitos comerciantes até pensaram em fazer uma manifestação à parte. Mas desistiram porque temiam que fosse interpretado como algo político", disse.

De acordo com dados do Ministério do Turismo do Egito, o setor era um dos propulsores da economia do país, sendo responsável por cerca de 8% da entrada de divisas e ocupando 10% de sua força de trabalho.

"As lojas continuam abarrotadas de mercadorias. Alguns turistas vieram mas não foi o bastante. Alguns estabelecimentos até fecharam as portas. Muitos comerciantes até pensaram em fazer uma manifestação à parte. Mas desistiram porque temiam que fosse interpretado como algo político".

Até os protestos de fevereiro, o turismo passava por um bom momento e vinha se recuperando do revés sofrido com os atentados no balneário de Sharm Al Sheikh, em 2005, que mataram 88 pessoas e afastaram os visitantes do país por um bom período.

Em média, 10 milhões de turistas visitavam o Egito a cada ano, movimentando mais de US$ 11 bilhões.

Não há dados recentes, mas o Ministério do Turismo já havia declarado no último verão que o setor não vinha se recuperando de forma satisfatória.

CULPADOS

Al Nabi se disse alheio aos acontecimentos políticos e aos confrontos na praça Tahrir, onde dezenas de milhares pediam a renúncia da junta militar que governa o país. Não enxerga culpados para a "desgraça que caiu sobre Khan Khalili".

"Culpados não existem. Só posso desejar que a situação melhore, a eleição de um governo civil forte para reerguer o país e melhorar o cotidiano da população pobre", disse.

"Até lá, não há o que fazer. De um lado temos militares incapazes de governar pelo simples fato de que são soldados, não políticos. E, do outro lado, temos partidos políticos diversos que não sabem para onde vão."

Ele disse que pretende votar nas eleições parlamentares marcadas para o dia 28 de novembro, mas vai votar em branco.

"Para mim, essa é uma forma de protesto, de que não estou satisfeito. Boicotar as eleições só beneficiará aqueles que pertenciam ao antigo regime."

TRAUMA

Funcionário de uma das lojas em Khan Khalili, Mohamed el Gebali disse que sua renda ficou ainda pior do que no início do ano.

Segundo o vendedor, a maior parte de seus rendimentos vinha da comissão que ganhava pelos produtos comercializados.

"O que ganho mal dá para sustentar minha família, mas não tenho muita escolha", disse o jovem de 26 anos e pai de três filhos.

El Gebali revelou que, nos protestos de fevereiro, foi espancado por simpatizantes de Mubarak perto da praça Tahrir. O vendedor foi um dos milhares de manifestantes a se concentrar no local, para pedir democracia.

"Depois perdi a esperança, por ver tanta instabilidade, a falta de empregos e a bagunça que o país virou. Fiquei com trauma de tanta violência", disse.

Ele opina que a saída de Mubarak foi uma vitória para o povo, mas que os atuais protestos perderam seu propósito.

"Nenhum governo é perfeito. Reformas exigem muito tempo e não se ajusta um país da noite para o dia. Especialmente um país como o Egito, que ficou 30 anos sob um regime", salientou ele.

Em outra loja, outro funcionário de Khan Khalili, Ahmad Abdel Rahman, disse que era contra os protestos na Tahrir.

"Sinceramente, muitos dos que estão lá não têm a menor ideia do que fazer. Eles só querem derrubar governos. Primeiro Mubarak, depois o governo provisório e agora os militares", disse ele.

Rahman se mostra extremamente irritado com os ativistas na praça Tahrir e os acusa de não pensarem nas consequências econômicas para o país.

"Nós estamos aqui sem ter o que fazer. Os turistas foram embora. Tudo que nos resta é abrir as portas, jogar xadrez ou cartas e depois fechar as lojas ao fim do dia e ir para casa. Isso não é reforma democrática."

 






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