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Internacional
Domingo - 27 de Novembro de 2011 às 21:30

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O egípcio Ibrahim al Mutawi anotava em seu bloco uma lista de tarefas na movimentada avenida 26 de Julho, em Zamalek, um dos bairros de classe média alta na capital Cairo. Ele e outros 40 moradores se reuniram para traçar metas a seguir para que as eleições parlamentares, que começam na segunda-feira, corram de maneira pacífica, ao menos em seu bairro.

Estas serão as primeiras eleições democráticas desde o levante popular em janeiro e fevereiro deste ano, que ocupou a praça Tahrir, no centro da capital, e levou à renúncia do ex-ditador Hosni Mubarak.

Desde então, o país passa por incertezas políticas e tensões entre grupos pró-democracia e a junta militar que assumiu o controle do país após a saída de Mubarak.

Protestos voltaram a tomar conta da praça Tahrir no dia 19 de novembro, com manifestantes exigindo a renúncia da junta militar. A mais nova onda de violência já deixou ao menos 36 mortos e centenas de feridos, e colocou muitos egípcios novamente em clima de hostilidade com as forças policiais --o que despertou dúvidas quanto ao clima pacífico no dia do pleito.

Mas al Mutawi afirma que, apesar da relação de desconfiança com a polícia, os moradores de Zamalek confiam nas autoridades para garantir um clima tranquilo para a votação.

"Não somos pretensiosos a ponto de fazer o trabalho da polícia, mas queremos fazer a nossa parte para que o pleito ocorra da melhor maneira possível aqui", disse ele à BBC Brasil.

Al Mutawi explicou que a associação de moradores, mais conhecida como Guardiões do Zamalek, foi fundada logo após a revolução do início do ano para garantir que as diferenças políticas não afetassem a harmonia do bairro.

Para as eleições, a associação colocará pessoas credenciadas nas três seções eleitorais para auxiliar as pessoas a votar.

"Sempre há pessoas que necessitam de auxílio para ir aos locais de votação ou pessoas menos esclarecidas que não estão cientes das regras para votar."

MORADORES ARMADOS

O bairro já é conhecido no Cairo por tomar medidas por conta própria, sem esperar ações das autoridades.

Nos protestos do início do ano, quando o governo entrou em colapso e as forças policiais foram retiradas das ruas, criminosos começaram a saquear lojas, prédios públicos e residências, e o medo tomou conta da população.

Moradores do Zamalek saíram às ruas armados com espingardas, revólveres e bastões para proteger a vizinhança, inclusive fazendo barreiras para pedir documentos de pessoas estranhas.

"Muitos do bairro têm licença para porte de armas e desta vez faremos vigília caso a polícia não consiga fazer a segurança. Mas (agiremos) somente em último caso, não queremos fazer o trabalho que cabe aos policiais", diz al Mutawi.

Entre fumos de narguilé e limonadas, o grupo de 15 pessoas traçou as funções de cada um, incluindo as de um grupo de cinco pessoas que ficarão encarregadas de andar pelo bairro em motocicletas para vigiar ruas e relatar à polícia brigas entre simpatizantes de partidos políticos.

Um dos "vigias motorizados" será Yehia, que pediu para que seu sobrenome não fosse mencionado.

Com ar tranquilo e sorridente, ele explicou que recebeu a recomendação da associação de moradores de não interferir em eventuais brigas.

"Não somos policiais. Mas usaremos celulares para avisar a polícia sobre confusões na área", declarou Yehia.

Sobre as eleições e o futuro do país, o jovem falou que ainda acredita no pleito e que, pela primeira vez, sente que os egípcios têm poder de decisão com seu voto.

"Estamos unidos em torno do pleito, com algumas diferenças políticas, mas sabemos que o voto democrático é uma conquista nossa. Por isso acho que temos que votar e não boicotar o pleito."

Mas a tarefa do grupo de moradores parece que não será fácil. Em meio aos preparativos do bairro, um grupo de simpatizantes de um partido político entrou em confronto com rapazes que distribuíam panfletos de um partido rival, e a polícia precisou intervir.

"Isso mostra que teremos um trabalho imenso no dia das eleições", disse Yehia.  






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