Dilma diz que Lupi só fica se explicar emprego duplo
A presidente Dilma Rousseff disse ontem ao ministro Carlos Lupi (Trabalho) que a única chance de ele permanecer no cargo até a reforma ministerial é fornecer explicações "convincentes" sobre o fato de ter ocupado, simultaneamente, dois cargos públicos por quase cinco anos.
O acúmulo ilegal, na Câmara dos Deputados em Brasília e na Câmara Municipal do Rio, foi revelado pela Folha ontem e resgatou no governo a disposição de vê-lo fora da Esplanada.
Lupi se reuniu ontem com Dilma no Palácio do Planalto para falar sobre a recomendação da Comissão de Ética de exonerá-lo, decisão que irritou a presidente.
Antes da reunião, ele disse a assessores em tom de brincadeira: "Estou pronto para voltar para casa".
Carlos Lupi saiu da conversa ainda ministro, mas com a determinação de se defender não só da questão do duplo emprego, mas também da recomendação da Comissão.
No governo, espera-se uma definição até o início da próxima semana. Dilma retorna de uma viagem à Venezuela no domingo, quando voltará a tratar do assunto.
"O ministro esteve aqui e disse que vai oficiar à Comissão de Ética pedindo os elementos da decisão, acho que inclusive a ata, para recorrer", afirmou Helena Chagas (Comunicação Social).
Interlocutores de Dilma avaliavam ontem que a revelação sobre o duplo emprego era mais problemática que a recomendação da Comissão.
Na Câmara dos Deputados, a reportagem levou à abertura de uma sindicância para apurar o acúmulo de funções públicas.
Na pior das hipóteses, o procedimento resultará na devolução do dinheiro recebido por ele no período.
Mas, politicamente, é uma demonstração de perda de apoio do pedetista.
Além de opositores do governo, que pediram ao Ministério Público para abrir uma ação civil pública e uma ação penal contra o ministro, pedetistas também disseram que a situação de Lupi piorou com a revelação do duplo emprego público.
CRIME
Questionado, o procurador da República, Roberto Gurgel, afirmou ontem que, "em tese", Lupi cometeu crime ao ter sido funcionário-fantasma da Câmara entre 2000 e 2006, fato também revelado pela Folha.
Gurgel disse que a questão da acumulação decargos pode até configurar "irregularidade administrativa" e "improbidade", mas não é tão relevante para a área criminal.
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