O resultado da perícia confirma a versão de testemunhas, de que o ônibus fazia uma ultrapassagem permitida por um caminhão-baú em um trecho de três pistas, quando foi surpreendido pela carreta, que teria invadido a contramão na curva.
A carreta bateu de frente com o ônibus que se chocou contra o caminhão-baú e foi parar no acostamento. Trinta e uma pessoas morreram na hora, entre elas o motorista do ônibus, e duas a caminho do hospital.
Em uma conversa informal com os policiais rodoviários federais, o motorista da carreta negou a culpa pelo acidente e disse que foi o motorista do ônibus quem invadiu a contramão. O motorista da carreta e o motorista do caminhão-baú vão ser ouvidos nesta segunda-feira, às 8h30, pela delegada Maria do Socorro Damásio, da cidade de Jaguaquara, que vai presidir o inquérito e apurar as responsabilidades e causas do acidente.
As investigações vão apurar também a situação do ônibus da empresa Transporte Coletivo Brasil (TCB). Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), ônibus da empresa rodam pelo Brasil todo sem registro na Agência Nacional de Transportes Terrestres e com uma determinação judicial que proíbe que eles sejam autuados e apreendidos.
A assessoria da Justiça Federal informou que não teria como falar neste domingo (4) com a juíza Ivani da Luz. Foi ela quem concedeu a liminar que proíbe que a Polícia Rodoviária Federal apreenda os veículos da empresa TCB, que não são cadastrados pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT).
Lavradores
Os lavradores mortos no acidente eram de Buíque, uma pequena cidade pernambucana, a 200 km do Recife. Um casal perdeu quatro filhos e três sobrinhos no desastre. A cidade de quase 50 mil habitantes foi toda atingida.
Em uma só casa, uma criança e quatro adolescentes perderam o pai na tragédia. O pai era Ivandildo, filho de seu José. No lugar dele, chegou a má notícia: Ivanildo estava entre os mortos.
Janeclécia Nogueira, de 17 anos, é a filha mais velha de Ivanildo. A comemoração do Natal já estava sendo preparada. “Tinha missa para a gente ir, tudo organizado para a gente passar o Natal em família. Todo mundo feliz, alegre, a família toda reunida”, conta.
A maioria das vítimas morava em sítios na zona rural de Buíque. Dona Marta da Silva e o marido receberam a notícia em casa: o casal perdeu no acidente quatro filhos e três sobrinhos. “Eu dizia: ‘Menino, fica dentro de casa, quando eu me aposentar eu ajudo você, muito ou pouco, mas eu ajudo vocês’”.
Na madrugada deste domingo, moradores de Buíque partiram para Jequié, na Bahia, para reencontrar os 13 sobreviventes da tragédia. Dona Sebastiana vive um misto de dor e alívio. O filho dela sobreviveu. “Ele me disse que pensou que ia morrer, mas graças a Deus, meu filho está bem.”
Mas ela perdeu dois sobrinhos e muitos vizinhos. Na zona rural de Buíque, todo mundo se conhecia. “Morreram quatro primos meus, um cunhado. É tudo primo, tudo família”. Dos 13 feridos, 10 continuam no hospital. O motorista da carreta, que teria causado o acidente, foi liberado apenas com escoriações.
Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) foi deslocado para o aeroporto de Vitória da Conquista para fazer o transporte dos corpos. O primeiro voo saiu por volta das 15h. Foram levados 14 corpos para Caruaru.
De Caruaru, o transporte dos corpos segue, por terra, até Buíque, onde serão devolvidos para as famílias, como a de Shirley Cavalcante. Grávida de oito meses, ela perdeu no acidente o pai do filho que ainda não nasceu. “Eu peço, não passem do limite, por favor. Eu só peço a todos que estão em casa, que pensem bem antes de entrar no carro.”
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