Filho de mentor de divisão no Pará condena projeto atual
"O projeto que foi apresentado pelo senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) não tem nada a ver com essa longa história de expectativas e aspirações sobre Tapajós", afirma Pinto, 62 anos, que também é contrário à criação do Estado dos Carajás, no sudeste.
Na opinião do jornalista, a descaracterização da proposta original, elaborada nos anos 1950, com a inclusão do vale do Xingu no território que integraria o Estado do Tapajós, criaria mais problemas do que soluções para a região.
A proposta sobre a criação dos dois Estados será objeto de um plebiscito no próximo dia 11, no Pará. Na consulta, os eleitores terão de opinar separadamente sobre a emancipação de Tapajós e de Carajás.
Pinto diz que, com a inclusão do vale do Xingu no projeto de Tapajós, o município de Altamira --onde o governo federal pretende erguer a hidrelétrica de Belo Monte-- ficaria subordinado a uma capital (Santarém) com a qual não tem qualquer ligação política e que fica quase tão distante quanto a atual capital, Belém.
"Vamos ter todos erros dessa centralização em Belém, longínqua, e nenhum dos benefícios que são prometidos de administração pública mais próxima dos cidadãos. Então esse projeto está falho no nascedouro, não posso concordar", afirma.
Segundo o jornalista, é preferível que Altamira continue subordinada a Belém, com quem já mantém alguma conexão política.
Nascido em Santarém, Pinto hoje vive em Belém e é responsável pelo único jornal brasileiro produzido por uma única pessoa, o Jornal Pessoal.
Autor de 12 livros sobre a Amazônia, Pinto é um crítico do modelo de exploração econômica em vigor na região, que, segundo ele, privilegia a exportação de recursos naturais e energéticos sem beneficiar a população local.
O trabalho como jornalista rendeu-lhe quatro prêmios Esso e dois da Fenaj (Federação Nacional de Jornalistas), que, em 1988, considerou o Jornal Pessoal a melhor publicação do Norte e Nordeste do país.
HISTÓRICO
Pinto diz que, mesmo antes do projeto de emancipação elaborado por seu pai (o deputado estadual Elias Pinto), que acabou rejeitado pela Assembleia Legislativa paraense, a separação do Tapajós já era defendida por moradores da região.
Segundo ele, a causa data de 1850, quando o Amazonas foi criado a partir do então Estado do Grão-Pará.
Como Santarém, fundada em 1661, está exatamente no meio do caminho entre Belém e Manaus, moradores locais esperavam que um Estado fosse criado ali para facilitar a administração da região.
Por se tratar de uma demanda histórica, diz Pinto, as ambições separatistas de Tapajós são vistas pelos moradores de Belém com mais simpatia do que as intenções de criar um Estado no sudeste do Pará, que seria batizado de Carajás.
Ao contrário do Tapajós, afirma o jornalista, Carajás é uma região de ocupação recente, com muitos moradores oriundos de outros Estados, especialmente o Maranhão.
Grande parte mudou-se para a região a partir dos anos 1960 para trabalhar na construção das rodovias Belém-Brasília e Transamazônica ou nas minas de ouro em Serra Pelada e no Projeto Grande Carajás, a maior jazida de minério de ferro do mundo, explorada pela Vale.
A ocupação acelerada da região ocorreu paralelamente à derrubada da maior parte de suas florestas e à expansão agropecuária, processos acompanhados de conflitos sociais que tiveram como ápice o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, quando 19 sem-terra foram mortos pela Polícia Militar do Pará.
IMIGRANTES
Para Lúcio Flávio Pinto, como grande parte da população da região é imigrante, muitos se consideram no direito de fundar um Estado.
No entanto, ele diz que a emancipação "consolidaria uma das maiores destruições que já ocorreram no Brasil e na história humana: a da floresta e dos recursos naturais do sul do Pará".
Pinto diz que, hoje, a região se parece mais com o sertão do Centro-Oeste do que com a Amazônia. "O adensamento dessa identificação (que ocorreria com a separação) vai provocar um desmatamento ainda maior e vai levar Carajás a uma situação próxima da de Rondônia", afirma o jornalista.
Além disso, Pinto diz que o poder econômico exercido pela Vale (responsável por 80% das exportações do Pará) transformaria a região em uma espécie de "governo paralelo" de Carajás, desequilibrando o setor público.
A BBC Brasil procurou a Vale para ouvi-la sobre a afirmação, mas a empresa afirmou que não comentaria qualquer assunto referente ao plebiscito no Pará.
ABSTENÇÃO
Embora os moradores de Belém e de suas cidades vizinhas, região que abriga cerca de 64% da população paraense, se oponham em sua maioria à emancipação de Tapajós e Carajás, Pinto acredita que os habituais altos índices de abstenção na capital poderiam permitir a vitória dos separatistas.
Caso ela de fato ocorra, o jornalista não prevê prejuízos financeiros ao que restasse do Pará, principal argumento da campanha contrária à separação.
Políticos de Belém dizem que, como a mineração nos Carajás é a principal atividade econômica do Estado, a emancipação da região esvaziaria os cofres públicos.
Mas Pinto afirma que a mineração voltada à exportação rende menos dinheiro aos cofres do Estado do que qualquer grande supermercado em Belém, já que a lei Kandir isenta da cobrança de impostos produtos destinados ao exterior.
Já em caso de derrota dos projetos separatistas, Pinto espera que os governantes tenham uma consideração maior sobre a extensão territorial do Pará.
"Não é que seja mau ter um Estado grande nem bom ter um pequeno: bom é ter o domínio da territorialidade, mas mudando a feição do processo de desenvolvimento", afirma.
"Se saírem os três Estados, serão três Estados em conflito, pobres, que vão perder cada vez mais a identidade amazônica que eles tinham."
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