"Não precisava informar Dilma", diz Pimentel sobre consultoria
Em entrevista à Folha na noite de quinta-feira (8), Pimentel disse: "Não havia a menor necessidade de informá-la porque não tem nada irregular. Por que eu tinha de informar à presidente desses contratos se não tinha nada de irregular? Não tinha nem tem".
Pimentel prestou consultoria nos anos de 2009 e 2010 e recebeu cerca de R$ 2 milhões. Há suspeitas de possível tráfico de influência nessa atividade, o que ele nega.
Até agora eram conhecidas quatro clientes do ministro como consultor antes de entrar para o governo. Na entrevista, ele revelou uma quinta empresa para a qual deu uma palestra em 2009.
Por essa palestra, Pimentel recebeu R$ 5.000. Citou então o caso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que teria ido há algum tempo a Minas Gerais e dado uma palestra para a Fiemg --a federação das indústrias daquele Estado:
"O Fernando Henrique ganhou R$ 80 mil, mas ele é ex-presidente, não é? É outra coisa?"
Alan Marques/Folhapress | ||
Ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento e Indústria) durante entrevista à Folha |
O ministro reuniu todos os contratos e notas fiscais sobre seus trabalhos privados. Mostrou para a Folha, mas disse que não permitiria que fossem feitas fotocópias. Às vezes exaltado, repetiu que não fez nada de irregular.
"Eu nem precisava ter explicado nada, pois isso tem a ver com 2009 e 2010, quando eu não era nada. Não tinha cargo público (...) Eu estou falando porque eu acredito na liberdade de imprensa."
A seguir, a transcrição da entrevista:
Folha: Qual é a sua relação com o senhor Roberto Sena, da empresa HAP?
Fernando Pimentel: Eu sou amigo do Roberto. É uma pessoa que é um empresário que é conhecido em Belo Horizonte e tem relações de amizade comigo.
Há quanto tempo?
Um bocado de anos. Uns 15, por aí. As minhas relações com ele são conhecidas. Eu sou amigo de muitos empresários. Aliás, eu diria que quase todos os empresários de Belo Horizonte são meus conhecidos. Os que não são amigos é porque eu não os conheço, porque a maioria é de amigos. Eu fiquei 16 anos na prefeitura [de Belo Horizonte]. Tive contato com todo esse povo. Do ramo de construção, de indústria, de comércio. Aliás, eu sou de uma família de comerciantes. Meu pai foi comerciante. Então é natural que eu tenha relações com empresários.
E não há nada de clandestino nisso. O Roberto Sena doou dinheiro para a minha campanha. Eu já vendi um lote para ele, algo que publicaram dizendo que era uma grande revelação. É como se alguém quisesse ocultar algo. Se você quer ocultar você não vende um lote para uma pessoa, pois fica lá registrado.
Essa é uma relação parecida com a que o senhor tem com Robson Andrade, da CNI?
É um amigo, de bastante tempo. Eu conheço o Robson desde que ele começou na Fiemg [Federação das Indústrias de Minas Gerais]. Com ele eu também tive relações institucionais, pois ele foi presidente da Fiemg e agora é presidente da CNI.
O senhor esteve com a presidente Dilma. Conversaram sobre essas notícias a respeito de suas consultorias antes de entrar para o governo?
Muito rapidamente. Ela só perguntou como é que eu estava. Porque diante de uma avalanche de acusações absurdas, infundadas, descabidas... Vou parar por aqui para não ficar muito exaltado.
Mas ela usou esses adjetivos?
Eu estou usando. São meus. Pode escrever aí.
Mas ela usou também?
Não. Escreve que sou eu quem estou usando. Diante dessa avalanche de acusações absurdas, infundadas, descabidas qualquer um fica abalado, fica chateado. Principalmente alguém que tem a trajetória longa que é a que eu tenho, que ela tem. Ela [Dilma] só me perguntou: "Como é que você tá? Tá firme?". Eu falei: "Tô. Tô sofrendo, mas estou bem". E ela: "Então, tá. O importante é você ficar bem". E não fez mais comentários sobre nada porque não cabe. Não tem nada a ver com o governo. Não tem nada, absolutamente nada a ver com o governo federal e com esse ministério. Esse é que é o maior espanto. [exaltando-se] Nada. Nada! Os dois anos da minha e está tudo aqui documentado, transparente, não tem nada oculto. Pegaram os dois anos que eu não tinha cargo público, não era prefeito, não era ministro, não era senador, não era deputado não era nada. Não era nada! Trabalhando para ganhar a vida, sobreviver. Ganhei o que ganha um executivo de uma empresa razoável, não é? R$ 2 milhões! Ora R$ 2 milhões tirando o custo de manutenção da empresa é R$ 1,2 milhão, R$ 1,3 milhão. Divida por 24 meses são R$ 50 mil por mês. Cadê o espanto, o escândalo? Fiz quatro serviços. Está aqui [manuseando notas fiscais] tudo documentado. Com nota fiscal, imposto pago, serviço realizado.
A presidente disse algo sobre as acusações contra o senhor serem também uma forma de atingi-la, uma vez que o senhor é amigo pessoal dela?
Não sei. Ela não se manifestou sobre isso comigo não. Se o fez com outras pessoas eu não sei. Comigo, não. Pois a carga de responsabilidade minha já é muito grande. Eu tenho de me defender... Então, deixa eu me defender. Se eu tiver de me defender e também defender essa retaguarda... Eu acho que ela está muito serena porque como efetivamente não tem nada oculto, não tem nada ilegal, não tem nada irregular, e, mais importante não tem nada a ver com o governo dela... Então, é isso.
O senhor diz que a presidente está "serena". Como assim?
Acho que ela está tranquila. Está aguardando, está vendo os acontecimentos.
Ela não perguntou nenhum detalhe do que saiu no noticiário?
Não, não. De jeito nenhum. Esse assunto é meu. Eu é que tenho de resolver. Diz respeito à minha atividade empresarial de quando eu era cidadão sem cargo público e no gozo dos meu direitos.
O senhor poderia dar uma cópia dessas notas fiscais dos seus serviços prestados como consultor?
Para quê? Você não precisa.
O senhor suspeita que pessoas do PT possam ter interesse nas acusações contra o senhor? Por exemplo, Patrus Ananias ou algum setor do PT de Minas Gerais?
Não, de forma nenhuma. O Patrus é meu amigo querido, de muitos anos. As eventuais diferenças que nós tivemos foram sempre diferenças que nós tivemos na vida política. Nunca afetou a nossa relação pessoal. É uma pessoa com que eu tenho uma relação fraterna, de amizade e carinho.
Mas pode haver interesse por parte de alguém que não seja do seu grupo no PT mineiro?
Não sei, acho que não. Eu não vou dizer quem foi porque não tenho provas. Não posso falar. O fato é que tiveram acesso a dados que eu diria que normalmente são restritos ao Fisco, estadual ou municipal. Não no caso federal. Como se chegou aos dados, eu não sei. Agora, tem várias hipóteses... Alguns dizem que pode ter gente do PT... Pode. Mas há pouco tempo saiu uma pesquisa eleitoral, totalmente extemporânea, sobre a eleição para o governo de Minas Gerais que me colocava disparadamente como favorito. Eu com 36% e 40%. O segundo colocado tinha 6%, 7%. Então pode ser algum adversário? Pode. Pode ser qualquer coisa. Mas não importa.
O que importa, na minha opinião não é quem, é como é que se chega a esse estado de coisas. Você trabalha legalmente, presta serviços, aufere rendimentos totalmente compatíveis com o seu trabalho bem como com a sua formação, com a sua bagagem, com a sua experiência... E depois tem de passar dias dando explicações sobre fatos que são totalmente absurdos, são ilações, é tudo fantasia, é tudo construção.
O senhor sempre defendeu alianças com o PSB. Aproximou-se do PSDB. Esses fatos podem ter contribuído para que o senhor tivesse mais adversários do que deveria no PT mineiro?
Não acho isso, não. Isso é uma coisa ultrapassada. Essas divergências estão totalmente esquecidas.
O importante é que para tudo o que foi levantado eu tenho resposta. Eu tenho explicação.
E eu estou estupefato com o espaço e a dimensão que essa coisa ganhou. Noticiário de televisão. Primeiro levantaram há uma semana que eu fiz uma consultoria para a Fiemg. Aí os funcionários disseram que eu não havia estado lá. Aí eu tive de mostrar o contrato com a Fiemg, que está aqui [mostra o contrato]. O objeto do contrato é prestar consultoria as empresas associadas ao Ciemg, Centro da Indústrias do Estado de Minas Gerais. Ou seja, não é a Fiemg. Foram no lugar errado. Tinham de ter ido à Ciemg. Eu prestei consultoria para a Ciemg. Já foi confirmado e corroborado pelo Olavo Machado, que era presidente do Ciemg à época, e pelo Robson Andrade, que era presidente da Fiemg. E essa consultoria, como eles já falaram lá, à exaustão, foi de orientação. E de um pré-planejamento de quase todos os programas que a Fiemg desenvolveu nesses quase dois anos, menos de dois anos um pouco.
O Robson me falou outro dia: "Fale para os repórteres irem lá que eu mostro para eles o resultado do trabalho". Mas ninguém a essa altura quer ver.
Vou lhe dar outro exemplo. Ele [Robson] tem como mostrar, estão lá os relatórios, os pacotes de programas. Mas você vai perguntar: "Mas isso foi ele [Pimentel] que escreveu?" Não escreveu pessoalmente, mas o que está aqui foi discutido, foi orientado.
Ele [Robson] me deu um exemplo interessante: "Você sabe que no mês passado esteve conosco o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ficou lá uma manhã. Uma manhã, muito produtiva com a gente. Passou uma manhã lá reunido com o conselho estratégico da Fiemg, comigo presente também". Um dia desses aí para trás. Eu estou dizendo mês passado, mas pode ser mentira minha porque o Robson ainda era o presidente da Fiemg, não era da CNI.
Então deve ter sido o ano passado. Bem [como se reproduzisse o que falou Robson Andrade]: "Esteve lá o Fernando Henrique. Passou a manhã, conversou com a gente, tomou café, não me lembro se almoçou. Cobrou R$ 80 mil pela conversa, pela consultoria, pelas opiniões. E foi pago". Pergunta a ele [Robson] que ele te confirma. O Larry Summers [ex-secretário do Tesouro dos EUA] esteve lá outro dia, acho que foi na CNI, e cobrou US$ 150 mil para ficar um dia lá. Pede o relatório do Larry Summers. Que relatório? Pede o relatório do Fernando Henrique. Que relatório? Não estou questionando os valores, se é muito, se é pouco. Estou dizendo que esse procedimento é absolutamente normal. Não tem nada de equivocado, não tem nada de errado.
Mas e o outro contrato que o senhor teve com a Convap?
Tive, está aqui. E não é Convap, é Vitória Engenharia -que é do grupo da Convap e me pagou R$ 500 mil ao longo de vários meses, em parcelas. Então, foram o R$ 1 milhão da Fiemg e os R$ 500 mil da Convap. Depois nós chegamos no resto.
Qual é o objeto do contrato com a Convap?
A Convap é uma construtora bem antiga e tradicional em Minas Gerais, bastante conceituada. O sócio-proprietário se chama dr. Flávio Lima Vieira. É uma figura conhecida em Belo Horizonte. É um homem idoso já, creio que com 86 anos. Tem relações pessoais comigo, familiares. Amigo do meu pai. Quando eu montei minha empresinha, ele me procurou e falou: "Pimentel, me ajude aqui que eu estou querendo reposicionar a empresa no mercado". Não vou dizer que ele estava parado, mas estava com pouca atividade para uma empresa que tem uma tradição e uma bagagem grande de experiência em engenharia. Então eu ajudei-o a fazer um plano de negócios para entrar de novo no mercado. Em 2009 e 2010 era PAC para todo lado. Então, o que que eu fiz? Eu estabeleci com ele um canal, conversas e ajuda para fazer sinergia com empresas, parcerias, consórcios, áreas de atuação que eles podiam entrar ajudando. Às vezes tem uma empresa nova que tem capital e tem mão de obra, mas não tem capacidade técnica, não tem especialidade. Então, durante um tempo nós trabalhamos nisso. E foi bem. Ele está bem sucedido. Ele está outra vez na ativa. A empresa dele está indo muito bem.
Mas não há aí conflito de interesses pelo fato de essa empresa disputar contratos na Prefeitura de Belo Horizonte?
Primeiro falar que alguém influencia em licitação não entende nada de como funciona o setor público. Tem comissão de licitação. Tem a Lei 8.666, Tribunal de Contas, Ministério Público, imprensa livre. Como é que influencia licitação? Você ficou doido?
*Mas como se sabe o secretário de obras que estava na Prefeitura de Belo Horizonte, Murilo Valadares, é o mesmo que era o seu secretário que cuidava do assunto... *
Como se o cara tivesse culpa por ser competente e ter ficado no lugar. Mas eu liguei para o Murilo e perguntei que história e essa. E ele me disse que a Convap ganhou dois contratos aqui. Um de R$ 30 milhões, numa obra, e outro de R$ 60 milhões. No contrato de R$ 60 milhões, que é o melhor, eles foram inabilitados na fase de habilitação. Tomaram bomba. Eles só participaram do certame porque conseguiram uma liminar na Justiça. E como é que eu influenciei? Ganharam porque tinham o menor preço. E é um consórcio. E sabe quanto eles têm do consórcio? Só 1,2% a Convap tem no consórcio. Aí abandonaram essa tese.
E o caso da QA Consulting?
Essa é uma empresa de porte médio, três sócios empresários que trabalham na área de informática. Não com software, mas com meio físico, cabeamento, estruturação de rede etc. Aí me procuraram. Eu mostrei a nota da QA para a mídia e disseram que tinham descoberto. Mostrei para dizer que a gente não ganha dinheiro da forma como andam falando. Peguei a nota da QA e mostrei. Era de R$ 200 mil [mostra a nota fiscal] brutos. Tirou os tributos federais, cai para R$ 187 mil. Tirou o ISS, cai para R$ 177 mil. Se você abater os custos que você tem de aluguel de sala, secretária, telefone, internet, estagiário, pesquisa etc. vai ficar uns R$ 130 mil dos R$ 200 mil iniciais. Aplicado esse cálculo aos R$ 2 milhões, esse montante vira R$ 1,3 milhão, R$ 1,2 milhão. Dividido por 24 meses. No dia seguinte, dissera que tinham descoberto o contrato com a QA.
Como descobriram? Eu mostrei.
Para quantas empresas afinal o senhor prestou serviços em 2009 e 2010?
Quatro clientes... Cinco. Porque agora eu quero mostrar tudo. A outra nem é consultoria, mas já que vocês estão falando, vamos mostrar ela também. Eu tirei notas fiscais para cinco clientes. O quinto cliente é a Newcom. Essa é uma empresa para a qual eu fiz uma palestra, cobrei R$ 8.000, eles choraram muito e ficou por R$ 5.000. Isso não é consultoria. Fiquei lá umas duas horas com os meninos deles lá [mostra a nota fiscal de 23 de setembro de 2009 cuja descrição do serviço é "palestra sobre conjuntura econômica e estratégias de gestão empresarial"]. Duas horas, R$ 5.000. Está bom. Quer dizer, o Fernando Henrique ganhou R$ 80 mil, mas ele é ex-presidente, não é? É outra coisa?
Ainda sobre a QA Consulting...
Eles me pagaram R$ 200 mil num ano e R$ 200 mil no outro. Foram R$ 400 mil. Eu fiz para eles algo parecido com o que eu fiz para a Convap, que me pagou R$ 500 mil ao longo de dois anos. A QA é uma empresa nova. Eles queriam que eu apresentasse, apresentasse empresas, que eu conheço do Estado todo.
Um dos donos da QA é filho de seu sócio?
Sim, claro que é. Por que me contrataram, porque me conhecem.
O preço para uma pessoa conhecida não poderia ter sido menor?
Mas esse preço é módico. Eu cobrei R$ 500 mil da Convap e R$ 400 mil deles. É negócio. Você faz desconto do seu salário? É uma forçada de barra o tempo todo. Você não pode contratar legalmente uma empresa...
Mas ministro, essa empresa tinha faturamento suficiente para fazer esse pagamento para o senhor?
Evidentemente que tinha. A QA fatura R$ 5 milhões, R$ 6 milhões por ano. Se não tivesse faturamento já teria quebrado. E está bem. Os meninos estão trabalhando muito agora.
Mas há também s suspeita de triangulação. A empresa HAP, de seu amigo Roberto Sena, que pagou à QA. O que aconteceu?
A tese de triangulação é absurda. Se a HAP quisesse me passar algum recurso, era só me contratar. Eu tinha uma firma de consultoria. Era só me chamar e me contratar.
Não haveria razão para ocultar, pois ele [Roberto Sena] é meu amigo. Todo mundo sabe. Eu vendi um lote para ele.
A QA me pagou R$ 200 mil. Dois dias depois a HAP pagou para a QA R$ 240 mil, R$ 230 mil não sei, do serviço que a QA tinha feito para eles de engenharia. Que eu sei que fizeram, pois foi eu que apresentei um para o outro. A HAP colocou no site dela fotos do serviço que foi feito. É todo o serviço de cabeamento do escritório.
Bem, a HAP pagou a QA dois dias depois [de a QA ter feito pagamento]. Você já ouviu falar de triangulação a posteriori? Alguém faz o gol antes de receber o passe? O sujeito fez o gol e não tinha recebido o passe.
Mas o senhor sabe ou conhece o tamanho da obra realizada pela QA na HAP?
Eu não sei, Fernando Rodrigues. Eu sei lá... Eu não tenho de dar explicação de obra da QA com a HAP. Vá perguntar para eles a relação comercial. O que está acontecendo no Brasil, caro companheiro? Olhe o que está acontecendo no Brasil: amizade é crime, relação comercial é formação de quadrilha e a legalidade é um outro nome de corrupção. Tudo aqui é legal! Tudo está pago, os tributos [exaltado e mostrando as notas fiscais]. A relação é explícita! Eu não estou escondendo que eu sou amigo. Eu não estou escondendo que o cara é filho do meu sócio. Que apresentei um para o outro. Que o dr. Flávio [Lima Vieira] é meu amigo... Imagine, meu amigo. Amigo do meu pai. É uma pessoa por quem eu tenho o maior respeito, há anos... Não, mas tudo isso agora é criminoso. A Rede Globo coloca lá, gráfico, fulano, retrato do sicrano, o Otílio, coitado, que é meu sócio. É meu sócio, tem 1% do negócio e só tem porque o Brasil não tem firma individual. Agora vai ter, pois nós aprovamos a lei. Em julho do ano que vem nós vamos poder ter essa coisa moderna que o mundo inteiro tem que e a firma individual. Hoje, quando você abre, você tem de chamar um amigo seu para ter 1%.
Otílio Prado precisava ter saído da Prefeitura de Belo Horizonte?
Ninguém aguenta. Ele não tem nada com isso.
Como o senhor chegou até a empresa de bebidas ETA, de Pernambuco?
Eu prestei a eles um serviço finito no tempo e eles me pagaram R$ 130 mil, em dois pagamentos no início do ano de 2009. Eles fazem tubaína. Eu não os conhecia.
Como eles chegaram ao senhor?
Um deles tinha um amigo que era empresário em Minas. Ligou para mim o advogado que era o contabilista deles, que se chamava Luís Carlos. Fez um contato. Eu conversei por telefone com os diretores algumas vezes.
O que o senhor fez para eles?
Está aí na nota fiscal [lendo]: "Consultoria para aprimoramento da gestão empresarial com elaboração de projeto na área econômica e tributária". Essa nota é de 9 de julho de 2009, de R$ 60 mil. A primeira foi em 15 de maio, de R$ 70 mil. Eu mandei um diagnóstico de mercado, uma análise, e um diagnóstico de possibilidades, pois esse negócio de refrigerantes é complicado. Eles iriam entrar em um mercado em que se enfrenta gigantes, como a Ambev. Então eu fiz um trabalho para eles, não foi muito extenso, mandei e nunca mais tive contato.
Mas na firma muitos não se lembram do trabalho...
O que aconteceu. A firma foi vendida. Ou quebrou. Eu não sei o que aconteceu. Eu mandei o trabalho e nunca mais tive contato. Um dos sócios se mudou para os Estados Unidos.
Mas o senhor não poderia especificar mais como foi o contato inicial com essa ETA?
Eles me procuraram de maneira direta. Telefonaram para mim na consultoria. Tinha telefone...
Mas como eles o descobriram?
Não sei... Pergunte para eles, Fernando Rodrigues.
Vamos deixar clara essa história. Eu vou te falar o meu sentimento. Nada do que eu estou falando aqui eu precisava falar. Nada. Nada! Sabe por quê? Eu não cometi nenhum crime. Está tudo legal, documentado [mostra os papeis à sua frente]. Eu prestei serviço como consultor econômico. Não tem nada errado. E não tem nada a ver com o governo federal. Não tem nada a ver com este ministério. Nada, nada. [Soletrando] N-A-D-A. Nada!.
Eu estou falando porque eu acredito na liberdade de imprensa. Ainda que a imprensa exagere. Ainda que a imprensa às vezes cometa erros absurdos. Eu acredito na liberdade de imprensa. Então eu acho que eu estou em um cargo público e eu explico o que aconteceu, ainda que tenha sido num período que não tenha nada. É a vida privada.
Mas a pergunta era só sobre como a ETA chegou ao senhor..
Eu não sei como eles chegaram... O cara me ligou e falou "sou de uma empresa de bebidas e conheço fulano..." Sei lá quem ele conhecia. Alguém que era diretor da Federação das Indústrias lá de Pernambuco o tinha indicado... Eu vou lembrar do nome? Três anos atrás. Nós estamos no final de 2011. Eu tive de achar os caras. Me deu um trabalho do cão. Agora, pronto, já saiu a nota, o serviço foi prestado, tá aqui, tá tudo bonitinho.
No caso da ETA, não teria havido o contato porque o senhor tinha bom relacionamento com o PSB, por meio do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda. Como o PSB é forte em Pernambuco, teria sido um contato político?
Não tem nada a ver com Márcio Lacerda. Nada a ver com o PSB. Foi uma empresa que me procurou que eu nem conhecia e prestei um serviço finito, de maio para julho de 2009. E acabou. Pagaram, eu entreguei e eles foram embora. Nunca mais eu tive notícia. Agora descubro que mudou, fechou, mudou o dono. O ex-dono está no Estados Unidos. Mas dizem ser um crime, não pode. Prestou o serviço? Prestou. Pagou o tributo? Pagou. Tirou nota fiscal? Tirou. Mas não, está errado. É suspeito. Tem alguma coisa.
Mas não parece um pouco fora da curva que alguém abra uma empresa de consultoria já consiga os contratos que o senhor conseguiu, inclusive esse de Pernambuco que veio de maneira tão inusitada?
Fernando, deixa eu te abreviar. Não tem isso não. Não vem com essa conversa fiada para cima de mim... Fernando, a curva é suspeita, fora da curva é suspeito, tudo é suspeito. A Convap é suspeita. A QA é suspeita. Fiemg é suspeita. A ETA é suspeita... tudo é suspeito. Que curva, Fernando? Que bobagem é essa? A curva é normal. Tem uma semana que alguns órgãos de imprensa estão me infernizando a vida com isso que seria a curva normal. Falam que tudo é suspeito e vou te dizer: é tudo regularíssimo. Não tem nada de errado, nada. Está tudo com imposto pago, está tudo com nota fiscal, está tudo comprovado.
Para recapitular: o senhor só prestou então serviços de consultoria, de 2009 a 2010, para cinco clientes?
Só. E todas as notas estão aqui.
Em algum momento desde o início da atual polêmica o senhor foi perguntado para quantas empresas prestou serviço?
Eu é que falei tudo.
Mas há uma impressão de que o senhor não teria revelado o nome de todas as empresas, como essa de Pernambuco, a ETA...
Não... Sendo justo, a empresa de tubaína eu não falei antes porque eu tinha esquecido. O negócio foi tão ocasional que eu tinha me esquecido. Sinceramente. Ficou aquela coisa de Fiemg e Convap, que eram contratos volumosos, e a QA, que eram os maiores, eu nem me dei conta. E aí falaram da empresa do Nordeste e eu disse, "nossa", é mesmo. Aí eu fui atrás e hoje "esclareceu tudo, já saiu a nota da empresa.
Para todas as consultorias há relatório do serviço prestado. Pelo que eu entendi, em alguns casos é por escrito. Em outros, não. É isso?
Exato. E vou te dizer mais: relatório é do cliente. Não é seu. Ele te pagou, é dele. Se ele quiser mostrar... Mas eu não posso fazê-lo. Não é que tem cláusula de confidencialidade. Tem é uma relação comercial.
Qual é a sua reação quando seu caso é comparado ao do ex-ministro Antonio Palocci?
Não quero fazer essa comparação, pois não é justo comigo nem com ele. O [ex-]ministro [Palocci] tem os problemas dele, está se defendendo. Eu não vou ficar comparando. Compare quem quiser. Eu tenho respeito e admiração pelo Palocci. Deixa ele resolver o problema dele. O meu problema não é problema: fui colocado na linha de fogo e eu quero entender por quê. Essa história de dizer que é o meu partido... Meu partido não tem essa força toda na imprensa não. Meu partido não edita "Jornal Nacional". Por quê? Eu não sei. Eu nem precisava ter explicado nada, pois isso tem a ver com 2009 e 2010, quando eu não era nada. Não tinha cargo público nenhum. Expliquei tudo. Mostrei tudo. Nego agora está indo atrás de pelo em ovo, correndo o risco de invadir a minha privacidade, da minha família. Eu acho isso espantoso, para falar o mínimo.
O senhor informou sobre seus negócios privados para a Comissão de Ética Pública da Presidência antes de tomar posse como ministro?
Informei no tempo devido à Comissão de Ética. Afastei-me da empresa. Está aqui o contrato [mostra o contrato]. Isso foi 10 de dezembro de 2010. A responsabilidade social da empresa passou para o sócio, o Otílio.
A última nota que nós emitimos foi em agosto de 2010, quando eu tinha acabado de registrar minha candidatura [ao Senado]. Depois acabou e a firma ficou desativada.
Não teria sido melhor fechar a firma, pois o Otílio assumiu formalmente enquanto ocupava um cargo na Prefeitura de Belo Horizonte?
Não tem nenhum impedimento. Não emitiu nota, não fez nada. A empresa ficou parada. Não emite nota. Então, acabou. Não tem mais nada.
A Comissão de ética soube também dos contratos de sua empresa e dos valores recebidos?
Não, acho que eles não me pediram. O que eles me pediram foi só o contrato para dizer que eu tinha me afastado da empresa. Eu não me lembro de terem pedido uma relação, uma coisa numérica, de faturamento. Eu acho que não. Acho que é só o contrato para mostrar que você não tem empresa.
O senhor informou também à presidente sobre os contratos que teve?
Não. Não havia a menor necessidade de informá-la porque não tem nada irregular. Por que eu tinha de informar à presidente desses contratos se não tinha nada de irregular? Não tinha nem tem.
Mas no caso do ministro Palocci ele também fez consultorias para empresas enquanto estava fora do governo. E saiu do governo por causa disso. Por que é um caso diferente?
Eu não sei. Eu não vou responder. Nessa você não vai me pegar. Vocês me respondem. Por que eu deveria fazê-lo? Eu sou o alvo do negócio. Eu sou o objeto. Não me peça para fazer essa análise. A análise que eu vou fazer é a seguinte: isso que está acontecendo comigo é um absurdo. Só não vou falar que é um crime porque eu poderia incorrer no mesmo erro que os órgãos de imprensa incorrem que é qualificar de forma exagerada algum evento social.
Eu detesto ter de falar isso. Eu nunca usei isso em meu favor. Nem acho que deva usar. Mas neste momento eu sou obrigado a dizer: respeitem a minha história, respeitem a minha biografia.
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