Esvaziado, Fórum Social termina hoje sob crise existencial
O clima de crise existencial marcou o evento em Porto Alegre, que recebeu a primeira visita de Dilma Rousseff como presidente, mas foi ignorado por líderes estrangeiros e ganhou ares de congresso do PT.
Um dos idealizadores do fórum, o ativista Chico Whitaker expôs o desconforto na sexta-feira, em desabafo que surpreendeu a plateia acostumada com discursos empolgados sobre a derrocada iminente do capitalismo.
Ele disse que o encontro não conseguiu se conectar a novos fenômenos como os movimentos de "indignados", que passaram a ocupar ruas na Europa e nos EUA.
"Temos que mudar de estratégia. Hoje concordamos em tudo e saímos daqui satisfeitos com nós mesmos. Precisamos inventar uma maneira de começar a falar com os 99% que estão insatisfeitos", disse Whitaker.
Anunciado como evento preparatório para a Rio+20, o Fórum deste ano não conseguiu articular um consenso sobre a melhor forma de preservar o planeta.
Enquanto ambientalistas recitavam o discurso de defesa das florestas, intelectuais de esquerda alertavam que a causa seria usada pelo G8 para barrar o crescimento dos países emergentes.
"O capitalismo nunca será verde, exceto nas notas de dólar americano", disse o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos.
Christophe Simon - 24.jan.12/France Presse | ||
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O fórum de 2012 teve números modestos mesmo para uma versão temática. A organização informou que 40 mil pessoas participaram do evento, e só 7.000 se inscreveram formalmente.
O acampamento para jovens não lotou, a marcha de abertura foi dominada por claques de centrais sindicais e as barraquinhas de livros marxistas e camisetas de Che Guevara praticamente sumiram da paisagem.
Até o discurso de Dilma sofreu com a falta de público, agravada pela decisão de espalhar atividades do Fórum por mais três municípios gaúchos administradas pelo PT: Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo.
Em Porto Alegre, os debates na Assembleia Legislativa serviram para projetar a pré-candidatura a prefeito do presidente da Casa, o deputado petista Adão Villaverde.
O presidente uruguaio José Mujica, convidado para debater com Dilma, cancelou a viagem. O boliviano Evo Morales e o venezuelano Hugo Chávez, que bateram ponto em anos anteriores, também não apareceram.
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