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Ciência
Domingo - 29 de Janeiro de 2012 às 15:43

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Com quase cem anos de história, a instituição que reúne cientistas brasileiros de diversas especialidades enfrenta os desafios de um País no qual a produção científica aumentou de forma significativa em pouco tempo. Se aproximar mais da sociedade e das universidades, além de ter uma voz ativa junto ao governo federal, parece ser cada vez mais necessário. Esses são os principais desafios enfrentados pela Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Para o professor de engenharia aeroespacial da Universidade de Brasília (UnB) Manuel Barcelos, que não faz parte da ABC, a importância da Academia está na necessidade de existir uma instituição que, além de divulgar a ciência, atue como normatizadora de questões científicas, gerando um parecer sobre tais assuntos sem interesses políticos. Entretanto, Barcelos acredita que é necessária uma divulgação maior, além de uma aproximação da ciência com o dia a dia das pessoas. "Seria interessante popularizar mais a atividade, porque a ciência está por trás de tudo o que faz parte do nosso cotidiano, desde o celular até a ida ao médico", frisa.

Dessa forma, o professor da UnB sugere que haja uma maior interface da Academia com a sociedade, popularizando a atividade científica especialmente entre as populações mais carentes. "O Brasil tem um grande potencial de pessoas que poderiam fazer ciência; nós precisamos tornar o fazer científico mais transparente e acessível, mostrando aos jovens, principalmente, como essa profissão pode ser promissora para eles. Hoje há uma dificuldade de divulgar a ciência. É necessário transpor essa barreira de que a ciência é apenas para quem estudou muito, mostrando para os alunos que eles podem fazer experimentos científicos já no primeiro grau", propõe.

O presidente da ABC, Jacob Palis, concorda que a atividade científica seja mais distante das pessoas com menor nível de estudo, pois o ofício exige muito tempo de dedicação e pesquisa. Por outro lado, ele afirma que quem consegue cursar uma faculdade e prosseguir na carreira acadêmica e científica tem condições de progredir na área. "Nós estimulamos muito a pesquisa, promovendo a ciência no ensino básico, participando de conferências, simpósios, sempre procurando atrair os jovens e estimulando o interesse pela ciência. Eu acredito que a Academia se configura como uma entidade difícil, mas muito atraente também para os jovens", ressalta.

O médico geneticista e professor de bioquímica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Sergio Pena, membro da ABC, compartilha da visão de que a academia tem de ser mais do que uma agremiação de cientistas, utilizando a capacidade de seus membros para desempenhar um papel transformador na sociedade e se aproximando, especialmente, dos estudantes. "A ABC precisa se aproximar mais dos alunos de graduação e pós-graduação para estimular o interesse na ciência".

O professor da UFMG acrescenta que, diferentemente de países como os Estados Unidos, onde a National Academy of Sciences é bastante consultada pelo governo sobre variadas questões de grande interesse social, no Brasil, essa relação inexiste. "O governo brasileiro em todos seus níveis poderia usar a ABC como um manancial de consultoria de alto nível, mas o faz muito pouco", lamenta Pena.

Para ele, a importância de uma instituição como esta se dá principalmente pelo exercício de promoção da atividade científica e pela qualificação de seus membros, o que também reflete na produção de ciência. "A Academia tem de ser proativa na divulgação da ciência, e todos os seus membros são cientistas com currículos de alta produtividade e elevada postura ética. Assim, eles constituem um exemplo e um modelo para a comunidade, o que leva a uma reflexão indireta na produção científica", ressalta.

Palis afirma que a Academia conquistou um protagonismo no cenário científico nacional e destaca o aumento do número de mulheres na instituição, passando de 8% para 12,5% em poucos anos. A ABC contribui para a definição de políticas públicas e tem assento em conselhos como o CNPq e em instituições internacionais, como a Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS). Com sede em Trieste, na Itália, o órgão congrega cientistas de países como China e Índia, e tem 100 membros brasileiros.

Saiba mais sobre a ABC
Fundada em 1916, a Academia Brasileira de Ciências (ABC), tem cerca de 450 membros titulares e 150 afiliados, divididos em 10 sessões, como Ciências Matemáticas, da Terra, Biomédicas, da Engenharia e Sociais. "Desde o início, ela foi formada por cientistas do melhor nível, que tiveram a ideia de criar uma associação que estimulasse o mérito e a pesquisa, e até hoje segue essa linha. Com o tempo, dentro da intenção de promover a ciência, a academia se expandiu, e hoje tem funções múltiplas. Por exemplo, nós fazemos pesquisas sobre doenças contagiosas e estudos sobre a Amazônia", explica Jacob Palis.

Dentro desse contexto de mudanças, a academia também realizou ações para descentralizar a produção científica, concentrada no eixo Rio-São Paulo, região de origem de grande parte de seus membros. Foram criadas vice-presidências regionais, que administram cada uma das seis regiões em que a ABC está organizada, sem correspondência com as regiões geográficas do País: Rio de Janeiro, São Paulo, Sul, Minas e Centro-Oeste, Sul, Norte e Nordeste.

As eleições para a presidência são realizadas a cada três anos, com possibilidade de reeleição ilimitada. Como a entidade, que não tem fins lucrativos, pretende promover a ciência, mas não realizá-la diretamente, grande parte de seus diretores - todos não remunerados - também estão envolvidos em outras atividades em universidades e centros de pesquisa. O atual presidente, por exemplo, é professor no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Inpa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).






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