O Parque Nacional de Chapada dos Guimarães é destino certo para quem é apaixonado pela natureza. Criado em 1989 para resguardar 33 mil hectares de cerrado, possui mais de 400 cachoeiras catalogadas, cavernas e 157 quilômetros de paredões de pedra. O acesso facilitado e a estrutura do local atraem todos os meses uma média de 10 mil turistas, segundo a administração. Nos arredores do parque, existe uma cidade chamada Chapada, onde há opções de hospedagem.
Para chegar, é preciso sair de Cuiabá pela MT-251 e percorrer cerca de 65 quilômetros. Um dos pontos turísticos, aliás, está localizado na própria rodovia. É um mirante com visão para o precipício chamado Portão do Inferno, que tem mais de 70 metros de altura.
No entanto, é no Circuito das Cachoeiras, localizado dentro do parque, que o turista encontra as principais atrações. Do portão de entrada, são mais três quilômetros de estrada de chão batido até o início do circuito, que é percorrido à pé e só pode ser acessado acompanhado de um guia turístico autorizado a atuar no parque.
Os turistas podem formar grupos e combinar o valor da diária com o próprio guia, que custa em média R$ 100. O contato com o guia pode ser feito via agências de turismo que operam na região ou pelo próprio Parque Nacional, que mantém uma lista de guias cadastrados. Na listagem, também é possível saber em quais línguas o guia é fluente.
O G1 percorreu parte do circuito, formado de belas paisagens e rodeado por uma vegetação típica de cerrado. Na beira da trilha, o turista é surpreendido com pequis e marmelos ainda nos pés. Os frutos não podem ser arrancados da mata, já que servem de alimento para os animais silvestres do santuário. O circuito é circular, tem seis quilômetros de extensão e sete cachoeiras.
Célia, Antonio e a filha percorreram o
Circuito das Cachoeiras (Foto: Dhiego Maia/G1)
Surpresa com a beleza da região, uma família decidiu estender a estadia em Chapada apenas para percorrer o circuito. A portuguesa Célia Barreiros, o marido brasileiro Antônio Guerra e a filha do casal disseram ao G1 que o cansaço é renovado com o banho nas cachoeiras. “A natureza daqui é de encher os olhos. Eu nunca vivi esta experiência antes e estamos muito felizes”, ressaltou Célia.
Das sete cachoeiras, a Véu de Noiva impressiona pela grandeza. A queda de 86 metros é uma das maiores de Mato Grosso. De todos os atrativos do parque, ela é de longe a mais visitada.
Com 73 anos de vida, a aposentada Maria Alice Lopes se emocionou com o Véu de Noiva, que viu pela primeira vez. "A água é como véu fininho. Eu nunca tinha visto tanta beleza", afirmou.
O Parque Nacional conta ainda com o Morro de São Jerônimo, de 850 metros de altura - ponto mais alto de Chapada, o Vale do Rio Claro e a Cidade de Pedra. O parque deve passar por reformas e a partir do julho, segundo informou o chefe de Operações Cecílio Pinheiro, irá cobrar ingresso para os atrativos. "O projeto pretende reformar as trilhas, sinalizá-las com placas de aviso que vão deixar claro que o local é uma área de preservação e com sinalização para pontos de perigo". O preço do ingresso ainda não foi definido, mas o G1 apurou que deve ficar em torno de R$ 11 para brasileiros e R$ 22 para estrangeiros.
Imensidão de Cerrado
É também às margens da rodovia MT- 251, oito quilômetros depois da região central da cidade de Chapada, que o turista encontra um cenário de tirar o fôlego. O mirante da cidade é um local para contemplar a beleza da natureza. À noite, de lá é possível ver as luzes de Cuiabá.
Turismo mais acessível
A região da Chapada também vislumbra um nicho do turismo pouco explorado no Brasil: o de acessibilidade. O primeiro empreendimento turístico totalmente acessível a qualquer pessoa com deficiência física está a apenas cinco quilômetros de distância da cidade, no Vale da Bênção. No local, foi construída uma "sensitrilha" de 440 metros de extensão, com subidas, descidas, ponte pênsil e 30 árvores estrategicamente posicionadas para serem tocadas, abraçadas e decifradas em braile.
O G1 percorreu a trilha com um grupo de 18 deficientes visuais. Ao longo do percurso, muitas histórias de superação. Uma delas é do professor de braile Thiago Oliveira de Lima, de 21 anos. A perda total da visão ocorreu quando ele tinha 15 anos por conta de um deslocamento de retina. Três cirurgias de reparação foram feitas, mas a visão não voltou ao normal.
O professor disse ao G1 que não deixou o problema tomar conta da vida dele e, simplesmente, supera as dificuldades diárias mantendo a mente ocupada. “Estar aqui é bom para a gente sentir a natureza, uma coisa que a gente não tem a oportunidade de conhecer na cidade”, disse.
Thiago foi um dos primeiros a testar a trilha, antes mesmo dela ser aberta ao público. Ele sugeriu mudanças que tornaram o percurso ainda mais emocionante. “Ela estava muito fácil e, daquele jeito, não tinha graça. Então sugeri alguns obstáculos para deixar a trilha com mais adrenalina”, reforçou.
Professor de braile Thiago Lima conheceu a
"sensitrilha" em Chapada (Foto: Dhiego Maia/G1)
Para aliar aventura e acessibilidade, não basta tirar troncos e obstáculos do percurso. Segundo a consultora Tatiane Fernandes, uma das responsáveis pela concepção técnica da trilha, tudo é pensado para não frustrar as expectativas desse tipo de turista. “Buscamos um traçado de trilha com balizamentos, declives e escoamento de água satisfatório. Aqui nós aproveitamos pontos de ruptura de vegetação e construímos a trilha sem praticamente derrubar uma árvore sequer”, apontou.
A trilha pode ser percorrida em até 30 minutos e aproximadamente 50 pessoas podem utilizá-la ao mesmo tempo. Cada uma delas é acompanhada por um monitor. “A figura do monitor aparece para observar a segurança, para evitar que durante o percurso ninguém bata a cabeça e nem caia”, explicou Fernandes. Nas 30 árvores espalhadas pela trilha, uma placa em braile informa o nome científico da árvore e como ela é usada pelo homem na marcenaria e indústria farmacêutica.
Uma das 18 monitoras capacitadas para guiar deficientes visuais na trilha é a guia turística Avani de Almeida Marques. Ela acompanhou o estudante José Benedito, de 28 anos, que nasceu com deficiência visual. Ao longo do percurso, ela o incentivou a abraçar árvores e perceber a textura de folhas e troncos. “Estou ao lado de uma pessoa que enxerga o mundo com os olhos fechados. Ele teve que desenvolver uma visão que eu não tenho. Isso é maravilhoso”, salientou a guia.
Além da trilha, o local vai adaptar aos poucos outras 13 opções de esporte de aventura a turistas com deficiência física. A massagista Deusenir Queiroz Afonso experimentou a tirolesa adaptada. “Foi muito emocionante e por causa do vento, a sensação de liberdade é incrível”, afirmou ao G1.
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