A liderança do Hamas em Gaza contestou nesta quarta-feira o acordo de reconciliação palestina assinado entre um dirigente do grupo islâmico no exílio e o presidente Mahmoud Abbas, da facção rival Fatah.
Trazendo à tona as divisões internas do Hamas, a ala parlamentar "Mudança e Reforma" se insurgiu contra uma cláusula importante do acordo, pelo qual Abbas acumularia os cargos de presidente e primeiro-ministro num futuro governo palestino.
O bloco legislativo inclui Ismail Haniyeh e Mahmoud al-Zahar, principais dirigentes do Hamas em Gaza, que não participaram da cerimônia de assinatura do acordo, ocorrida na segunda-feira no Catar.
Analistas há tempos alertam para uma divisão no Hamas entre Meshaal, que está radicado em Damasco, na Síria, e a ala que há cinco anos controla a Faixa de Gaza.
"Pedimos às partes que assinaram e aos que patrocinaram a reconciliação para reconsiderarem e ... não violarem a lei palestina", disse o bloco parlamentar em nota, argumentando que o acúmulo de cargos por Abbas seria ilegal.
O Hamas expulsou em 2007 as forças de Abbas de Gaza, numa breve guerra civil, e tentativas de reconciliação ocorridas desde então esbarraram em divergências sobre quem comandaria um novo governo.
Israel e governos ocidentais qualificam o Hamas como um grupo terrorista, por sua recusa em reconhecer o Estado judeu, renunciar à violência e aceitar os termos de um acordo interino existente. Um governo palestino de unidade nacional dificilmente bastaria para levar à retomada do processo de paz.
Khalil Shaheen, analista político na Cisjordânia, disse que os membros do Hamas em Gaza acharam constrangedor a indicação de Abbas como primeiro-ministro, especialmente porque o Hamas conquistou o direito de ocupar esse cargo ao vencer a última eleição ocorrida nos territórios palestinos, em 2006.
Ele disse que o Hamas poderia tentar resolver sua disputa reorganizando a sua divisão de poderes entre os líderes do exílio e os que estão nos territórios palestinos. "Do contrário, e se a disputa continuar, ela poderia abalar a implementação do acordo", disse Shaheen.
O deputado Abdallah Abdallah, da Fatah, defendeu o acordo de Doha dizendo que nada na lei palestina impediria Abbas de acumular os cargos.
"Está claro que algumas pessoas (do Hamas) têm interesses pessoais, em vez de interesses nacionalistas, e que estão tentando encontrar um pretexto para afetar um passo que abre caminho para acabar com a divisão", disse Abdallah à Reuters na Cisjordânia.
O acordo prevê a realização de eleições parlamentares e presidenciais palestinas, possivelmente ainda neste ano, e medidas para a reconstrução da Faixa de Gaza, depois da destruição causada pela ofensiva israelense de 2008/2009.
(Por Nidal al-Mughrabi, com reportagem adicional de Ali Sawafta)
Comentários