— Não sou herói. O Super-Homem é que é um herói. Tomei a atitude de ir para cima dele no impulso. Acho injusto uma pessoa ser roubada. Eu já tinha marcado o rosto do bandido quando ele entrou porque tinha roubado uma moça dias antes no ônibus que eu dirigia — frisou o motorista, lembrando que ele e o trocador só desconfiaram que o ladrão podia ser Paulo Roberto Dias depois de ele já estar imobilizado: — Naquela hora, lembrei do cartaz com o rosto dele, colado na minha empresa.
O motorista, de 46 anos, que pediu para não ter o nome revelado, não se intimidou em reagir.
— Tentei encontrar os carros da PM que ficam perto do Jockey, mas não estavam lá. Então pensei: "vai ter que ser comigo mesmo". Pulei a roleta e fui para cima dele. Puxei pela camisa que rasgou, e ele tentou dar um mergulho pulando a roleta, mas o trocador o segurou pela calça. Colocamos o bandido no banco e prendi as pernas dele com as minhas. Ele dizia que ia matar a gente. Tivemos que bater nele.
Depois de segurar o bandido no ônibus, que tinha cerca de 15 passageiros, o motorista gritou para que pedestres chamassem a polícia. Em seguida, um policial apareceu, algemou o bandido e o levou para 15 DP (Gávea).
Motorista há sete anos, o homem que prendeu Paulo Roberto Dias já havia reagido a outros dois assaltos. Num deles, na década de 80, quando era trocador, tomou a arma do bandido que tentava roubar seu caixa. O caso mais recente foi há três anos. Na ocasião, ele percebeu um homem roubando carteiras. Parou o ônibus próximo de PMs e o bandido foi preso.
— Fiz um curso de vigilante noturno. Trabalhei quase três anos nessa área e aprendi, por exemplo, como tomar a arma de uma pessoa.
Casado há 23 anos, natural de Recife, e morador de Duque de Caxias, o motorista é pai de dois filhos, de 10 e 22 anos. Ao saber do estupro da menina de 12 anos, ele se revoltou:
— Se eu tivesse uma filha e acontecesse isso com ela, iria correr dia e noite atrás desse bandido. Ia querer colocar a mão nele. No dia em que ele foi preso, deitei com a cabeça no travesseiro e dormi aliviado.
Tímido e com a fala mansa, o motorista se considera uma pessoa calma, mas conta que também fica nervoso. Nestes momentos, faz um exercício que aprendeu na empresa onde trabalha, a Viação São Silvestre:
— Respiro fundo, esvazio o cérebro e solto o ar. Adoro dirigir, esse sempre foi meu sonho desde criança.
Antes de conseguir o emprego como motorista, ele passou 12 anos desempregado. Neste período, para sustentar a família, fez de tudo: foi pedreiro, eletricista, vigia e balconista. Sem dinheiro, precisou vender seu Opala por R$ 200 para um ferro-velho.
A proeza do motorista que prendeu o estuprador deixou orgulhosos os seus colegas de trabalho. Ontem, muitos deles davam os parabéns e o chamavam de herói. Ele, porém, apenas sorria.
— Ele foi um cara valente. Faria o mesmo se fosse comigo. É gente boa, mas tem o defeito de ser pão duro — brincou o motorista Luiz Henrique Rocha, de 43.
Com a rotina de trabalho puxada, o motorista que prefere não ser chamado de herói sai de casa às 3h45m e volta às 21h. Nos momentos de lazer, gosta de ir à praia e de ver novela. Ao contrário da maioria dos homens, não torce para nenhum time de futebol: "Sou daquele que ganha".
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