A avó materna do menino Sean Goldman, Silvana Bianchi, disse ao G1 nesta quinta-feira (26) que ficou “perplexa” ao saber por jornalistas brasileiros da entrevista de seu neto à emissora norte-americana NBC. Segundo alguns trechos divulgados pelo programa Dateline NBC, que vai ao ar nesta sexta (27), o garoto de 11 anos disse que o pai, David Goldman, é “seu melhor amigo” e relatou que tinha medo de pedir à família brasileira informações sobre seu pai.
O garoto Sean é pivô de uma polêmica internacional sobre custódia entre seu pai americano e a família brasileira de sua mãe. Essa foi a primeira vez que ele falou sobre o caso.
“Não cheguei a ver e nem quero ver [a entrevista]. Fiquei sabendo da reportagem por jornalistas, que me relataram alguns trechos do que o Sean teria dito na entrevista. Eu me reservo ao direito de não assistir porque eu acho isso uma crueldade. Eu acho que é uma exposição. Foi uma perplexidade, uma falta de entendimento do que esse senhor quer expondo o filho dessa maneira num canal de televisão para o mundo inteiro. O que esse senhor quer? A crueldade está sendo feita com esse menino pelo pai”, disse a avó.
Sem contato com o neto
Silvana conta que está sem contato com o neto há um ano e meio. O menino voltou aos Estados Unidos, em 2009, após decisão judicial. Durante esse período, ela conta que tentou contato com Sean por telefone e e-mail. No último aniversário dele, a avó diz que mandou uma quantia em dinheiro para o neto, viu que a quantia foi sacada, mas lamenta não ter recebido nenhuma palavra de Sean.
A avó diz que chegou a concordar com o pedido de David, em retirar todas as ações movidas pela família. No entanto, ela alega que recuou, já que o pai não teria concordado com as visitas da família brasileira.
“Eu já tinha concordado em retirar as ações, mas quando eu aceitei, ele disse que não queria só isso e que queria mais coisas, entre elas, o pagamento de US$ 200 mil aos advogados dele. Teria que pagar para visitar o menino. Ele dizia que esse dinheiro era para pagar os honorários da advogada dele, por um acordo que ele não cumpriu. Quando o Sean saiu do Brasil ficou assinado um acordo de visitação feito pelo ministro Gilmar Mendes. Esse acordo não foi cumprido em nenhuma vírgula. A única coisa que eu pleiteio é o direito de visita ao meu neto. E esse acordo não foi obedecido”, diz a avó.
Trechos da entrevista de Sean
Jornais americanos adiantaram partes da entrevista para o programa "Dateline NBC". Nelas, Sean diz que seu pai, David Goldman, é "seu melhor amigo" e relembra os dois anos em que vivem juntos no estado americano de Nova Jersey.
Sean Goldman, em entrevista ao programa "Dateline NBC" (Foto: Reprodução)
"Outros pais podem ser só pais. Mas ele é mais que um pai", diz Sean a respeito de David, que encarou uma longa disputa judicial para ter sua custódia.
Questionado sobre como era sua vida no Brasil antes da volta para os EUA, Sean, hoje com 11 anos, disse:
"Eu não estava com raiva, mas estava confuso", disse, sempre em inglês. "Onde estava meu pai? Eu tinha medo de perguntar."
Sean disse se lembrar de quando, em dezembro de 2009, foi levado do Rio de Janeiro de volta a Tinton Falls, Nova Jersey, onde hoje mora.
"Lembro de ser arrastado por ruas cheias de cinegrafistas. Muitas pessoas empurrando", disse. "E ouvir muita gritaria e gente chamando meu nome. Eu só queria escapar de todos."
"Eu lembro de ter ido ao avião, e meu pai estava olhando e acenando. Eu disse para ele se apressar porque eu queria entrar no avião e voltar para os EUA."
Disputa judicial
A disputa judicial pela guarda do garoto começou depois da morte da mãe de Sean, Bruna Bianchi, em 2008.
Antes da decisão da Justiça brasileira autorizando a permanência do garoto com o pai biológico, Sean morava no Brasil havia quase 5 anos, após ter sido trazido dos Estados Unidos pela mãe.
Já no Brasil, Bruna Bianchi se separou de David e se casou com o advogado João Paulo Lins e Silva.
Em 2008, após a morte de Bruna, o padrasto ficou com a guarda provisória da criança.
David Goldman, no entanto, entrou na Justiça e pediu o retorno da criança aos Estados Unidos.
O presidente dos EUA, Barack Obama, e a secretária de Estado, Hillary Clinton, pressionaram pela entrega de Sean.
Pai, padrasto e avós maternos da criança travaram uma batalha jurídica pela guarda do menino.
O caso começou na Justiça estadual do Rio e depois passou para a jurisdição federal.
Goldman argumentou que o Brasil violava uma convenção internacional ao negar seu direito à guarda do filho.
Já a família brasileira do garoto dizia que, por “razões socioafetivas”, o que inclui a convivência com sua meia-irmã, Chiara, ele deveria permanecer no país, ao qual já estava adaptado.
A Justiça brasileira, no entanto, ordenou a entrega do menino ao pai biológico.
A avó de Sean ainda recorre, no Supremo Tribunal Federal, da decisão judicial que o mandou morar com o pai nos Estados Unidos.
O plenário do tribunal deve analisar o caso, em data ainda não definida.
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