Segundo Garotinho, as fotos em que aparecem Cabral, Cavendish e secretários foram feitas durante uma viagem oficial
Foto: Reprodução
O deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) divulgou neste sábado um vídeo supostamente de 2009 no qual o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) aparece, segundo o texto da postagem do blog de Garotinho, "em um suntuoso restaurante (ainda não confirmamos se é em Paris ou em Montecarlo)" marcando a data de casamento do empreiteiro da construtora Delta, Fernando Cavendish, e de sua noiva Jordana Kfuri, que morreria em 2011 em um acidente de helicóptero.
No blog de Garotinho, a gravação sucede postagem de fotos do governador com parte de seu secretariado em Paris com Cavendish, recentemente afastado da construtora suspeita de ligações com o esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira. Segundo Garotinho, as fotos foram tiradas na porta do hotel Ritz. O governo respondeu que a viagem, em setembro de 2009, era para a participação do Guia Verde Michelin Rio de Janeiro e de encontros para tratar da campanha pelas Olimpíadas de 2016, além de informar que as fotos foram tiradas no Clube Inglês. Garotinho alega que a viagem foi para o casamento de Cavendish e que as despesas foram bancadas pelo empresário.
No vídeo divulgado hoje, Cavendish sustenta a importância de Cabral na cerimônia porque ele "é o padrinho". O governador pede, então, que o casal se beije. Garotinho afirma ter "farto material de vídeos e fotos, mas são tantos os locais que precisamos identificar primeiro o que é Paris, Genebra (Suíça), Montecarlo (Mônaco) e outros locais que o trio Cavendish, Cabral e Sérgio Côrtes, além de outros secretários, costumam frequentar em suas fugidas do Brasil". O deputado promete divulgar vídeo no qual os três aparecem "se deliciando no show do U2 em Paris".
Garotinho ainda divulgou fotos em que o secretário de Casa Civil, Régis Fichtner, com Cavendish. Fichtner foi designado por Cabral para fazer uma auditoria nos contratos que o governo tem com a Delta, após a divulgação de uma gravação em que Cavendish insinua pagamento de propina a políticos em troca de contratos. A empreiteira é uma das que mais recebeu verbas do governo federal nos últimos anos e integrava o consórcio para a reforma do estádio do Maracanã, negócio que a empresa deixou com o início da crise.
Em junho do ano passado, sete pessoas morreram na queda de um helicóptero que levava convidados para a festa de aniversário de Fernando Cavendish em um resort na Bahia. Entre os mortos estavam Mariana Fernandes Noleto, namorada de um dos filhos de Cabral, e Jordana Kfuri. A segunda viagem da aeronave levaria Cabral, seu filho e Cavendish de Porto Seguro até o resort. Antes, o grupo havia sido transportado do Rio de Janeiro à Bahia em um jatinho emprestado pelo empresário Eike Batista. As viagens revoltaram deputados estaduais da oposição, que pediram explicações ao governador sobre supostos favorecimentos aos empresários. O Ministério Público do Rio também abriu procedimento para apurar as relações de Cabral.
Cabral divulgou nota em que explica sua aparição nas fotografias. Veja abaixo a íntegra da nota:
Com relação a imagens veiculadas no blog do ex-Governador Anthony Garotinho, o Governador Sérgio Cabral declara:
"Nunca neguei minha amizade com o empresário Fernando Cavendish.
Jamais imaginei e, muito menos tinha conhecimento, que a sua empresa fizesse negócios com um contraventor no Centro-Oeste brasileiro.
Quando assumi o governo, a Delta já era uma das maiores empreiteiras do Rio e do Brasil.
Nunca na minha vida misturei amizade com interesse público.
Levantamento feito pela Secretaria de Fazenda demonstra que no Governo anterior ao nosso, os investimentos totais foram de R$ 4 bi e 985 milhões.
E a Delta recebeu por obras realiadas R$ 402 milhões.
Já no nosso Governo, os investimentos totalizaram R$ 14 bi e 754 milhões.
E a empresa recebeu R$ 1 bi e 176 milhões.
Isso significa que a empresa teve no governo anterior uma participação de 8,07% no total investido.
E, no nosso Governo, de 7,98%.
A diferença é que mais do que triplicamos o valor investido pelo Estado.
São dados do SIG-Sistema de Informações Gerenciais e do Portal de Transparência Fiscal.
Vamos continuar realizando as mudanças na qualidade dos serviços públicos do Estado.
Melhorando cada vez mais a vida do cidadão do nosso Estado.
Conquistando reconhecimento internacional pela forma como gerenciamos o nosso Governo.
E, sobretudo, trabalhando para o nosso povo que nos reelegeu com 68% dos votos no primeiro turno e sente, no seu dia-a-dia, a vida da sua família melhorar no Estado do Rio."
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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