Interceptações telefônicas obtidas pelo Diário mostram que senador goiano tinha medo de ser desmascarado no Senado
Demóstenes temia revelações de Pagot
Ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal (PF) revelam que o senador Demóstenes Torres (sem partido) temia pelo que o ex-diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, pudesse revelar na Comissão de Infraestrutura do Senado, onde prestou depoimento no dia 12 de julho do ano passado.
As interceptações estão anexadas no inquérito contra Demóstenes que corre no Supremo Tribunal Federal, em razão de suas ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e a Construtora Delta. O Diário teve acesso a parte das gravações.
Às 18h30 do dia 11 de julho, portanto na véspera do depoimento de Pagot, Demóstenes e Carlinhos Cachoeira falam sobre a audiência. “O Pagot, ele vai na Comissão de Infraestrutura, então você não precisa ir lá, o que você vai fazer lá?”, alerta Cachoeira. “Acho que eu sou membro lá. Eu vou dar uma olhada, né? E te dou o retorno aí”, responde o senador goiano.
Quando depôs na Comissão de Infraestrutura do Senado, Pagot já não era mais dirigente do Dnit. Ele havia sido demitido dias antes, junto com toda a cúpula dos Transportes, em razão de denúncias publicadas na imprensa. Na época, era grande a expectativa de que ele pudesse fazer revelações bombásticas, o que acabou não acontecendo.
As gravações mostram que o grande medo de Demóstenes era sobre a possibilidade de Pagot mencionar, em seu depoimento, um jantar organizado pelo senador para promover o encontro do então dirigente do Dnit com o empresário Fernando Cavendish, proprietário da construtora Delta. Segundo o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o senador pode ser “sócio oculto” da empreiteira.
Por telefone, Pagot disse ontem que esteve duas vezes com Demóstenes. A primeira em 2010, quando trataram de obas em Goiás. A segunda foi no jantar, em 2011. “Fui convidado para o jantar. Havia muitas pessoas e não me lembro quem era o Cavendish”, afirmou.
Alguns minutos antes de falar com Demóstenes, Cachoeira havia conversado com o executivo Cláudio Abreu, diretor da Delta no Centro-oeste. “O nosso amigo está preocupado com o Pagot, amanhã... Não sabe se vai lá ou deixa de ir. Você tem notícia?”, questiona Cachoeira. Abreu responde: “Não, vê como é engraçado, cara. Naquele dia, na minha casa, eu fui falar com ele e ele falou que não tem preocupação nenhuma, agora ele tá com preocupação”. Cachoeira, então, cita o encontro entre Pagot e Cavendish, promovido por Demóstenes. “É porque ele chamou o cara pra jantar com o cara... Vai que ele [Pagot] tá lá e toca no assunto... Entendeu? Será que ele vai fazer de sacanagem?”, pergunta Cachoeira.
As gravações demonstram que o grupo se tranquilizou depois das entrevistas dadas pelo senador Blairo Maggi (PR) à imprensa nacional dando a entender que Pagot não tinha nada de relevante para falar aos senadores.
Minutos após o final da audiência, Demóstenes parecia mais tranquilo. Às 15h08, Cachoeira pergunta ao senador se deu “tudo certo” na audiência. “Uai! Deu! O homem não falou nada não. Tudo tranquilo”, aliviou-se Demóstenes.
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