Bin Laden se preocupava com imagem da Al Qaeda, diz "Post"
Poucos meses antes de sua morte, em 1º de maio do ano passado, o líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, demonstrava preocupação com a imagem da rede terrorista pelo mundo e com a falta de um novo líder carismático para a organização. As informações foram publicadas nesta terça-feira no site do jornal americano "Washington Post".
Bin Laden foi morto por uma equipe dos SEALs (grupo de elite da Marinha americana) em uma operação no complexo onde se escondia, em Abbottabad, no Paquistão, deixando para trás os planos de reconstruir a imagem da rede. Um ano depois, os EUA devem divulgar nesta semana documentos que foram encontrados no esconderijo.
De acordo com o "Post", os documentos apontam a obsessão de Bin Laden com a "pureza ideológica" e suas tentativas de manter a rede sob uma hierarquia organizada nos últimos anos. Os papéis mostram que ele tentava reafirmar o controle sobre as diferentes facções jihadistas em países como o Iêmen e a Somália, e dessa forma salvar a reputação da Al Qaeda.
As novas revelações mostram Bin Laden como o líder de uma organização em crise, que enfrentava problemas financeiros e de imagem, dificuldades para recrutamento de militantes, entre outros obstáculos. Em alguns documentos, segundo o "Post", ele também mostrava apreensão com sua própria segurança, além de lamentar potenciais oportunidades de marketing para a rede que teriam sido desperdiçadas -- entre elas a Primavera Árabe, onda de revoltas populares em vários países do Oriente Médio.
Os documentos recolhidos incluem dezenas de cartas e trechos de conversas entre Bin Laden e seus seguidores no mundo todo, de acordo com o jornal. Por questões de segurança, Bin Laden não tinha acesso à internet e os documentos eram entregues à mão, seguindo um esquema complexo que demorava mais de um mês para ser completado.
Segundo o "Post", apesar de viver de forma isolada, Bin Laden participava do planejamento operacional e estratégico da Al Qaeda.
"Ele não era um recluso, era o CEO de uma organização terrorista global," disse Bruce Riedel, ex-agente da CIA e assessor da Casa Branca sobre terrorismo, ao "Post". "Ele recebia informações sobre as operações da Al Qaeda pelo mundo, e dava instruções de como perpetrá-las".
DIVULGAÇÃO DOS DOCUMENTOS
Os Estados Unidos planejam divulgar esta semana os documentos apreendidos no esconderijo de Osama Bin Laden.
"Nos documentos que apreendemos, (Bin Laden) falou de "desastre atrás de desastre"," informou o principal assessor antiterrorismo da Casa Branca, John Brennan, ao anunciar que o material será publicado pelo Centro de Combate ao Terrorismo de West Point.
Brennan disse que os analistas da inteligência americana perceberam que a Al Qaeda estava enfrentando problemas ao substituir seus líderes mortos em operações americanas.
A situação ficou tão ruim para o grupo que planejou os ataques do 11 de setembro, o ataque terrorista mais mortal na história americana, que Bin Laden considerou mudar o nome da organização.
"Perdendo seus líderes mais habilidosos e experientes tão rapidamente, a Al Qaeda teve problemas para substituí-los", afirmou Brennan.
"Esta é uma das muitas conclusões que fomos capazes de tirar a partir dos documentos encontrados no complexo de Bin Laden", acrescentou.
Alguns desses documentos serão publicados on-line pela primeira vez esta semana.
"Por exemplo, Bin Laden se preocupou como --e eu cito-- "o aumento de líderes menores que não eram tão experientes e isso levaria a repetidos erros"", disse Brennan, de acordo com uma cópia de seu discurso no Woodrow Wilson International Center for Scholars.
"Em resumo, a Al Qaeda estava perdendo feio, e Bin Laden sabia disso", concluiu.
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