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Cidades
Terça - 12 de Novembro de 2013 às 11:07

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“Posso ser o que você é sem deixar de ser quem eu sou”. A frase criada pelos índios que deixaram suas aldeias para estudar em Brasília na década de 80 representa bem o espírito dos jovens índios das mais diversas etnias que deixam sua gente para viver em meio aos ‘brancos’ e não índios, como eles denominam os que não são silvícolas como eles.

Deixar o povo para sentar nos bancos escolares para ter uma formação educacional, aprender a usar programa de computadores, saber como funciona a estrutura organizacional dos poderes constituídos é mais do que necessidade, é uma estratégia para que os indígenas possam se defender.

“Sofremos muito preconceito. Os índios sofrem grandes violações na questão da demarcação de terras. Para nos defender é preciso sair das aldeias e exigir as garantias de direito. Nós somos as primeiras nações e temos que ser respeitados”, lembrou Miriam Tsibodwapre, da etnia Terena, e articuladora do Conselho Nacional das Mulheres Indígenas.

Mas o contato com o universo dos não índios não significa que eles deixam de lado sua raiz. Estes indígenas mantêm sua cultura, oralidade, ascentralidade e espiritualidade. “Posso pintar meu cabelo, usar brincos como os brancos, mas nunca vou deixar de ser quem eu sou”, diz Miriam.

Aos 6 anos de idade ela deixou a aldeia e foi estudar na cidade. Trabalhou como enfermeira em um hospital em Campo Grande (MS) e chegou a cursar Serviço Social na universidade. Hoje, ela mora em Campinápolis (601 km a Leste de Cuiabá) e trabalha com o povo Xavante.

Na noite de domingo (10), índias das mais diversas etnias – de jovens a adultas - se reuniram na Oca do Saber para um diálogo intercultural. A reunião foi aberta por um ritual mapuche do povo Kuna, do Panamá.

Uma índia brasileira da etnia Tupinambá fez um canto feito por ela. Na oportunidade mulheres indígenas disseram sua a formação acadêmica.

A índia Pataxó Ranari trabalha no Ministério da Educação como consultora na área coordenação de escola indígena.

Naine Terena é graduada em Comunicação com habilitação em Rádio e TV pela UFMT e com doutorado em artes, trabalha na aldeia Limão Verde, em Mato Grosso.

Da etnia Bakairi, Isabel se formou em Propaganda e Marketing e com mestrado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), veio para representar uma organização Uakairi e explicou sobre um projeto de recuperação de áreas degradadas.

Sonia, do povo Paresi Halití (MT), formada em Direito pela Universidade de Cuiabá, sempre atuou em questões indígenas. “Uma das maiores experiências foi com a portaria 313 em que envolveu a união de 12 etnias contra as várias normas que estavam em desencontro à população indígena. Foi muito mais do que estar em sala de aula”, disse.

Discriminação às mulheres

Se por um lado há índias que conquistaram seu espaço dentro do mundo dos não índios, há exploração de mão de obra daquelas que não tiveram a mesma oportunidade.

“Muitas índias trabalham como empregadas domésticas e algumas por não falar português ou não conhecer a legislação trabalhistas ganham salários mais baixos, tem jornada de trabalho maior. São exímias trabalhadoras que são exploradas” lamentou Miriam. Os casos são comuns nos grandes centros como Manaus, São Paulo e Campo Grande.

Apesar garantir os espaços no mercado de trabalho dos ‘brancos’, os índios ainda tem o estigma de preguiçosos e malandros.

Essa nódoa sobre a reputação dos índios se deve ao processo de colonização do Brasil. Os índios fugiram da escravidão imposta pelos europeus na época fugindo pelas matas adentro do interior do Brasil. Em seu lugar, trouxeram os negros africanos que não tinham a mesma sorte e por séculos viveram sob o jugo dos europeus.

“Nosso povo fugiu de ser escravo, de perder a nossa cultura. Milhões de índios foram assassinados. Somos pessoas trabalhadoras, mas como resistimos à escravidão, criou-se esse preconceito”






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