Uma das principais revistas científicas do planeta, a britânica Nature, publicou nesta quarta-feira, após meses de discussão, uma pesquisa sobre um vírus da gripe aviária modificado em laboratório. A versão criada por cientistas do Japão e Estados Unidos é transmitida mais facilmente.
Os pesquisadores liderados por Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Wisconsin-Madison, juntaram o vírus da gripe aviária com o H1N1 (suína). Após diversos vírus modificados, eles selecionaram alguns e infectaram furões com eles e analisaram o resultado. Contudo, os cientistas afirmam que o vírus criado não é letal para o ser humano - nem para os furões.
Dois artigos sobre a transmissibilidade do vírus da gripe aviária foram submetidos a avaliação em agosto para a Nature e sua principal concorrente, a americana Science. Eles ficaram "congelados" após um pedido do governo americano para que os resultados não fossem divulgados. O medo era de que as descobertas fossem usadas por terroristas para criar armas biológicas.
A discussão seguiu pelos meses seguintes com argumentos a favor e contra a pesquisa publicados em revistas científicas e encontros. De um lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) defendia a publicação. Do outro, órgãos de segurança do governo americano eram contrários. Várias opções foram discutidas, como censurar os principais pontos do artigo, ou distribuí-lo apenas a pessoas selecionadas.
"Um artigo que omite os resultados-chave ou métodos incapacita pesquisas subsequentes e revisão por pares. Além disso, depois de muita deliberação interna e externa, não podemos imaginar qualquer mecanismo ou critério para sensatamente julgar quem deve ou não ser autorizado a ver o trabalho. Também não acreditamos que qualquer informação restrita distribuída aos laboratórios universitários ficaria confidencial por muito tempo", diz o editorial da revista publicado hoje.
Segundo os editores da publicação, a pesquisa mostra sua importância ao deixar claro que o vírus seria capaz de causar uma pandemia. Os cientistas descobriram que apenas quatro mutações foram necessárias para o vírus ter aumentado seu potencial de transmissão. Três ajudam o parasita a se prender nas células de nariz e garganta - a gripe suína costuma atacar apenas células pulmonares, o que dificulta a transmissão. "Uma das mutações já foi identificada em vírus que circulam no Oriente Médio e Ásia, e há preocupação de que ele adquira mais mutações na natureza e se torne transmissível entre mamíferos", diz Kawaoka ao site do jornal britânico The Guardian.
"Em discussões com pesquisadores de biossegurança, houve uma notável unanimidade: se há um benefício para a saúde pública ou a ciência, publique!", diz a Nature. Pesquisadores apresentaram em março um pedido para que o outro artigo também fosse publicado.
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