Demóstenes e Cachoeira devem ser ouvidos por CPI ainda em maio
O plano de trabalho da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), lido nesta quarta-feira em reunião do grupo, determina que o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e o bicheiro Carlinhos Cachoeira serão ouvidos pelos parlamentares ainda em maio. O plano de trabalho do relator do caso, deputado Odair Cunha (PT-MG), que ainda precisa ser aprovado, prevê que Cachoeira seja ouvido pela CPI em 17 de maio e o senador, investigado em 31 de maio.
Segundo Cunha, a primeira etapa das investigações da CPI será focada em ouvir agentes de acusação dos réus - delegados federais e procuradores da União envolvidos nas investigações dos inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo. Em seguida, serão chamados a depor os réus para que apresentem sua defesa - entre eles, Demóstenes, Cachoeira e demais citados nos inquéritos.
Por fim, a comissão finaliza o relatório, em que deve identificar todos os personagens do esquema - chamado de "crime organizado" por Odair Cunha. Segundo o relator, a prioridade da CPI é "caracterizar a rede criminosa e desvendar as esferas de comando e funções exercidas por cada operador do esquema". A previsão do relator é que os trabalhos terminem em 4 de novembro deste ano.
O plano de trabalho da comissão não prevê, no entanto, a convocação do presidente da empresa Delta, Fernando Cavendish. A Delta é uma das construtoras com mais contratos com o governo federal (incluindo projetos do Programa de Aceleração do Crescimento). Segundo investigações da Polícia Federal, a Delta repassou dinheiro para as empresas fantasmas que abasteciam o grupo de Cachoeira. As denúncias culminaram no afastamento de Cavendish.
De acordo com Odair Cunha, a investigação sobre a Delta vai se restringir ao Centro-Oeste (que implicam os governadores de Goiás, Marconi Perillo, e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz). O depoimento do presidente da Delta Centro-Oeste, Cláudio Abreu, está previsto para 29 de maio. Abreu foi preso durante a Operação Saint-Michel, da Polícia Civil do DF, um desdobramento da Monte Carlo.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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