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Nacional
Quarta - 02 de Maio de 2012 às 18:58

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Parte dos caminhoneiros que passam por São Paulo está consumindo drogas como anfetamina, cocaína e maconha de forma constante.

É o que mostra pesquisa feita pela faculdade de medicina da USP que foi apresentada na semana passada pela primeira vez em seminário sobre segurança no trânsito promovido pelo Hospital das Clínicas.

O estudo, coordenado pela professora de medicina legal Vilma Leyton, coletou urina de 1.009 caminhoneiros, entre o final de 2008 e 2011, durante operações de saúde promovidas pela Polícia Rodoviária Federal.

Nas amostras de 90 (8,9%) deles havia resíduo das drogas --que podem ser detectadas caso tenham sido consumidas em até quatro dias antes do exame. Álcool praticamente não foi detectado, porque seus traços somem da urina em poucas horas.

A maior presença era de anfetaminas --drogas estimulantes conhecidas entre caminhoneiros como rebites--, que estavam presentes em 5,4% dos motoristas.

Para comparação, estudo mais recente do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Unifesp, diz que apenas 0,3% da população brasileira havia consumido estimulantes no mês da pesquisa.
A cocaína --que também, é estimulante-- foi encontrada em 2,6% deles e a maconha, em 1%.

"Os números são altos nessa classe de trabalhadores porque eles têm uma carga de trabalho maior e precisam se manter acordados para dirigir, principalmente à noite. Eles admitem que usam para ficarem mais tempo acordados", diz Daniele Mayumi, 27, mestranda da Faculdade de Medicina que estuda os dados para sua dissertação.

Ela diz que, nas entrevistas que faz com os caminhoneiros, eles dizem que a cocaína está mais acessível e barata nas rodovias, mas que o rebite ainda é facilmente encontrado em farmácias que não exigem receita médica, postos de gasolina, restaurantes e entre os colegas.

"Queremos alertar a sociedade e mostrar às autoridades a gravidade da situação. Anfetamina e cocaína são estimulantes que, quando perdem o efeito, fazem o motorista apagar --e aí ocorrem os acidentes de trânsito."

Segundo dados da PRF, houve 3.013 acidentes envolvendo caminhões nas rodovias federais paulistas em 2011 --21% do total. Não há estudos relacionando diretamente o uso das drogas aos acidentes nas estradas.

Não existem instrumentos no Brasil habilitados para detectar a presença de drogas entre motoristas --apenas o bafômetro, que mede álcool.

Outras 152 amostras de urina foram coletadas em uma operação de saúde promovida pela PRF na rodovia Fernão Dias, no último dia 18.

Os caminhoneiros mediram a pressão arterial, gordura corporal, frequência cardíaca, níveis de visão, audição e força, colesterol e glicemia. Receberam orientações de saúde e massagem.

Entre os caminhoneiros ouvidos pela Folha no local, todos negaram já ter feito uso de drogas --mas disseram que é comum entre seus colegas de profissão.

"Nunca usei: não adianta, quando acaba aquilo você apaga na hora e a tragédia está feita", disse Moisés Martins Máximo, 63, caminhoneiro há mais de 30 anos.

Marinaldo de Brito, 32, disse que um amigo chegou a se acidentar após ficar "alucinado por ficar muito tempo sem dormir".






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