O deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) afirmou nesta quinta-feira, em discurso no Plenário, que quer esclarecer "imediatamente" na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira as denúncias de ligação com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Segundo informações da Agência Câmara, Leréia afirmou que é "amigo pessoal" de Cachoeira, mas que não tem relação com a exploração de jogos ilegais que motivou a investigação sobre o empresário.
O deputado disse que uma investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR) já concluiu que não existem "elementos mínimos" que demonstrem que ele tenha de participado do objeto da investigação da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal.
O deputado disse que manifestou oficialmente ao presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e ao relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), o seu desejo de falar à comissão, seja "convidado ou convocado".
O parlamentar declarou que não assinou o pedido de criação da CPI apresentado pelo deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP) porque "sabia de seu envolvimento com o grupo", noticiado pela imprensa. Leréia informou, no entanto, que assinou o requerimento de criação da comissão mista proposta por senadores e deputados.
O líder do PSDB, deputado Bruno Araújo (PE), disse que, ao se antecipar, Leréia mostra que não tem nada a esconder. "É um ato positivo, que demonstra que ele quer ou procura esclarecer a sociedade sobre os fatos que o envolvem". Segundo Araújo, o PSDB vai aguardar o depoimento de Leréia na CPI para se posicionar sobre a situação do deputado.
Leréia não se manifestou sobre as denúncias divulgadas nos últimos dias de que ele teria usado de suas prerrogativas parlamentares para facilitar um visto internacional para a sogra de Carlos Cachoeira. O deputado também não falou sobre a denúncia de que teria feito compras pessoais com o cartão de crédito do empresário.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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