Cachoeira mantém negócios em MT há dez anos; PF mapeia passos
A Polícia Federal está investigando em Mato Grosso as irregularidades na Construtora Delta - , a “mina de ouro” do contraventor bilionário Carlinhos “Cacheiera”. A meta é descobrir o grau de envolvimento de políticos, empresários e funcionários públicos do Estado com o contraventor. Está comprovado, por exemplo, que o bilionário bicheiro, já tinha negócios com o Governo há pelo menos dez anos. “Cachoeira”, inclusive, teria realizado diversas viagens para Cuiabá, onde se encontrou com as mais diversas autoridades do Estado e do município.
As investigações estariam interligadas com a PF de Brasília e de alguns estados brasileiros para apurar, principalmente crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, ameaças de morte, fraudes em licitações, suborno, pagamento de propina, extorsão, sonegação fiscal e fraudes em obras irregulares.
“Cachoeira” vinha sempre na Capital. Uma investigação da Delegacia de Crimes Financeiros (Delefim) nasceu depois de um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) que apontava irregularidades nas obras de construção de trechos das BRs-163 e 364 na Serra de São Vicente, no Sul do Estado.
Esse negócio, inclusive, acabou numa trama que “derrubou” o economista Luiz Antônio Pagot da direção-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Por meio de esquemas políticos, que envolve o nome do deputado federal Welinton Fagundes, do Partido da República, classificado como um dos líderes do chamado “baixo clero” da Câmara dos Deputados, a empresa teria fugido das especificações técnicas da obra como forma de baratear os custos.
Outro nome que apareceu nos grampos telefônicos foi do senador Blairo Maggi, do PR. Escutas telefônicas da Polícia Federal ouviram o bicheiro e principal investigado na Operação Monte Carlo, teria pedido ao senador de Mato Grosso para acalmar os aminos de Luís Antônio Pagot. Demóstenes Torres temia que o ex-diretor executivo do DNIT, revelasse o esquema da Construtora Delta dentro do órgão, durante seu depoimento no Senado Federal. Blairo evitou falar sobre o assunto e, em nota, manifestou que que não tinha recebido nenhum pedido com este teor e que estaria aberto a qualquer esclarecimento.
Preocupado com a possível extensão do caso, o governador Silval Barbosa determinou que a Auditoria Geral do Estado realizasse uma auditoria em todos os negócios envolvendo a Delta. O Tribunal de Contas do Estado também montou uma “força tarefa” para investigar os negócios da empresa com o Governo e prefeituras.
Há mais coisas. Interceptações feitas pela PF revelam que o grupo de Carlinhos Cachoeira, planejava assumir o controle da Loteria do Estado de Mato Grosso (Lemat), sobretudo após a reeleição do governador Silval Barbosa. “Agora vamos implantar a loteria em Mato Grosso. Em Santa Catarina também foi bom com [o governador Raimundo] Colombo porque o presidente da loteria era o chefe da campanha de Colombo”, escreveu argentino Roberto Coppola, apontado como sendo consultor do bicheiro em e-mail a Adriano Aprígio de Souza, cunhado de Carlinhos Cachoeira. Silval, no entanto, publicamente, tratou o dialogo como “conversa de boteco”, mas mandou a Secretaria de Segurança Pública investigar se houve interferência do bicheiro.
Além de “Cachoeira”, a PF já mapeou também os passos do “homem de ouro” do contraventor – responsável por realizar negócios em Mato Grosso. Apontado como o “arquivo vivo” do esquema de pagamentos de propinas, Geovani Pereira da Silva está escondido em Miami, no Estado da Flórida, nos Estados Unidos. O “mestre” das trapaças envolvendo alguns bilhões de reais nos últimos ano esteve em Cuiabá, em pelo menos quatro vezes em companhia do chefe.
Geovani estaria pronto para colaborar com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada para investigar, no Congresso, segundo o advogado Calisto Abdala Neto, que tenta garantir a liberdade do cliente. Para a Justiça Federal e para a PF, o homem apontado como tesoureiro de Cachoeira é considerado foragido há quase dois meses. "Ele tem de responder por aquilo que ele fez” – disse o advogado.
A idéia da defesa de Geovani é mantê-lo "resguardado" até que a Justiça revogue a ordem de prisão contra ele. Para isso, o advogado impetrou habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, em Brasília, para anular a ordem de prisão, e deve entrar também com outro pedido de liberdade ao juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima, responsável por deflagrar a operação.
O tesoureiro tem muito a esclarecer. Um relatório do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF revelou que Geovani fez saques de R$ 15,4 milhões nos últimos dois anos das contas de empresas apontadas pelos investigadores como sendo de fachada.O contador fez mais de uma centena de retiradas das contas de cinco empresas, das quais tinha procuração para realizar tais movimentações.
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina.
O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
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