Casal pode ter errado dose de insulina de propósito, diz Alexandre Durante. Arthur Paes deixou Ribeirão Preto; mãe e padrasto do menino estão presos
Para advogado do pai de Joaquim, mãe teve "envolvimento indireto"
Natália e Longo estão presos desde domingo (10), após o corpo de Joaquim ter sido encontrado no Rio Pardo, em Barretos (SP). O menino foi enterrado na segunda-feira (11), em São Joaquim da Barra (SP).
Nesta terça-feira (12), a Justiça concedeu a quebra do sigilo telefônico da família de Joaquim. Segundo o delegado Paulo Henrique Martins de Castro, o pai do padrasto, Dimas Longo, deverá ser investigado depois que imagens de câmeras de segurança obtidas pela Polícia Civil o flagraram saindo de carro da casa em que mora em Ribeirão na madrugada em que a criança sumiu. A acareação - exposição face a face de depoimentos entre as partes - e a reconstituição do crime ainda dependem de novas provas, informou o delegado.
Arthur Paes, pai de Joaquim, é consolado no velório
(Foto: F.L. Piton/A Cidade)
Com base nas evidências obtidas pela polícia, o advogado do promotor de eventos Arthur Paes, pai de Joaquim, alega acreditar no envolvimento da mãe e do padrasto, na morte de Joaquim. “Alguns fatos são incontestáveis. Não tem como dizer que eles não sabiam de nada. As investigações mostram que os dois tiveram envolvimento. Ela talvez de maneira indireta ou omissa”, afirma Alexandre Durante. Segundo ele, a família da Arthur Paes pediu que ele não poupe esforços para identificar o culpado.
Durante diz não descartar a hipótese de o casal ter feito, de modo premeditado, uma aplicação incorreta de insulina na criança - que tomava o medicamento periodicamente por ser diabética - "para simular um suposto acidente". A caneta de aplicação, solicitada pela polícia, passará por análise técnica. "Tanto é que a polícia está investigando uma pesquisa sobre insulina feita pelo Guilherme na internet”, argumenta.
O advogado cita a falta de evidências de que o padrasto e a mãe tenham tentado socorrer a criança, seja chamando uma ambulância, seja dando ao menino um alimento rico em açúcar para compensar o excesso de insulina eventualmente aplicado. Também sustenta sua alegação com base no depoimento de Natália Ponte, que à polícia revelou que Guilherme Longo teria tentado se matar, no domingo (3), aplicando em si mesmo a insulina usada do tratamento de Joaquim. “Essa alegação de que o Guilherme teria tentado suicídio é muito conveniente. Caso ele tivesse errado a aplicação no Joaquim, o erro não justificaria a morte. Ele deveria ter acionado o resgate e não ter se livrado do corpo como algo que não precisasse mais. Mas nenhum pedido de resgate foi registrado.”
O advogado afirma que existe algo de errado no depoimento dos dois, que até antes de serem presos alegavam inocência. Ele diz que a mãe foi negligente e tratou a situação com descaso. “Você tem a guarda de uma criança, precisa ministrar um medicamento periodicamente, admite que saiu para comprar droga e deixou a porta aberta. Tem algo de muito errado nisso. (...) Justamente nesse dia [5 de novembro], a Natália alega que dormiu primeiro. São fatos que precisam ser muito bem apurados, mas que demonstram que existe algo errado”, diz.
"Nunca perdeu a fé"
Desde o sumiço do garoto, na terça-feira (5), Arthur Paes permaneceu em Ribeirão Preto, onde distribuiu, incansavelmente, cartazes com a foto do filho e procurou pela criança em vários locais da cidade. Diariamente, ele fazia vários apelos à população. “Ele sempre teve a esperança de encontrar o filho vivo. O Arthur nunca perdeu a fé”, disse o advogado.
Quanto à relação com a mãe e com o padrasto, Durante conta que Joaquim nunca relatou nenhum tipo de maus-tratos para o pai e que os problemas eram secundários nos encontros de pai e filho. “O Joaquim era uma criança, mas isso não significa que não existia problema na convivência do casal. Uma criança que vê o pai a cada 15 dias, quando o encontra, só quer brincar e bagunçar e não falar sobre problemas”, disse.
Investigação
O corpo de Joaquim Ponte Marques, de 3 anos, foi enterrado na tarde de segunda-feira no cemitério municipal de São Joaquim da Barra (SP), cidade da família da mãe. Ele foi encontrado no domingo, boiando no Rio Pardo, em Barretos, a 121 km da casa da família em Ribeirão Preto, de onde ele havia desaparecido, na madrugada do dia 5 de novembro.
Defesa acredita que a mãe de Joaquim esteja
envolvida na morte (Foto: Eduardo Guidini/ G1)
Em novo depoimento após a prisão, Natália Ponte afirmou à polícia que Longo teria tentado se matar no domingo (3), dois dias antes do desaparecimento do garoto, aplicando em si mesmo a insulina que era utilizada no tratamento do enteado, que sofria de diabetes.
Para o promotor de Justiça, Marcus Túlio Nicolino, a afirmação demonstra que Joaquim pode ter sido morto por superdosagem do medicamento no sangue. Isso porque Natália conta que o padrasto teria mentido quanto à dose que usou na tentativa de se matar. Primeiro, Longo contou ter aplicado duas unidades da substância em si mesmo. Entretanto, após a mãe entregar à polícia os medicamentos e o aparelho usado na aplicação, que estavam na casa da família, o marido teria contado outra versão, afirmando “ter feito uma autoaplicação de 30 unidades de insulina.”
Natália também afirmou que estava sendo ameaçada de morte por Longo porque queria se separar dele, já que ele havia voltado a usar cocaína. O casal, segundo o promotor, brigava com frequência porque Longo tinha ciúmes de Joaquim. Durante uma dessas discussões, ele chegou a dizer que jogaria o filho do casal, um bebê de 4 meses, contra a parede.
Joaquim Ponte, de 3 anos, foi encontrado morto no Rio Pardo (Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)
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